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Especialista defende a Criação Sustentável de Pássaros

Manejo Sustentável

Entrevista ao Jornal Pagina 20 de Rio Branco SC em 29.05.03

Desde os sete anos de idade, Aloísio Pacini Tostes, 59 despertou a paixão por pássaros. Muitas vezes os criava apenas para observa-los e depois os soltava. O que não imaginava, é que o carinho e o respeito pelos animais crescessem ao ponto de tornar-se uma fonte de renda.

O estudo, que começou a fazer aos nove anos de idade, apenas por curiosidade em conhecer o universo dos pássaros passou a fazer parte de sua vida e o acompanhou durante a faculdade de administração de empresas e os 30 anos de carreira como bancário. Aposentado, hoje é considerado um dos maiores conhecedores de pássaros do Brasil, com um acervo de documentários, anotações e gravações de 50 anos de pesquisa. Alguns trabalhos estão exibidos nos livros “Criação de Bicudos e Curiós” e “Criação de Canários da Terra” , e um CD de canto de curió.

Aloísio Pacini é mineiro, mas mora em São Paulo, onde tem criadouro comercial de aves nativas e preside a Confederação Brasileira dos Criadores de Pássaros Nativos (Cobrap) e trabalha um conceito de exploração de recursos naturais baseados na sustentabilidade. Em viagem por todo o Norte do Brasil, ele marcou presença esta semana em Rio Branco e concedeu uma entrevista exclusiva ao Pagina 20: Como é o trabalho da Confederação Brasileira dos Criadores de Pássaros Nativos: Objetivo da COBRAP é a sobrevivência e a reprodução das espécies. No Brasil há um interesse, uso e costume da população por aves. Um total de 22% dos lares brasileiros tem pássaros, o que dá uma média da população de 10 milhões de pessoas. Desse número, menos de 1% estão registrados. Temos um sério problema, porque a ilegalidade alimenta o tráfico ilegal, o qual temos que combater. O risco que os pássaros correm por estarem nas mãos de pessoas que não estão autorizadas é detê-los é a extinção desse patrimônio genético.

Estamos conversando com o poder público, porque é um trabalho que tem que ser feito junto a eles, para encontrar saídas.

Temos também que evitar essa questão de sensacionalismo, que coloca que estamos matando, agredindo o meio ambiente, porque não é isso. Hoje países mais desenvolvidos, Europa, Estados Unidos, tem como negócio o Peti (animal de estimação). Na Bélgica esse é o terceiro maior produto de exportação.

Você acha que esses países servem de modelo para a exploração do mercado no Brasil?

O que acontece nesses países de primeiro mundo é válido, mas de repente eles querem impor regras aqui, temos que ter cuidado. Eles financiam Ongs, algumas, muito bem intencionadas, outras duvidamos da honestidade de seu propósito sobre as pressões que são feitas. Por exemplo, porque importamos javalis, se podemos criar catetos e queixadas animais da mesma similaridade que poderão ser valorizados pelos brasileiros? Podemos sim reproduzir aves ornamentais com o objetivo comercial como existe no mundo inteiro.

Uma reprodução seguido a valorização das riquezas da fauna e flora local….

Sim. O homem que tem um vaso de planta na casa dele está se aproximando da natureza. Às vezes mesmo sem perceber você traz a natureza para perto de si. E com o animal é a mesma coisa. Só que ele não pode mais ser retirado do meio.

Por isso o incentivo à reprodução como forma de evitar a extinção de animais?

Isso. Temos que estimular a produção desses bichos para que eles atendam a demanda. Atendendo essa demanda com animal reproduzindo no criadouro legalizado, muitos não serão mais retirados da natureza. Esse ;é o nosso trabalho de preservação. É o enfoque que damos e queremos uma conscientização coletiva de todos que mantém aves. A natureza vai permitir que sobrevivamos, que a gente continue, se tiver certa e segura que a preservação está sendo mantida. Os animais que estão na natureza devem ficar lá, e o patrimônio genético que existe hoje em poder da população, em domesticidade, é plenamente suficiente para que haja reprodução, sem precisar capturar na natureza. E se houver de eventualmente algum tipo, tem que ser dentro das normas do Ibama, que exige uma regulamentação.

A sua vinda ao Acre faz parte desse projeto da Cobrap em incentivar a reprodução com base na sustentabilidade?

Sim. Estamos passando por todo o Norte do Brasil , conversando com a sociedade, as universidades, chamando a parte acadêmica, os zootecnistas, os veterinários, biólogos para entrarem conosco nessa frente de trabalho que é importantíssima porque o patrimônio genético que existe envolvido nessa situação é muito grande. Essa então é a nossa missão, nosso objetivo em Rio Branco.

Como está a organização nos Estados?

A confederação representa do Rio Grande do Sul a Roraima os legítimos interesses dos criadores. Todos apóiam o trabalho. Estamos tentando esclarecer aqueles que eventualmente estejam na penumbra, que eles tenham a informação de que podem participar desse trabalho, chamando a sociedade. Porque de repente a mídia passa uma informação que não é muito bem assimilada. Temos um trabalho de reprodução eu está na Lei de Proteção à Fauna, que estimula que se tenham criadouros com objetivo comercial. Mas, o modelo correto de se fazer isso é a exploração dos recursos naturais de forma sustentável. As famílias, especialmente as do interior , podem sobreviver produzindo animais que não podem ser capturados, mas que estão disponíveis através do Ibama ou de outros criadouros. Evitamos assim, que outros animais entrem em extinção.

A correta exploração dos recursos naturais deve ser baseada na sustentabilidade. Essa é a saída pra reprodução das espécies?

Com certeza. Respeitando as leis. Se você derruba uma árvore e não planta outra, você está agredindo a natureza. A nossa Ministra do Meio Ambiente sempre fala da exploração dos recursos naturais em uma relação de harmonia com a natureza. Você não agride a natureza, arruma uma forma sustentável para sobreviver daquela atividade. Quem quiser uma arara em São Paulo, vai comprar em uma loja um animal criado em Rio Branco, e está sendo vendido legitimamente, dentro dos regulamentos e portarias exigidos pelo Ibama, que são rigorosos, mas plausíveis, em que você pode fazer um projeto, com a ajuda de profissionais da área. Inclusive, acho que os órgãos públicos tem que participar disso. Pode haver pessoas que não querem ser seringueiros, que tem aptidão para criar papagaios. Enfim, é uma outra alternativa de economia.

Quais Estados no Brasil em que o trabalho da Cobrap está melhor assimilado?

Os mais desenvolvidos são aqueles que foram os mais agredidos. No caso São Paulo, Minas Gerais, Paraná, Santa Catarina , Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul, e Goiás. Mas, os Estados do Norte estão se destacando. Estamos com criador comercial em Belém, que faz um trabalho maravilhoso de seleção genética. Hoje o melhor curió reproduzido no Brasil é de Rio Branco o Gaiola Preta, que é considerado o melhor reprodutor do País. O Luiz Negrisolli trouxe esse pássaro de Botucatu e está produzindo aqui a excelência do Curió. Esse filhote é um dos mais solicitados.

Como a Amazônia deve se organizar, já que concentra a maior biodiversidade do planeta?

Quanto mais parques nacionais tiverem, melhor. Mas, meu grande medo, é a pressão internacional em cima disso, com a idéia da intocabilidade. Esse conceito, é maravilhoso, mas tem por trás um risco muito grande, porque na medida que não ocupamos uma área, ela corre o risco de ser invadida de maneira errada por outros países do mundo que estão com o olho grande na nossa Amazônia. Se não a ocuparmos der forma sustentada, vamos perde-la porque eles degradaram tudo o que era deles, e agora querem o que é nosso.

Estive em Roraima e fiquei muito preocupado em saber que nações do primeiro mundo estão se instalando no Estado, retirando nossas riquezas, o ouro, a ametista e até o urânio. Eles têm aeroporto com Boeing levando daqui tudo que extraem. Sou a favor da ocupação sustentada de todas as áreas que tivermos na Amazônia, de forma vigilante, sem degradação. Se não fizermos isso, corremos o risco de mais tarde chorar pela perda dessa nossa rica e linda Amazônia.

Como a sociedade de se organizar para evitar essa ocupação?

Isso em que tocou é importantíssimo, porque a falta de organização e a base do tráfico, da ilegalidade , da miséria e exploração. Na hora em que se organiza, você começa a ter a informação, representatividade, as pessoas poderão negociar, trocar idéias com o poder público para defender os interesses da classe. Aquela história de que o malandro é aquele sabe respeitar as regras da sociedade é a mais certa. Temos o Fernandinho Beiramar que usa a sua inteligência para fazer coisas erradas e vive naquela situação degradante. O Lula que também é de origem humilde, é hoje o presidente da República, porque usou sua inteligência para agregar, juntar, fazer um movimento de defesa do país, da pátria. Os envolvidos nesta área de trabalho tem que começar a criar associações, e atuar em parceria com a confederação, para discutirmos, cada vez mais, maneiras de podermos elevar esse conceito e preservar o que temos de melhor, que é a natureza.

Escrito por André Zilio, em 2/9/2003

Entenda quem quiser entender

Esclarecimento sobre a Legislação

Vamos falar de novo nesse assunto porque muita gente ainda não entendeu com exatidão, o problema do segmento ornitofílico. Desde do ano de 1984 que vimos negociando com o IBAMA – ex-IBDF, nossas proposições que sempre foram, antes de mais nada, defender os legítimos interesses de nossa classe, a dos passarinheiros: sejam eles hobistas, ornitófilos, mantenedores ou criadores. Havia e há a Lei de Proteção à Fauna 5.197 de 1967 que diz: Os animais de quaisquer espécies, em qualquer fase de seu desenvolvimento e que vivem naturalmente fora do cativeiro constituindo a fauna silvestre, bem como seus ninhos, abrigos e criadouros naturais, são propriedade do Estado, sendo proibida a sua utilização, perseguição, destruição, caça e apanha. Isto está escrito na Lei que está em vigor, ninguém em especial é responsável. Nós, segmentos da sociedade só temos é que cumprir essa e todas as outras determinações das leis existentes. Assim, no ano de 84, a regulamentação existente nas Portarias anteriores a essa data, emitidas pelo ex-IBDF a respeito regulamentação da citada Lei, não satisfazia as necessidades de sobrevivência tranquila de nosso hobby de: criar e manter pássaros nativos domesticamente. Estávamos numa situação difícil: para viajarmos a torneios éramos obrigados a levar no bolso, um telex do IBDF, autorizando, exclusivamente, Bicudos e Curiós para participarem dos eventos. Quem reproduzia, não podia transacionar. Sobre os outros pássaros nem pensar, não havia qualquer citação para participação em campeonatos, como é o caso de Canário-da-Terra, Coleiro e Trinca. A muito custo, conseguimos convencer os técnicos do IBDF que realmente fazíamos e faríamos um importante trabalho de preservação, o que realmente vem acontecendo.

A questão central então era: O anilhamento. Teríamos que provar em cada pássaro a sua respectiva origem. Não podíamos mais capturar, obedecendo a lei, essa era a cobrança, já naquela época de meados de 1980. Era isso que os técnicos exigiam de nós para que publicassem alguma Portaria que viesse efetivamente regulamentar nossas atividades. E assim, podermos seguir participando do torneios, reproduzir e transacionar nossas crias e nossos pássaros de anilhos fechados. Foi isso que nós, dois, então, presidentes de federação, as atuais FEBRAPS e FENAP, as que existiam. representando os passarinheiros prometemos ao ex-IBDF, já em 1988. Colocamos que precisávamos de mais tempo para que anilhássemos com anilha aberta os pássaros que estavam já em poder das pessoas. Isto é: todos os pássaros canoros, especialmente aqueles que participam de torneios de canto. Conseguimos, com muita dificuldade, que eles concordassem que pássaros de anilhas abertas participassem de torneios, falamos da sua longevidade e aí, logramos êxito em nossa pretensão. A portaria 131/88 dizia em seu Art. 23: As federações e clubes, terão o prazo de dois anos para se adaptarem às normas desta Portaria, a partir de sua publicação – o prazo final seria então em 1990. Deu no que deu, em 1990, não havia condições de se cumprir a exigência, por muitas razões: principalmente pela desinformação das pessoas sobre a correta interpretação da Portaria. Fizemos conjuntamente com o IBAMA, outro acordo, a Portaria 631/90 e conseguimos mais dois anos de prazo para a questão do anilhamento. Daí, se poderia anilhar com as anilhas abertas até o ano de 1992. Exclusivamente, para as matrizes sem anel que estavam em nosso poder dos sócios até o ano de l988. Estavam presentes, ali em l990, as atuais FEBRAPS, FENAP, FSB e FOG. Nessa época, os técnicos do IBAMA nos cobravam muito sobre essa questão central de toda a discussão: a correta utilização da anilha. É lógico e fácil deduzir, que: se não fosse o problema da anilha, não precisaria existir toda essa regulamentação envolvendo Federações, Clubes e Sócios. Na Portaria 631, conseguimos manter a participação em torneios dos pássaros de anilhas abertas. Logicamente aqueles que seriam anilhados até a data de 1992 e que eram matrizes sem anel desde 1988. Esse era o acordo a que tivemos que nos submeter. Aí, em 1996, fomos convocados para a negociar uma terceira Portaria do nosso segmento, nessa já estavam lá os representantes de todas as Federações ora existentes. Saiu, então a Portaria 57 de 11.07.96, que dizia em seu art. 7 & 3o: Todos os passeriformes da fauna brasileira possuidores de anilhas abertas, somente poderão participar de torneios, exposições e serem objeto de transação, bem como transitar fora do domicílio do mantenedor, até 31 de dezembro de 1999, ficando desta maneira permitida, a partir do ano de 2000, os torneios e exposicões somente para passeriformes portadores de anilhas fechadas e invioláveis.

Depois de muita discussão, obtivemos esse acordo. O IBAMA queria que o prazo fosse menor. Foi difícil, mas conseguimos. Todos nós representantes dos passarinheiros, sentados à mesa de negociação. Diante das circunstâncias, foi o melhor que poderíamos ter obtido. O IBAMA queria, dessa forma, fechar de uma vez por todas a discussão sobre anilha aberta. E nós não tínhamos mais argumentos válidos para protelar a sua utilização. E assim, a discussão estaria, provavelmente, encerrada. Depois disso, o IBAMA, pressionado pelo Ministério Público e por inúmeros pareceres internos, publicou a Portaria 99 que limitou para o final da temporada de 97 o término da utilização da anilha aberta para os pássaros em torneio. . O que nos pegou de surpresa. Sabíamos que por causa da pressão do Ministério Público o & 3o do art 7o acima referido seria mudado, especialmente quanto à transação dos passeriformes. O que fazer, quanto a isso, teríamos que aceitar. Agora, a participação em torneios, não, de maneira alguma. Aí, é aquele caso, muitos que nada devem terão que pagar. Não é encurtando o prazo que vamos resolver o problema. É difícil explicar o porquê disso. Os passarinheiros como um todo, não estão devidamente orientados. Falta muita divulgação a respeito, temos cobrado, insistentemente. Só com o esclarecimento generalizado teremos a colaboração e a concordândia das pessoas. Acreditamos que o IBAMA vai encontrar uma forma de manter o acordo da Portaria 57, o prazo, só para participação em torneios, até o ano 2.000. Para nós, nesse momento, seria o mais sensato. Depois que 1988 para cá, houve um crescimento muito grande no segmento. Mas mesmo assim, estamos falando, somente em defesa daqueles que utilizaram corretamente a anilha até o ano de 1992, e que são muitos. Quem é que vai negar que em termos de reprodução doméstica evoluímos muito. Merecemos um crédito e um respeito maior de todos, o IBAMA saberá compreender isso. Quem sabe num futuro bem próximo tenhamos condições de efetivamente mostrar à sociedade que devemos ser respeitados pelo trabalho sério que fazemos em favor da preservação de nossas aves. Que o bom senso prevaleça sempre. Entenda quem quiser entender.

Escrito por Aloísio Pacini Tostes, em 2/9/2003