Trinca Ferro

Como eu faço

Esse ano iniciarão as mudanças quanto ao tipo de manejo reprodutivo. O grande Procópio Lumertz já cria eles assim, mesmo porque possui criatório comercial da espécie. Vamos lá a reprodução. Veja como procedo!

Ambiente: viveiro de 1m de largura, 2m de altura e 1m de comprimento. Quanto as interpéries, nao há problema algum. Pelo menos o ninho e o comedouro devem estar protegidos. O chão pode ser de terra, concreto, madeira…etc!Manter apenas um casal por recinto. Deixo os dois apenas se escutando durante a maior parte do ano. Lá pelo final de agosto, a femea já é colocado no viveiro. E continua só ouvindo o macho. Em outubro começo a mostrar o macho. O normal é comessarem a criar neste mês. Tem gente que deixa o casal junto o ano inteiro e cria normalmente. O temperamento de ambos é muito agressivo. Até mesmo a gala é feita com agressividade. Um leigo acharia que estariam brigando.

Ninho: podem ser usados vários tipos, cesta de vime, de corda, bucha vegetal, xaxim, porongo cortado ao meio, até mesmo um ninho abandonado de sabiá. É interessante camuflar o ninho com algum tipo de folhagem artificial. Para construção do ninho utilizam variados tipos de raízes, sendo a da orquídea excelente, devido a maciez do material. Outros materias, como piaçava, fibra de palmeira, raíz de capim são bem aceitos. Para forração, sisal e crina de cavalo, nesta última temporada em vez da crina, utilizei corda varal preta. É idêntica a crina. A grande vantagem é a higiene, pode se lavar o material, podendo até mesmo ser reaproveitado em outras chocas. A verdade é que o cardeal não é muito exigente para a construção do ninho. A parte complicada é a nutrição dos ninhegos.

Alimentação: o cardeal é granívoro, sua semente favorita é o alpiste. Deve se tomar cuidado quanto ao emprego do painço na mistura. A ave tem forte tendência a engordar, inviabilizando a reprodução, pois a gordura cobre parte da cloaca. Ele complementa a dieta com frutas, legumes e verduras. A partir de agosto torna-se muito voraz o apetite por insetos. Torna-se essencial ajudar a femea no trato da prole. Existem excelentes papas no mercado, como a Babyzoo. Entretanto, existem várias receitas caseiras. Em média a papa é servida 4 vezes ao dia, isso pode variar dependo da quantidade de filhotes. Digo, nao é nada fácil cuidar de um quarteto. Eu particularmente optei pelos cupins, era no minímo 300 por dia, além da farinhada úmida, sempre feita na hora de sevir, trocada duas vezes ao dia. Utilizei ovo de pato. Aos 11 dias as penas começam a ganhar a cor branca, mais tarde as penas da cabeça tornam-se alaranjadas. Nessa época, os pais sao muito zelosos com os filhotes. Quando se pega o filhote na mão, a fêmea parece estar gritando: soltem meu filho!!! Não podem ver de forma alguma outro da mesma espécie, senão, a fêmea interrompe o choco, ou trato, ou ainda acontece o pior, joga os filhotes fora do ninho. No geral, a femea de cardeal é uma boa mãe, e o macho um bom pai.

Finalizando, acho que me alonguei demais. A grande dificuldade da criação do cardeal está na alimentação dos filhotes, nesse ponto são muito exigentes. Aspectos, como acasalamento, contrução de ninho, entre outros, são relativamente fáceis de serem superados.

 

Guilherme Ehardt

 

Fisiologia do canto das Aves

Considerações sobre o canto

Por que cantam as aves

Quando um pássaro abre o bico e lança o seu canto, ele não esta executando um canto voluntariamente artístico. Seu objetivo é outro : ele está de alguma forma se expressando ou manifestando um sentimento específico. E como cada uma das milhares de espécies canoras possui o seu linguajar próprio ao ornitólogo de ouvido experiente se torna fácil identificar a presença desta ou daquela espécie, mesmo que a ave esteja invisível no emaranhado vegetal.

Aliás, nos cada vez mais sofisticados laboratórios de bioacústica, as gravações das vocalizações tem inclusive permitido aos estudiosos das aves a diferenciação de espécies gêmeas cujas plumagem e morfologia davam margem a classificações errôneas. E nesses mesmos centros de pesquisa, as vozes das aves estão sendo dessecadas, para melhor possibilitar a cmpreensão dos fenômenos da vocalização e da música instrumental.

Fisiologia do canto

Enquanto o homem e outros mamíferos possuem sonoridade a partir da laringe, a caixa de voz dos passeriformes se situa na siringe localizada na parte inferior da traquéia. Descobriram os técnicos em bioacústica que a capacidade daquele órgão se reflete na amplitude auditiva da ave.

Cada espécie de ave canora reage melhor às freqüências de das quais se compõe sua própria vocalização, a qual abrange até oito oitavas. Segundo Crawford Greenewalt autor de Bird Song: Acoustics and Physiology, ” os passaros não possuem ressonâncias propiciadas pelas cavidades humanas”. Com isto, os estudiosos da fisiologia do canto dos pássaros chamam a atenção para um fato importante. Enquanto nas aves a siringe é de certa forma o único aparelho formador do som, nos humanos, além da laringe, entra em jogo a complexidade do aparelho fonador que modula o timbre.

Mesmo assim as aves conseguem realizar façanhas maravilhosas, inclusive emitir 45 notas por segundo. E, no tocante a duração do canto, certas aves conseguem a proeza de estende-lo por mais de sete minutos. Isto só é possível porque ela respira enquanto canta, ficando esta ação expressa no ritmo. Há no entanto pássaros que produzem música instrumental, ou seja, aquela que a siringe não é chamada a participar.

A manifestação sonora é produzida pelo estalar dos bicos, pelo chocar de penas e mesmo nas vias respiratórias — sem interferência da siringe — através de almofadas de ar que certas aves apresentam no tórax. Nestes casos, a comunicação acústica prescinde a siringe e inexiste vocalização até mesmo nos atos de corte e sedução que precedem o acasalamento.

Todo pássaro canoro tem inscrito em seu código genético as instruções que lhe permitem emitir as vozes de chamada, manifestações sonoras básicas como gritos ou pios que as caracterizam.

O canto e suas variantes são aprendidos com indivíduos adultos da mesma espécie, e certos pesquisadores chegam a afirmar que um pássaro jovem necessita de cerca de cem dias para dominar a vocalização característica de sua espécie. Deste modo fica claro que o estímulo social faz parte do processo de aprendizado.

Sem estímulo os pássaros não aprendem os cantos. E, tanto isso é verdade que a falta de exemplos sonoros pode levar a deformações. Não são raras as aves que afastadas do convívio de seus pares acabam adquirindo o meio de expressão de outra espécie. Tal fato não deve ser confundido com a facilidade que certos pássaros tem de arremedar a expressão vocal alheia.

É o caso, por exemplo, dos papagaios que chegam a imitar a voz humana. Para muitos ornitólogos o fenômeno, deve ser creditado a uma relação intima e constante. Na natureza o gaturamo-verdadeiro (Euphonia violacea) e capaz de imitar a voz de até dezesseis outras aves. No entanto, é preciso esclarecer que estas imitações se dão sempre ao nível da chamada, que a ave introduz dentro da linha de seu canto. Pois quando ela precisa lançar mão do grito de advertência diante de uma situação que lhe é diz respeito, jamais utilizará a chamada de outra espécie, mas a que lhe é característica.

As manifestações sonoras das aves são elementos de comunicação com membros de sua própria espécie, em momentos específicos de convívio social. Já esta provado que um grito de alarme solto por um pássaro não se destina a outros indivíduos de sua espécie, mas a ele próprio. Não há intenções de solidariedade social, de advertência para o grupo.

No entanto, como a vocalização comporta em si mesma noção de perigo, e pode ser decodificada por outras aves, a presença do inimigo não é apenas detectada por indivíduos da mesma espécie, como por outros que com ela convive no mesmo habitat.

Embora ocorra uma tendência de padronização do canto, não raro dentro de uma mesma espécie, pode-se verificar dialetos em raças que se distanciaram geograficamente. Em alguns casos, os dialetos se afastaram tanto da manifestação do canto que uma ave não reconhecerá o canto de sua própria espécie gravado em outra população; reconhecerá somente chamadas, que por serem geneticamente herdadas, permanecem inalteradas.

O canto dos pássaros caracterizado pelo acúmulo de série de notas diferentes vem a ser uma manifestação típica de domínio territorial. Com ele a ave adverte suas semelhantes sobre limites de seu território e atrai a fêmea para função de perpetuação da espécie.

Na época do acasalamento, alem dos machos, as fêmeas se põem a cantar em duetos de rara harmonia e complexidade. O canto parece ser uma resposta à química hormonal que se opera em seus organismos. Também na época da reprodução verificam-se os cantos da madrugada e do crepúsculo, inteiramente diferente dos padrões emitidos durante o restante do dia.

As aves canoras não se limitam a emitir suas vozes peculiares apenas na época de sua procriação. Os cantos mais ricos e variados em motivos não estão presos aquele impulso vital, nem se prendem a nenhuma intenção comunicativa. Na verdade os cantos que nós mais apreciamos são os lançados pelas aves ainda jovens, durante o aprendizado, ou em indivíduos cujo desenvolvimento sexual declinou. A vocalização é então entoada em meia-voz e recebe a designação de canto secundário.

Em nosso território, inúmeras aves são as espécies canoras mas para que todas elas continuem a cantar é preciso garantir a integridade de seus habitats.

Fonte : Revista geográfica universal

Nº 130 setembro de 1985

Escrito por Revista Geográfica Universal – Reprod. Ivan.S.Net, em 15/3/2004