Postagens relacionadas com Ornitofilia

Curiós em Santa Catarina

A importância do Canto Florianópolis

OSWALDO MARICATO – Revista Globo Rural de setembro 2003

Criar curiós é paixão antiga para os manezinhos, como são conhecidos os florianopolitanos da gema, nascidos na ilha de Santa Catarina. Dizem até que, para reconhecer um deles, basta conferir se o sujeito tem o dedo indicador em forma de gancho, de tanto segurar na alça da gaiola para passear com o passarinho. A história é verdadeira apenas em parte. Qualquer passarinheiro de verdade e manezinho legítimo sabe que gaiola não se carrega pela alça com o dedo, mas pela base, com a mão espalmada. Sair com o curió faz parte do treinamento básico para os acirrados torneios de canto que volta e meia movimentam Florianópolis. ‘Curió é igual criança: fica faceiro quando sai para dar uma volta. Aí ele canta melhor, com mais alegria’, diz o criador Aldo Machado. ‘E o passarinho também precisa se acostumar com o mundo para não estranhar quando tiver de sair de casa para competir.’

CURIÓDROMO Torneios de canto de curió existem em todo o Brasil, do monte Caburaí (RR) ao Arroio Chuí (RS). Mas só em Florianópolis existe curiódromo, uma arena especialmente construída para abrigar esse tipo de competição em suas diversas modalidades. Além disso, os criadores de Santa Catarina estão conseguindo resgatar o canto nativo dos curiós que, até décadas atrás, ainda viviam em estado selvagem na faixa de Mata Atlântica que ia do município de Palhoça a Camboriú. Chamado de canto Florianópolis, ou canto Catarina, é tido como um dos mais belos sons que um curió pode emitir. E que por pouco não se perdeu. ‘O canto Florianópolis é mavioso, melodioso, agradável ao ouvido’, diz o ornitólogo Aloísio Pacini Tostes, um dos maiores especialistas em pássaros no país e presidente da Cobrap – Confederação Brasileira dos Criadores de Pássaros Nativos.

Segundo o criador Machado, curió é que nem criança. Fica faceiro quando sai para dar uma volta, e aí canta melhor. Para os entendidos, o canto Florianópolis tem duas características que o tornam tão especial. Uma é o que os criadores chamam de alteada de canto, um assovio em que o curió repete duas notas que mais ou menos se parecem com um ‘tiui-tiui’, algo único entre os cantos brasileiros. A outra característica é o arremate, apelidado de pandeirinho pelos aficionados, que pode ser traduzido como três assovios bem rápidos e curtos com os quais o passarinho encerra o canto, um ‘qui-qui-qui’ de deixar maravilhados os juízes das competições, pois nem todo curió consegue acertar essa parte do canto. ‘De tão difícil de o passarinho aprender, o pandeirinho é opcional, segundo o regulamento. É a cereja do bolo’, explica Dirço Amaral, dono do criadouro Biguaçu, feliz da vida com seus curiós Regente e Guri, capazes de executar o canto Florianópolis à perfeição, com ‘qui-qui-qui’ e tudo.

No Brasil chegaram a ser catalogados mais de 100 tipos de cantos regionais, como o Florianópolis, o Paranaguá, o Paracambi, o Vivi Tetéu e o Vovô Viu. Quando os curiós viviam em estado selvagem – situação que hoje praticamente só existe em algumas regiões do Norte e Nordeste – o canto se mantinha geração após geração. Mas cantos como o Florianópolis começaram a correr risco de extinção quando ficou mais fácil encontrar curió em gaiola do que na mata. Para formar bons competidores, os criadores punham os filhotes a ouvir cantos gravados em fitas cassete ou em CDs, para que os curiozinhos ouvissem direitinho como teriam de cantar. Acontece que, mais organizados, os criadores paulistas saíram na frente e impuseram ao país o chamado canto Praia Grande, originário do litoral de São Paulo, que logo se tornou padrão nacional. ‘Na verdade, o canto Praia se tornou uma grande indústria, que por pouco não engoliu os diversos cantos regionais’, diz Jorge Guerreiro Heusi, dono do Sítio do Curió, um dos criadouros especializados no canto nativo.

Escrito por Oswaldo Maricato, em 8/10/2003

Plano de Manejo Sustentado de Aves Nativas

Uma solução ???

Aloísio Pacini Tostes – Ribeirão Preto SP

O tema continua, infelizmente enquanto não encontrarmos saída inteligente e exeqüível para a questão da preservação de nossas aves brasileiras, não há como falar de outros aspectos que envolvem o problema. O que temos até agora presenciado é cada segmento ou cada grupo de interesse organiza palestras, seminários ou outros eventos escritos em inglês para tentar conseguir espaço, marcar posição ou melhorar sua própria imagem. Mesmo que muitas vezes haja a melhor das intenções ou honestidade de propósitos, ainda não vimos nenhum real resultado positivo em tudo que constatamos, lamentavelmente.

A degradação ambiental crescente continua de forma avassaladora, o desastre ecológico que fizemos nos últimos cinqüenta anos nesse País é de estarrecer; o pior , não há sinais que haverá um arrefecimento, pelo contrário as perspectivas são negras; o aumento gradativo da população mundial e a conseqüente busca na exploração de áreas rurais intactas por lavouras racionais altamente poluidoras; a poluição das águas dos rios; as queimadas destruidoras de grandes áreas de vegetação nativa; a alteração do clima e de demais condições ambientais; o consumismo exagerado e cada vez maior das grandes potencias; tudo isso está nos levando para a situação inexorável do grande perigo de se exaurirem os recursos naturais e da impossibilidade de haver vida na terra.

Antes, porém haverá uma grande opressão dos mais poderosos contra os mais desprovidos; nós aqui iremos sofrer muito – e já estamos – com a forte pressão que se estabelece na busca da necessidade de extrair-se os insumos e produtos naturais de toda sorte: animais, plantas, minérios, água potável, etc….., e quando nos pagam, preços vis, pagam com um mão e tiram com a outra; quanto tempo a nossa natureza vai ainda agüentar essas agressões???

Temos que agir, buscar saídas, dar um basta no tumulto no “faz de conta” e na insanidade coletiva que se estabelece na cabeça das pessoas, e ainda, com o grande perigo de sofismas nortearem procedimentos e o conseqüente risco de estamos trabalhando inadvertidamente para ajudar a acelerar a vinda da devastação total. Na nossa visão, quando falamos nesse caos iminente queremos dizer a extinção de várias espécies de animais e plantas. De que adianta, ficarmos falando, discutindo, as vezes só filosofia, poesia, coração, imaginação, cada segmento se fecha, não fala com os outros e pensa que vai resolver o problema sozinho, num passe de mágica.

Estamos cansados de ver, ouvir e saber de encontros desse ou daquele respeitável setor, há muitos anos repetir evidências de situações que todos sabemos que existem, especialmente quanto ao tráfico ilegal e degradação ambiental, ninguém é punido, não existe a direção; o pior o quanto de dinheiro público é gasto; e nada.

Falando só das aves e das aves silvestres e nativas brasileiras, compete tomarmos ações concretas, efetivas , inteligentes e amplas sobre todos os aspectos que envolvem a vida selvagem e a exploração doméstica. Então, com o intuito de discutir o futuro, e as perspectivas que temos a respeito da preservação delas, teremos que iniciar promovendo eventos do tipo abaixo especificado, onde discutiremos as mais diversas situações a que estão envolvidas e no final produzir documento a partir de sugestões/caminhos viáveis a seguir no sentido de efetivamente atingir o objetivo de todos: evitar a extinção das respectivas espécies brasileiras, a saber: .

Temas:

1 – A crescente degradação ambiental; – queimadas, poluição das águas dos rios, queimadas, desmatamentos – Como conservar? A legislação existente – Principais motivos dos descumprimentos; Apresentar propostas de solução- Eng. Florestal , gestão ambiental

2 – A ave em seu ambiente natural – riscos e conservação – Apresentar propostas de solução – Biólogos

3 – O tráfico ilegal, combate e punição – – Propostas efetivas de ação e solução; abordagem da mídia – Representante de Ongs, mídia e polícia ambiental e federal;

4 – O processo e o destino das aves em situação irregular ou apreendidas;

– Centro de Triagens – Zoológicos depósitos, depósitos de aves; cadastro dos indivíduos – solturas aleatórias/encaminhamento – Propostas de solução – Representantes do poder público e privado e ONgs

5- As formas de criadouros (Científicos, Conservacionistas, Comerciais e Amadoristas) – Zoológicos –

– Sistemas de marcação – cadastro dos indivíduos – compromisso com a reprodução e resultados práticos efetivos e dificuldades encontradas no processo; comercialização das aves – Propostas de solução – Representantes de cada segmento;

6 – Aves ameaçadíssimas de extinção – Ação conjunta visando sua preservação – Propostas de solução —Representante do setor público e privado – comunidade acadêmica;

7 – O processo de reintrodução – viabilidade na execução – propostas de solução

Representante do setor público e privado – comunidade acadêmica

8 – A ação do IBAMA;

RPPNs–Parques Nacionais – Regulamentação através de Portarias e IN–Fiscalização/Sistemas de controle – registro dos indivíduos; Propostas de solução

Representantes do IBAMA

9 – O Ministério Publico

– atuação preventiva da justiça – punição efetiva aos responsáveis pelas agressões;

Procuradores estaduais e federais

10 – Numa visão de futuro – preservação e conservação – Como a sociedade poderá atuar em conjunto a fim de buscar a efetiva conservação das espécies utilizando as formas de preservação como os Criadouros registrados, as Unidades Conservação e a manutenção dos ambiente naturais ora existentes;

Discussão em plenária – extração do documento com base em obrigatórias sugestões de todos os envolvidos.

Tomara que nossa proposta não seja tomada com ceticismo por nenhum dos setores implicados, porque o que na verdade estamos propondo seria uma experiência inédita, sem a exclusão ninguém; só o interesse público está nos guiando e logicamente o grande interesse de todos nós que cultivamos, criamos e amamos nossas aves nativas brasileiras. lagopas@terra.com.br

Escrito por Aloísio Pacini Tostes, em 6/10/2003