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Torneios

História

Torneios e campeonatos oficiais existem no Brasil desde a década de 50 quando, pelos idos de 1952, um grupo de passarinheiros criadores de bicudos do interior de São Paulo, deram início aos torneios de fibra organizados do jeito que existem hoje. A fibra consiste na valentia e na disposição para cantar que tem um pássaro à vista do outro bem próximo. Nessa mesma época havia competições esporádicas e isoladas, notadamente de curiós, por várias outras cidades do Brasil, cujos regulamentos, de caráter local, não foram difundidos e não lograram ser adotados por passarinheiros de outras regiões, de forma que não existem mais.

A partir da década de 60, as cidades de Araras (SP), Goiânia (GO) e Brasília (DF) passaram, também, obedecendo a um mesmo calendário, a promover torneios de fibra e de cantoria. Hoje, são dezenas de cidades espalhadas por todo o Brasil, que realizam os campeonatos unificados. Ocorrem cerca de 4 realizações de torneios de âmbito nacional em locais diferentes por domingo, notadamente nos meses de agosto até março, o que abrange uma temporada.

O torneio pode ser realizado por causa da aptidão e da disposição que o bicudo e o curió têm para duetar através do canto e também porque apreciam muito cantar durante os passeios. Os pássaros bem tratados e valentes gostam de cantar em desafio ao rival e dão verdadeiros espetáculos de canto nos torneios. Temos que lembrar, contudo, que, cada bicudo ou curió tem um grau de valentia, não é fácil para eles enfrentar o desafio de canto, daí a grande emoção dos ornitófilos quando um seu pupilo se sai bem em uma competição.

A concorrência é muito grande e as disputas são muito acirradas. Além disso, há aquelas aves que possuem o canto perfeito, que repetem muito e que também levam centenas de aficionados aos torneios.

As competições são tradicionais exposições públicas dos pássaros, onde o desempenho de cada um é medido e aos melhores são ofertados apenas troféus. Não existe premiação em dinheiro, contudo a respectiva cotação é valorizada a cada boa classificação que consegue obter.

Os criadores partiram para desenvolver competições que medem a atuação individual dos pássaros, cada um na sua especialidade. Como já vimos nas características individuais cada um tem o seu ponto forte. Uns são mais valentes, outros mais repetidores, outros cantam mais bonito, por isso é que existem, então, vários regulamentos para abranger as diferentes modalidades.

Nesse tipo de atividade os criadores se concentram em um local, nos domingos e viajam por isso milhares de quilômetros para que cada um apresente o seu pássaro e assim haja comparações com os outros concorrentes, de maneira que seja possível escolher o campeão do evento.

Anualmente, os representantes das Sociedades se reúnem nas sedes das Federações, onde são discutidas as eventuais alterações nos regulamentos, efetuada a entrega dos prêmios aos melhores pássaros e elaborado o calendário da próxima temporada.

Os torneios têm várias finalidades, tais como: a)promover o congraçamento entre as pessoas, notadamente na véspera dos eventos, quando são oferecidas aos visitantes recepções; b) estimular o intercâmbio de filhotes entre os criadores, c)desenvolver o turismo, d)escolher as melhores aves para a procriação, e) incrementar a criação em ambientes domésticos e a conseqüente segurança da preservação dessas espécies, tendo, inclusive, como perspectiva, propiciar, no futuro, o repovoamento em Parques Nacionais.

Cada Federação efetua o seu respectivo campeonato a partir de pontuação conseguida pelas aves em cada torneio. Ao final da temporada, saber-se-á quais são os melhores pássaros em cada modalidade na região e no Brasil.

Existem várias modalidades de disputa. Algumas medem a valentia e a quantidade de cantadas, outras consideram a qualidade do canto e a repetição, como segue:

1) Fibra – Os pássaros são colocados em uma estaca numerada, de maneira que fiquem a um metro e meio de altura do chão, em círculo, a uma distância de 20 centímetros um do outro, formando uma roda. Com essa disposição das estacas, cada pássaro terá um adversário de cada lado e os dois sempre desafiando-o para um duelo de canto. Tem que ser muito bem treinado para cantar nessa situação. O início é às 8:00 horas, hora em que o proprietário não poderá mais tocar na gaiola até o término da prova. A competição desenvolve-se normalmente até às 13:00 horas. O pássaro não pode demonstrar qualquer tipo de medo durante o desenrolar do certame; se isto acontecer, a ave imediatamente “pia de frio” ou “chama fêmea”. Aí então é retirada da roda, de pronto.

Interessante lembrar que o bicudo/curió valente e que esteja bem acasalado gosta de cantar assim. Parece aliviar seu estresse e é a maior comprovação de que está no auge de sua forma física em conseqüência do bom trato que mereceu de seu proprietário.

A partir das 9:00 horas começa a eliminatória. Para isso é feito um sorteio em qual estaca vai se iniciar a marcação. Separadas em grupo de dez em dez, cada cantada da ave é apontada na respectiva ficha, durante dez minutos, por um exclusivo juiz. São selecionados os 30 concorrentes que mais cantaram e que estão, assim, classificados para a formação da chamada rodada final. Nessa marcação também são ajuizados em grupos de dez em dez, durante 15 minutos, de forma exclusiva, e aquele que mais cantar será o campeão do torneio. A quantidade de cantadas para ganhar é, em geral, de 120 para bicudo e 220 para curió em 15 minutos. As premiações vão até o vigésimo lugar. Só podem participar pássaros machos pretos (virados), devidamente anilhados, que não sejam cegos e que estejam em perfeitas condições de saúde.

Nos torneios mais tradicionais, temos rodas que vão até duzentos exemplares em disputa. É um barulho ensurdecedor, proveniente da mistura de som do canto da maioria dos bicudos e dos curiós emitido conjuntamente no mesmo ambiente. O ruído característico costuma causar muita admiração em pessoas leigas que assistem ao evento pela primeira vez..

Há um Chefe-de-Roda que é o responsável pela condução do torneio, auxiliado por juizes e fiscais escolhidos entre os passarinheiros mais experientes. Todo o manuseio de estacas, das aves e tudo o mais é feito por esse pessoal. O proprietário só pode tocar na gaiola de seu pupilo para retirá-lo se ele for desclassificado ou após o encerramento do concurso.

2) Canto Livre/Sem repetição – Serve para medir os pássaros muito cantadores, mas que não repetem o canto. Assim, só valerão os cantos cujo conjunto de repetições seja abaixo de 5. Não é considerada a qualidade do canto. A prova dura 5 minutos, sendo colocado um pássaro de cada vez em estaca a 2 m do chão. O único juiz contará todos os cantos emitidos abaixo de 5 repetições e será vencedor aquele que conseguir no total a maior quantidade de pontos.

3) Canto Livre/Com repetição ou Peito-de-Aço -Incluem-se nessa especialidade os pássaros repetidores, aqueles que remontam, no mínimo, 5 cantadas sem interrupção. Não é medida a qualidade do canto. É colocado um pássaro de cada vez em estaca a 2 m do chão e ali permanece durante 5 minutos. Um único juiz contará todos os cantos emitidos acima de 4 repetições e será vencedor aquele que conseguir no total a maior quantidade de pontos.

4) Canto/Sem repetição – Na prova de canto se considera, em especial, a qualidade da cantada. Se o pássaro sistematicamente repetir mais de 5 cantos será classificado como repetidor/outra categoria. Muitas variáveis são avaliadas como requisitos positivos, tais como: boa voz, harmonia, correto andamento de canto, seqüência melódica própria do padrão escolhido. Como itens negativos temos: voz metálica ou musicada, mistura de canto, interrupção em meio do canto, defeito na entrada, deficiência no arremate, ausência das notas de divisão de canto, emissão de notas perdidas (não melódicas) e as chamadas notas abertas ou destoantes. Outro quesito importante é a apresentação do concorrente.

Em geral, leva-se em consideração também se o pássaro cantou o suficiente para demonstrar todo o seu potencial. A prova dura 5 minutos para cada concorrente, sendo colocado um pássaro de cada vez em estaca a 2 m do chão. Será vencedora a ave que obtiver maior média de 0 a 10, arbitrada por um único juiz.

5) Canto/Com repetição – Além de tudo que é considerado na prova de canto (item acima descrito), nessa modalidade é exigido, em especial, que o pássaro seja repetidor. Assim, se levará em conta no julgamento a qualidade de canto e as repetições acima de 5 canto.. Esta prova também dura 5 minutos para cada concorrente, sendo colocado um pássaro de cada vez em estaca a 2 m do chão. Será vencedora a ave que obtiver a maior média de 0 a 10 atribuída por um único juiz. O ideal seria que o bicudo fosse considerado repetidor de três cantos acima e o curió que tem mais facilidade para cantar repetindo, cinco cantos.

6) Canto Pardo – Esta prova só vale para pássaros jovens, que não podem ainda participar de competições específicas de adultos e pretos. Há concursos de qualidade de cantoria, onde se atribuem notas para os pardos, segundo a modalidade canto. Outro tipo de torneio para pardo é o canto livre, onde ganhará aquele que mais cantar. A prova é de 5 minutos, sendo colocado um pássaro de cada vez em estaca a 2 m do chão e será julgado por um único juiz.

7) Curió de capa – Esse tipo de disputa é muito praticada nos Estados de Minas Gerais e do Rio de Janeiro. Consiste em colocar os curiós em gaiolas encapadas, um ao lado do outro, em cima de mesas, durante no mínimo 2 horas e, após esse tempo pré-determinado, cada pássaro será marcado durante quinze minutos. É muito importante que o pássaro tenha um traço no canto para facilitar a marcação, porque o juiz não vê o curió que está sendo apontado e é muito comum haver engano. Ao contrário da fibra, nessa prova os concorrentes não se vêem nunca, mas mesmo assim é uma boa demonstração de valentia e coragem, o fato de cantar nessa situação. Se algum curió piar de frio ou chamar fêmea é retirado da disputa. Ao final ganhará aquele curió que mais cantar.

8) Baia Gaúcha – Praticado no Rio Grande do Sul, consiste em sortear do lote dos previamente inscritos, 5 pássaros de cada vez. Após isto são colocados em cima de uma mesa sem que se vejam, separados por uma tábua. Permanecem assim durante 10 minutos; o juiz conta os cantos e os pássaros que mais cantaram serão os vitoriosos.

Os locais de realização são, hoje, mais de uma centena de cidades espalhadas pelo Brasil que realizam torneios através de suas respectivas “Associações” nas mais diversas modalidades. Tudo após o antes referido calendário elaborado anualmente pelas federações e aprovado oficialmente pelo IBAMA, que expede um alvará autorizando a realização de cada evento. Na maioria das disputas estão presentes fiscais, polícia florestal e demais autoridades ligadas à proteção do meio ambiente.

Valerá a pena o sacrifício de viajar pelo o Brasil para assistir um torneio completo onde todas as modalidades são realizadas. Dentre os torneios mais importantes realizados no Brasil, citamos os realizados em: Ribeirão Preto (SP), Brasília (DF), Jacareí (SP), Goiânia (GO), São Paulo (SP), Uberaba (MG), Araçatuba (SP), Belo Horizonte (MG), Florianópolis (SC) , São Luis (MA), Porto Alegre (RS) , Campo Grande (MS), Uberlândia (MG), Anápolis (GO), Niterói (RJ), Foz do Iguaçu (PR), Araguari (MG).

Escrito por Aloísio Pacini Tostes, em 2/9/2003

Só Avançaremos com a Comunicação

Informação correta é o caminho

Temos dito muitas vezes que a ornitofilia praticada no Brasil precisa de muita divulgação. Temos melhorado, mas ainda falta muito trabalho. Falta muito interesse de muitos segmentos, há muita acomodação. Alguns passarinheiros não se preocupam com isso. Mas é uma questão de suma importância, uma questão de sobrevivência. Temos que ter uma interface virada para a opinião pública e outra voltada para nossa classe. Nossa imagem, em geral, é distorcida pelos veículos de comunicação, somos confundidos com depredadores contumazes. Como é difícil contatar com os principais órgãos da imprensa, especialmente os televisivos e os grandes jornais. A maioria dos jornalistas não podem efetuar uma reportagem à nível de um criador bem sucedido porque a direção dessas empresas não aceitam nem discutir o assunto. Alegam que para o grande público não há como abordar criação doméstica de pássaros. Para eles, além de ser um assunto que gerará muita polêmica, pegaria mal para a imagem da casa. Só interessa o que está na mídia, a voz corrente, isto é, prender pássaros é coisa do passado, quem ama não prende, é crueldade, é sadismo e tudo o mais. Por isso, não adianta querermos falar com essa gente, agora. Quem se atrever vai levar porrada. Quem não se lembra daquela reportagem de uns dez anos atrás que entrevistou todo o tipo de passarinheiro que participava de torneio. Mostrou os eventos e no final passou a falar com pessoas das radicais e que tem o seu modo de pensar , sobre o assunto, muito diferente do nosso e terminou soltando uma pomba toda despenada e dizendo “quem ama não prende”. Muitos de nós ficamos indignados com aquele desrespeito e com tremenda falta de ética da reportagem. Foi doído. Que desfaçatez. A verdade é uma só, a campanha negativa continua. É só acompanhar os jornais. O que lá se vê? Caçadores, traficantes, pássaros mortos, aves maltratadas, marginais e tudo o mais. Isso nos representa , somos nós? Lógico que não. Mas para muita gente sim. Estamos misturados a essa lama toda. É um horror esse equívoco e como nos prejudica. Como somos desrespeitados, às vezes. É uma imagem dolorosa para todos. Alguns acham que não tem problema, vamos levando. Não tem importância, daremos sempre um jeito para mostrar que somos boas pessoas e que não estamos fazendo nada de mal. Será mesmo que conseguiremos? Será que conseguiremos, no futuro, ter uma vida melhor em todos os sentidos, uma sociedade mais esclarecida, sem disk-900, sem telesorteios e outras arrumações do gênero.

Na verdade, estamos, no momento, é correndo grandes riscos. O que então precisamos fazer. E urgente. Primeiro de tudo, nos organizar, sermos transparentes, darmos as mãos. Parar de praticar o “escondido” o “só para mim” e o “clandestino”. Além de não querermos, é nossa obrigação mostrar à sociedade que evoluímos e que não queremos mesmo, especialmente o desrespeito às leis e portarias.

Precisamos, também, parar de sentir medo. Se estamos respaldados pela legislação e agimos de modo a cumpri-la, por que ter medo? Medo de quê? Devemos é Ter orgulho de nosso trabalho. Vamos é abandonar o amadorismo e passarmos a ser profissionais se quisermos sobreviver. Mostre a sua criação a seus vizinhos, mostre às autoridades de sua cidade. Escreve no jornalzinho de seu bairro e assim por diante. Ensine suas técnicas aos iniciantes. Promova divulgação de seu criatório em revistas e jornais especializados . Se puder, divulgue o seu criatório na Internet, faça um Homepage. Devemos também falar de nossos problemas e de nossas dificuldades. Porque não? O mais importante e sair do ostracismo e mostrar a nossa cara.

Não somos mais caçadores, não somos marginais e não maltratamos os animais; pelo contrário , isso é a verdade. Muitas pessoas admiram pássaros: são 15% da população brasileira e são pessoas comuns. Somos um segmento representativo da sociedade. Daí precisamos exigir , através da transparência e do diálogo, o respeito que merecemos. Todavia, a iniciativa tem que ser nossa, de todos nos ornitofilistas. Não é tarefa de uns: e de todos. Nosso Brasil é muito grande, algumas regiões têm muita dificuldade de obter informações. Por isso, precisamos identificarmos e nos localizar para buscar uma eqüalização de capacitação profissional no mister de criar e manter pássaros canoros. E em seguida desenvolver um trabalho de divulgação em que todos participem, de norte a sul de nosso País.

Há hoje cerca de 500 sociedades/clubes/associações de criadores/mantenedores e amantes de pássaros nativos e só umas poucas possuem um jornalzinho para divulgação de suas atividades e de seus associados. Seria um ótimo começo se grande parte delas passassem a editar algum tipo de informativo onde poderíamos iniciar a necessária prática de divulgação. É esse o melhor caminho. Louvo e parabenizo a diretoria das sociedades que já tiveram e que mantém essa iniciativa. Continuem nessa linha pois isso é que vai nos tornar fortes e respeitados. Queremos mais, mais e mais.

Seria importante, também, uma exposição anual onde os criadores pudessem mostrar produtos de sua criação, a exemplo do que fazem, com muito sucesso, os criadores de exóticos. Não entendemos, ainda, por que até agora nunca fomos chamados ou nunca procuramos participar de qualquer tipo de evento, tipo congressos, simpósios sobre ornitologia nacional. Precisamos aprender mais e descobrir o caminho para repassar nossas experiências, nossas pesquisas e nossa opiniões. Com certeza temos muitas informações importantes e inéditas ainda não conhecidas. Somos uma sociedade. Nela cada segmento realiza a sua tarefa para, no final, todos poderem viver dentro de um clima de respeito e interação. É isso que queremos fazer: continuar realizando nosso trabalho de procriação e de preservação dos pássaros canoros brasileiros e contar com o apoio e admiração de toda a sociedade.

Escrito por Aloísio Pacini Tostes, em 2/9/2003