Entenda quem quiser entender

Esclarecimento sobre a Legislação

Vamos falar de novo nesse assunto porque muita gente ainda não entendeu com exatidão, o problema do segmento ornitofílico. Desde do ano de 1984 que vimos negociando com o IBAMA – ex-IBDF, nossas proposições que sempre foram, antes de mais nada, defender os legítimos interesses de nossa classe, a dos passarinheiros: sejam eles hobistas, ornitófilos, mantenedores ou criadores. Havia e há a Lei de Proteção à Fauna 5.197 de 1967 que diz: Os animais de quaisquer espécies, em qualquer fase de seu desenvolvimento e que vivem naturalmente fora do cativeiro constituindo a fauna silvestre, bem como seus ninhos, abrigos e criadouros naturais, são propriedade do Estado, sendo proibida a sua utilização, perseguição, destruição, caça e apanha. Isto está escrito na Lei que está em vigor, ninguém em especial é responsável. Nós, segmentos da sociedade só temos é que cumprir essa e todas as outras determinações das leis existentes. Assim, no ano de 84, a regulamentação existente nas Portarias anteriores a essa data, emitidas pelo ex-IBDF a respeito regulamentação da citada Lei, não satisfazia as necessidades de sobrevivência tranquila de nosso hobby de: criar e manter pássaros nativos domesticamente. Estávamos numa situação difícil: para viajarmos a torneios éramos obrigados a levar no bolso, um telex do IBDF, autorizando, exclusivamente, Bicudos e Curiós para participarem dos eventos. Quem reproduzia, não podia transacionar. Sobre os outros pássaros nem pensar, não havia qualquer citação para participação em campeonatos, como é o caso de Canário-da-Terra, Coleiro e Trinca. A muito custo, conseguimos convencer os técnicos do IBDF que realmente fazíamos e faríamos um importante trabalho de preservação, o que realmente vem acontecendo.

A questão central então era: O anilhamento. Teríamos que provar em cada pássaro a sua respectiva origem. Não podíamos mais capturar, obedecendo a lei, essa era a cobrança, já naquela época de meados de 1980. Era isso que os técnicos exigiam de nós para que publicassem alguma Portaria que viesse efetivamente regulamentar nossas atividades. E assim, podermos seguir participando do torneios, reproduzir e transacionar nossas crias e nossos pássaros de anilhos fechados. Foi isso que nós, dois, então, presidentes de federação, as atuais FEBRAPS e FENAP, as que existiam. representando os passarinheiros prometemos ao ex-IBDF, já em 1988. Colocamos que precisávamos de mais tempo para que anilhássemos com anilha aberta os pássaros que estavam já em poder das pessoas. Isto é: todos os pássaros canoros, especialmente aqueles que participam de torneios de canto. Conseguimos, com muita dificuldade, que eles concordassem que pássaros de anilhas abertas participassem de torneios, falamos da sua longevidade e aí, logramos êxito em nossa pretensão. A portaria 131/88 dizia em seu Art. 23: As federações e clubes, terão o prazo de dois anos para se adaptarem às normas desta Portaria, a partir de sua publicação – o prazo final seria então em 1990. Deu no que deu, em 1990, não havia condições de se cumprir a exigência, por muitas razões: principalmente pela desinformação das pessoas sobre a correta interpretação da Portaria. Fizemos conjuntamente com o IBAMA, outro acordo, a Portaria 631/90 e conseguimos mais dois anos de prazo para a questão do anilhamento. Daí, se poderia anilhar com as anilhas abertas até o ano de 1992. Exclusivamente, para as matrizes sem anel que estavam em nosso poder dos sócios até o ano de l988. Estavam presentes, ali em l990, as atuais FEBRAPS, FENAP, FSB e FOG. Nessa época, os técnicos do IBAMA nos cobravam muito sobre essa questão central de toda a discussão: a correta utilização da anilha. É lógico e fácil deduzir, que: se não fosse o problema da anilha, não precisaria existir toda essa regulamentação envolvendo Federações, Clubes e Sócios. Na Portaria 631, conseguimos manter a participação em torneios dos pássaros de anilhas abertas. Logicamente aqueles que seriam anilhados até a data de 1992 e que eram matrizes sem anel desde 1988. Esse era o acordo a que tivemos que nos submeter. Aí, em 1996, fomos convocados para a negociar uma terceira Portaria do nosso segmento, nessa já estavam lá os representantes de todas as Federações ora existentes. Saiu, então a Portaria 57 de 11.07.96, que dizia em seu art. 7 & 3o: Todos os passeriformes da fauna brasileira possuidores de anilhas abertas, somente poderão participar de torneios, exposições e serem objeto de transação, bem como transitar fora do domicílio do mantenedor, até 31 de dezembro de 1999, ficando desta maneira permitida, a partir do ano de 2000, os torneios e exposicões somente para passeriformes portadores de anilhas fechadas e invioláveis.

Depois de muita discussão, obtivemos esse acordo. O IBAMA queria que o prazo fosse menor. Foi difícil, mas conseguimos. Todos nós representantes dos passarinheiros, sentados à mesa de negociação. Diante das circunstâncias, foi o melhor que poderíamos ter obtido. O IBAMA queria, dessa forma, fechar de uma vez por todas a discussão sobre anilha aberta. E nós não tínhamos mais argumentos válidos para protelar a sua utilização. E assim, a discussão estaria, provavelmente, encerrada. Depois disso, o IBAMA, pressionado pelo Ministério Público e por inúmeros pareceres internos, publicou a Portaria 99 que limitou para o final da temporada de 97 o término da utilização da anilha aberta para os pássaros em torneio. . O que nos pegou de surpresa. Sabíamos que por causa da pressão do Ministério Público o & 3o do art 7o acima referido seria mudado, especialmente quanto à transação dos passeriformes. O que fazer, quanto a isso, teríamos que aceitar. Agora, a participação em torneios, não, de maneira alguma. Aí, é aquele caso, muitos que nada devem terão que pagar. Não é encurtando o prazo que vamos resolver o problema. É difícil explicar o porquê disso. Os passarinheiros como um todo, não estão devidamente orientados. Falta muita divulgação a respeito, temos cobrado, insistentemente. Só com o esclarecimento generalizado teremos a colaboração e a concordândia das pessoas. Acreditamos que o IBAMA vai encontrar uma forma de manter o acordo da Portaria 57, o prazo, só para participação em torneios, até o ano 2.000. Para nós, nesse momento, seria o mais sensato. Depois que 1988 para cá, houve um crescimento muito grande no segmento. Mas mesmo assim, estamos falando, somente em defesa daqueles que utilizaram corretamente a anilha até o ano de 1992, e que são muitos. Quem é que vai negar que em termos de reprodução doméstica evoluímos muito. Merecemos um crédito e um respeito maior de todos, o IBAMA saberá compreender isso. Quem sabe num futuro bem próximo tenhamos condições de efetivamente mostrar à sociedade que devemos ser respeitados pelo trabalho sério que fazemos em favor da preservação de nossas aves. Que o bom senso prevaleça sempre. Entenda quem quiser entender.

Escrito por Aloísio Pacini Tostes, em 2/9/2003

Criação

Iremos falar agora sobre a crição do “Azulão”, compreendendo as três formas diversas ocorrentes no Brasil. Como sempre, vamos adotar a classificação de Sybley, que cita quatro subespécies: Cyanocompsa cyanoides, C. brissonii, C. parellina e C. glaucocaerulea. Eles existem em quase todos os países da América.

Consideramos como o C.brissonii, o existente de Goiás em direção ao Sul do Brasil até a Argentina, 16 a 17 cm – mais longí­neo, o macho adulto possui penas azul escuro e fêmea de penas marrom cor de terra; o C.cyanoides o do Nordeste brasileiro até a América Central, 16,5 a 17,5 cm – mais corpulento, o macho adulto possui penas azul claro e a cabeça bem esbranquiçada; a fêmea de penas marrom claro; o C. glaucocaerulea, é o AZULINHO, menorzinho de 13 a 14 cm, e população bem mais restrita, ocorre no Sul do Brasil de Santa Catarina até a Argentina.

O C. parrellina existe na América Central e não no Brasil. Estão, como não podia deixar de ser, também ameaçados de extinção, especialmente pela caça predatória e pela degradação do meio-ambiente. No Centro Sul do Brasil, procriam na natureza, do iní­cio da primavera até o iní­cio do outono, ou seja; de setembro a março. A partir desta época, param de cantar, fazem a muda anual e juntam-se em bandos, os adultos e os jovens. Este procedimento os ajuda na tarefa de alimentação nos meses de escassez.        Seu ambinte natural preferido são as grotas, os brejo, as bordas de matas e as florestas ralas, sempre por perto de muita água.

A verdade é que eles não são exigentes com o habitat, adaptam-se bem em variados tipos de locais. Quando no processo de reprodução, torna-se um pássaro extremamente territorialista, cada casal demarca a sua área e não permite a presença de outros adultos da mesma espécie; o macho canta intermitentemente a todo volume para delimitar o seu espaço.

O AZULÃO, além de ser um pássaro belíssimo, é também muito apreciado pelo seu canto maravilhoso. De modo recente, tem despertado interesse para a criação doméstica. Daí­, como se faz com os outros passeriformes é preciso a intensificação da reprodução para suprir a demanda.

A Lei 5.197, está em vigor e ela diz que o animal silvestre é propriedade do estado e é proibida a sua captura. Contudo, notadamente com objetivos de preservação, a sociedade permite que se conviva com eles desde que sejam nascidos em criatórios domésticos, e os que estão já cativos são plenamente suficientes para o incremento da reprodução.

As Portarias do IBAMA, a 118 (para profissionais) e a 057 (para hobistas), estabelecem condições para a procriação. Só falta, então, entrarmos em ação e mãos à  obra, para reproduzir o AZULÃO.

Quem sabe, no futuro, poderemos efetuar os necessários repovoamento; com este pássaro é muito fácil fazê-lo. Tem-se tido notícias de vários criadores, embora de criação ainda um tanto esparsada; o certo é que ele procria com muita facilidade, é de fácil manejo, muito dócil e manso; dos passeriformes, é o mais manso de todos, muitas vezes, aceita ser pego pela mão de determinada pessoa e não demonstra nenhum medo. Dificilmente suas unhas crescem. Na natureza, a alimentação é muito variada, consomem semente de capim de preferência, ainda verdes; pequenas frutas silvestres e adoram todo tipo de insetos, o bico é forte mas aprecia muito as comidas macias. Seu canto é muito mavioso e pode ser dividido em dois tipos: a) o canto normal “compõe-se de uma frase de cerca de 10 notas repetindo um som tipo tifliu’’- em variados tons, este é o canto usual e corriqueiro; são inúmeros dialetos, cada região tem um, ou mais longo ou mais melodioso que o outro; b) a surdina, mata-virgem ou alvorada que querem dizer a mesma coisa – neste caso ele chega a cantar certa de 2 minutos sem parar repetindo um módulo de mais ou menos 6 notas “ti-é-té-é-tuééé”, como exemplo.

A surdina é, sem dúvida, um dos sons mais bonitos que se pode ouvir de um pássaro cantando. O AZULÃO, consegue ir alternando o tom e o volume das notas à medida que vai cantando, dando a impressão a quem escuta que está longe e depois mais próximo. Ele não aprende o canto de outro pássaros, pelo contrário, o curiá principalmente é que assimila muito bem o seu canto.

Nos pequenos anúncios deste AO, está lá a gravação de “Carbó”, que apresenta os dois tipos de cantos mencionados acima. Considera-se que o melhor canto é o oriundo do Estado do Paraná. No Rio Grande do Sul, há torneios de qualidade de canto e de fibra, sob os auspácios da FOG. Vive, se bem tratado em ambientes domésticos por volta de 20 anos.

A alimentação básica de grãos deve ser: alpiste 50%, painão 20%, aveia 10%, arroz em casca 10% e niger 10%. Dois dias por semana administrar polivitamí­nico tipo Orosol, Rovisol ou Protovit, este é  base de 2 gotas para 50ml d’àgua. Não recomendamos a utilização de verduras de espécie alguma, provoca diarréia e o AZULÃO é muito susceptí­vel a este mal.

Para suprir suas necessidades nutricionais o mais importante é fazer a farinhada e ali se ministrar grande parte dos ingredientes necessários à  saúde da ave. Pode ser elaborada da seguinte forma: 5 partes de milharina, 1 parte de germe de trigo; 1 parte de farelo de proteína de soja texturizada; 4 colheres de sopa de suplemento F1 da Nutrivet para um quilo; 1 gr de Mold-Zap para um quilo da mistura; 1 gr. de sal por 1 quilo da mistura; 2 gr. de Mycosorb por quilo, e 2 gr de Lactosac (probiótico). Após tudo isso estar bem misturado, coloque na hora de servir, duas colheres de sopa cheias dessa farinhada uma colher de sopa cheia de Aminosol. Importante também, ferver durante 20 minutos os grãos alpiste, painço, arroz em casca, lavar bem e misturar à farinhada.

Quando houver filhotes no ninho adicione o ovo cozido. Outra mistura importante deve ser feita com farinha de ostra 20%, Aminopan 30% e areia 50%. É preciso, também ministrar inseto vivo, tipo larvas de tenébrio, à  base de 5 de manhã e 5 à  tarde, por filhote. Em suma, o AZULÃO consome quase de tudo, é muito fácil alimentá-lo adequadamente. Os grandes problemas deles são: a diarréia inespecí­fica e a muda encruada decorrentes, quase sempre da alimentação inadequada, é só corrigir, conforme discriminado acima. Além disso, são muito propensos a serem afligidos por ácaros especialmente de penas, utilize Permozim para combater. Só falta, então a escolha do local apropriado, ele deve ser o mais claro possí­vel, arejado e sem correntes de vento.

A temperatura deve ficar na faixa de 20 a 30 graus Celsius e a umidade relativa na faixa de 40 a 60%. A época para a reprodução no Centro Sul do Brasil é de setembro a fevereiro, coincidente com o perí­odo chuvoso e com a choca na natureza. Pode-se criá-los em viveiros, grandes ou pequenos, todavia não o aconselhamos. Em viveiro, o manejo é difí­cil e controle do ambiente impossível, ali os filhotes costumam cair do ninho e morrem. Para quem optar por utilizar gaiolas – que têm a relação custo/benefí­cio menor – elas devem ser de puro arame, com medida de 60cm comprimento x 40cm largura x 35 cm altura, com quatro portas na frente, comedouros pelo lado de fora para dentro da gaiola, e com um passador lateral. A do macho pode ser a metade disso. No fundo, ou bandeja da gaiola, colocar grade que terá que ser lavada e desinfetada uma vez por semana, no mí­nimo.

Utilizar ninhos, de preferência de bucha, de diâmetro 7 cm e 5 cm de profundidade no centro. Não esqueça de pendurar bastante raiz de capim e pedaços de corda de sisal para estimular a fêmea.

Sabe-se que uma fêmea está pronta quando ela começa a voar muito, a arrancar papel do fundo, carregar capim no bico e levá-lo para o ninho. No manuseio do macho, o melhor é colocá-lo para galar e imediatamente afastá-lo para outra gaiola, assim pode-se utilizar um macho para até 6 fêmeas. Elas podem ficar bem próximas umas das outras em prateleiras, separadas por uma divisão de tábua ou plástico, mas não podem se ver, de forma alguma. Senão, matam os filhotes ou interrompem o processo do choco, se isto acontecer.

O número de ovos de cada postura é quase sempre 2, às vezes 3. O filhote nasce aos treze dias depois de a fêmea deitar e sai do ninho aos dezesseis dias de idade podendo ser separado da mãe com 35 dias.

Importante a administração de Energette, através de uma seringa graduada, no bico dos filhotes enquanto eles estão no ninho para ajudar a fêmea no tratamento. Pode-se trocar os ovos e os filhotes de mãe quando estão no ninho. As anilhas serão colocadas do 7º ao 10º dia de vida, com diâmetro de 3,0 mm – bitola 4, a ser adquirida no Clube onde seja sócio.

Cada fêmea choca 4 vezes por ano, podendo tirar até 8 filhotes por temporada. Quase todas as AZULONAS são excelentes mães, cuidam muito bem dos filhotes, por isso, muitos criadores as utilizam como babás para criar filhotes de bicudos. Fundamental, porém, é que se tenha todo o cuidado com a higiene. Lembremos que os fungos, a coccidiose e as bactérias são os maiores inimigos da criação, e têm as suas ocorrências inversamente relacionadas com a higiene dispensada ao criadouro. Armazenar os alimentos fora da umidade e não levar aves estranhas para o criadouro antes de se fazer a quarentena, são cuidados indispensáveis.

Como recado final, confiamos que todos aqueles criadores que apreciam este maravilhoso pássaro, passem efetivamente a se preocupar com a reprodução deles e que com o respectivo aprimoramento genético buscando conseguir exemplares de alta qualidade e que assim se possa combater o tráfico ilegal, como também o respeito da sociedade pelo real trabalho de preservação executado.

Agradecemos pelas informações recebidas dos criadores Claro Santos (0XX55) 5121177 e Antonio de Moraes Neto (0XX12) 3512429, bem como do Diretor da FOG, Fábio Souza Jr (0XX51) 3214326.

Escrito por Aloí­sio Pacini Tostes, em 2/9/2003