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Salve Paracatu

A cidade do Ouro

Coluna do Aloisio Pacini Tostes, escrita em 20/9/2005 às 09:40

Estivemos, junto com o Prof Helio Carlos (Guará), em Paracatu MG no último fim de semana para participar do Torneio de Canto de Pássaros Nativos. Uma cidade aconchegante, ficamos no Hotel Veredas – muito bom, ótimo café da manhã, uma coalhada maravilhosa – fomos recebidos pelo amigo Magno, nos mostrou a cidade, o centro velho , os locais tradicionais, de encontro da sociedade paracatuense e depois fomos tomar um cafezinho, feito na hora pela sua “namorada”. Na recepção no sábado à noite, com a presença do Prefeito municipal, Dr. Vasco, pudemos rever nossos amigos de Minas e da região Centro-oeste, alguns há mais de trinta anos, sempre uma emoção. O torneio, marcação eletrônica SME, com o Jacob atuando, foi um grande espetáculo de extraordinários pássaros, tanto bicudos como curiós e nos provocou uma constatação, as nossas atividades de criação deram certo, podemos carimbar: centenas de pássaros nascidos domesticamente da melhor qualidade. Alguns ganharam, mas a apresentaçao da maoria foi sensacional. É preciso destacar o trabalho do presidente Edson Borges, seu senso de polidez e hospitalidade, um show de tranquilidade e de organização, coisa de líder. Destaque especial ao amigo Ditinho, muita emoção e sentimento de carinho com todos, um guerreiro e defensor, de há muito, dos torneios em Paracatu. Mas de tudo o que mais impressionou foram as dependências do SESC onde foi realizado todo o evento, além de abrigar os companheiros passarinheiros nos chalés – coisa de primeiro mundo – um oásis dentro da cidade, há de tudo , um ótimo restaurante, jardins, piscinas, quadra de esportes e ainda o carinho da Direção na pessoa de Edna Suely, nossa madrinha que se esforçou em bem atender a todos e colaborar para que tudo desse certo. O SESC-MG está de parabéns, conhecemos muito desse nosso Brasil, mas o que vimos ali é um destaque, uma iniciativa e prova de que quando se quer, há seriedade e trabalho consegue-se deixar um legado positivo à disposicão da sociedade, vale a pena visitar aquele paraíso. Salve PARACATU.

Escrito por Aloísio Pacini Tostes, em 3/10/2005

Passarinheiro, Lei ou Amor

Reencontro com a Natureza?

Livre arbítrio, inteligência, lógica, intuição, chamem como quiser, isto está acima de qualquer código.

As palavras não conseguem apreender o verdadeiro sentido das coisas pelo que sempre recorremos à interpretação. O rigor da literalidade costuma induzir a conclusões erradas. E tanto mais se agrava o equívoco, quanto mais (pré)conceitos não são ercebidos e nem aplacados.

Ser passarinheiro é uma terapia, é relaxamento e reencontro com a natureza.

Observando nossos companheiros alados é fácil acalmar após o corre-corre das cidades e do agito da vida moderna.

É a lembrança de entes queridos que preservamos ao cuidar de nossos estimados animais. Esta foi até uma das formas que aprendemos alguma coisa sobre responsabilidade, quando em nossa infância ganhamos nosso primeiro pet, que devemos dar carinho, alimentar, dar água.

É a tradição popular, muitas vezes criticadas pela imagem pesada do cárcere, que salva espécies da extinção ou permite o repovoamento, citando casos bem sucedidos com canários-da-terra.

Ser passarinheiro, pela perseguição que sofre, é comparável a situação dos fumantes (o que digo na qualidade de ex-tabagista).

Nestas terras chamadas Brasil, tem o Planeta a maior coleção de espécies animais e vegetais. E isto é dever, preservar para o futuro.

A nossa pouca razão nos tenta a acreditar que tudo está perdido, somos impelidos ao catastrofismo, especialmente quando acompanhamos as conversas de biólogos, metereologistas, oceanógrafos, entre outros cientistas sobre temas como aquecimento global, degelo, Protocolo de Kyoto, el niño…

É chegada a hora em que devemos trabalhar juntos pela proteção da vida e do planeta. Trabalhar não é consumismo, pois não mais podemos conceber crescimento sem sustentação, ou seja, explorar os recursos naturais do planeta e produzir lixo em quantidade maior do que a capacidade de regeneração.

Interpreto que estamos numa encruzilhada, mas não há motivos para temor pois a intuição diz que devemos manter a esperança e a tranqüilidade, pois trabalhando pela regeneração do planeta encontraremos a paz entre os povos.

E nós passarinheiros juntamente com o Ibama, devemos reconhecer os erros reciprocamente e encontrar as soluções de comum acordo.

Eventualmente alguém não se lembrará ou não estaria suficientemente inteirado sobre alguns fatos, pelo que o que direi não é para causar revolta e sim reflexão. Sabe-se que muitos passarinheiros “regularizam” aves colocando anilha fechada pelo pé de adultos, o que evidentemente acaba por provocar mortes, deformidades e aves traumatizadas. É certo que há percentual que sobrevive sem nenhuma seqüela física e por isso o Ibama, receoso de fraudes, provoca tortura e maus tratos em determinadas espécies de passeriformes quando definiu diâmetro pequeno e incompatível com o tarso da ave que com o avançar da idade acaba por necrosar o pé ou matar. Há que se ponderar que nem sempre é maldade, geralmente é ignorância e desespero o que leva muitas pessoas a “anilhar” aves adultas. Para casos assim, o remorso é o pior inferno.

Mas perdoar é compreender e dialogar, e evitando as discussões apaixonadas é que estaremos a (re)generar a vida. Se há passarinheiros com nativos sem anilha ou não relacionados pelo Ibama, estes devem ser ouvidos, posto que uma tradição popular tão bela como esta não pode ficar restrita somente aos que tem padrão financeiro mínimo.

E se fizermos uma pesquisa, veremos que muitos dos que compõe o grupo dos “legais” um dia foram marginais da legislação ambiental, ou nem sabem que assim se encontram, ou ao menos tem um amigo nesta condição.

Muitos já até caçaram, mas antes que alguma pedra saia voando, vejamos que é a própria Lei Ambiental que prevê esta possibilidade, seja para formação de plantel inicial, seja para introdução de nova linhagem de sangue. E as melhores linhagens de criação de aves canoras, certamente tem ancestrais capturados e escolhidos entre dezenas arrebatados em armadilhas das mais diversas, na busca pelo que mais canta, mais tem fibra.

A “boa vontade” recomenda que sejam libertadas as aves capturadas ilegalmente, mas o bom senso revela que a vedação à procriação em criadouros conservacionistas e a degradação do ecossistema não permitem outra conclusão senão uma grande anistia.

Quem sabe no futuro, quanto tivermos iniciado o processo de regeneração do ecossistema, poderemos reintroduzir na natureza os cantos e as cores de nossos passeriformes, dando algum sentido ao sofrimento daqueles que nasceram livres e colocados em gaiolas não mais sobreviveriam sozinhos.

Cesar Kato

Escrito por Cesar Kato, em 1/10/2005