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Texto ao IBAMA/Novas INs

Nossa posição

Ribeirão Preto (SP), 10 Agosto de 2006

INSTITUTO BRASILEIRO DO MEIO AMBIENTE E DOS RECURSOS NATURAIS RENOVÁVEIS – IBAMA

DIRETORIA DE FAUNA E RECURSOS PESQUEIROS – DIFAP

BRASÍLIA – DISTRITO FEDERAL

 

À Atenção do Dr. Rômulo José Fernandes de Barreto Mello

 

Minutas para Instruções Normativas para a Criação Amadorista e Comercial de Passeriformes. Referimo-nos ao ofício n.301/2006-DIFAP, de 13 de julho de 2006, que encaminha as minutas das novas Instruções Normativas para a criação amadorista e de criação comercial de passeriformes nativos, solicitando nossa posição. A respeito do assunto, estamos encaminhando-lhe, em anexo, nossos comentários e sugestões. Estamos também protocolando no Escritório Regional Ribeirão Preto SP, para remessa, via papel.

 

2. A propósito, deve estar claro para todos que desde a época do descobrimento há os “xerimbabos” e são uso e costume do brasileiro ter um pássaro canoro em seu poder. São milhões de pessoas e de pássaros abrangidos por essa tradição. Compete, então, a nós todos da sociedade, a obrigação de exercer um manejo racional desse patrimônio genético que é uma questão que está aí a nossa frente e precisa ser encaminhada sem a adoção de radicalismos em nossas eventuais ações de proteção ambiental.

 

3. Temos, segundo as estatísticas, cerca de 5 milhões de criadores/mantenedores espalhados pelo Brasil. O ideal seria trazer todos para a legalidade, mas só 200.000 estão cadastrados. Criar mais entraves e obstáculos só colaboram para desestimular e levar mais ainda o processo para a marginalidade. São milhões de pássaros que ficarão nessas condições. Essas medidas repressivas, irão obstaculizar mais ainda as necessárias atuações do poder público com o objetivo de melhor controlar a avifauna brasileira, não restam dúvidas nesse aspecto.

 

4. Dentro desse quadro, temos arquivos e registros que desde a década de 50, há um segmento que cultiva torneios de canto de pássaros em nosso País, nos moldes dos que existem hoje. Este fato forçou, pela necessidade de regras e regulamentos, que houvesse um mínimo de organização que obrigou o nascimento de entidades ornitofílicas e que fossem responsáveis pelos eventos.

 

5. Sabemos ser muito difícil conseguir um controle efetivo sobre todas as ações dos amantes de pássaros, mas tem sido um grande avanço o esforço de convencimento que temos feito para trazer os criadores para a legalidade conscientizando-os da realidade e da obrigação que todos temos em proteger o meio ambiente, a exemplo do conteúdo de nosso saite www.cobrap.org.br e das palestras que realizamos pelas universidades, seminários e associações espalhadas pelo nosso Brasil.

 

6. Extraímos da recente CPI da Biopirataria que “o IBAMA está hoje preocupado com a revisão e a modernização dos instrumentos de controle da fauna, para cuja atividade conta com R$9 milhões por ano.” O interessante é que só a contribuição dos criadores amadoristas, no mesmo período, através das rubricas 174 e 250 do SIAFI (180.000 X 30,00 e igual a R$5.400.000.00), mais anilhas e guias de trânsito que nos últimos dois meses tem proporcionado uma fantástica contribuição, irão praticamente cobrir a despesa efetivada com a fauna.

 

7. Todo esse volume de dinheiro, somados aqueles que se originam nos impostos pagos pelos criadores comerciais, são substanciais e podem ajudar sobremaneira nas inúmeras ações que envolvem questões ambientais, uma vez que há o forte argumento de natureza orçamentária com relação à origem dos recursos provindos do segmento ornitofílico.

 

8. Importante dizer que, o Relatório Final da referida CPI não se referiu de forma negativa e especificamente à criação de passeriformes canoros nativos e nem recomendou qualquer ação restritiva ao segmento. Pelo contrário, diz um de seus tópicos: “A criação e comércio de animais silvestres como uma atividade regular, que observe todos os requisitos das normas ambientais e a legislação como um todo, deve ser incentivada pelo Poder Público”. Nada diferente da Lei existente e que recomenda esse mesmo estímulo à criação por parte das autoridades oficiais.

 

9. Claro está que, produzir pássaros nativos com a segurança e com a certeza de que não são retirados da natureza representa o uso sustentável de um recurso natural tanto recomendado pelo bom senso ambiental e pelas autoridades públicas. Sem dizer da efetiva contribuição do combate ao tráfico pelo oferecimento à demanda de indivíduos nascidos domésticos.

 

10. Já está demonstrado que sabemos criar como ninguém, se pudermos exercer nossas legítimas atividades com tranqüilidade, sem sobressaltos e mudança de regras em curtos espaços de tempo. Certamente, em breve, com a nossa atuação, cada vez mais o tráfico irá ficando acuado.

 

11 Hoje, mais conscientizadas as pessoas estão exigindo, de forma gradativa e crescente, que os indivíduos a serem adquiridos devam ser legais, de alta qualidade genética e documentados para que não venham correr o risco de serem autuadas e passarem pelo constrangimento de terem suas aves apreendidas.

 

12. Doravante, a partir do advento do SISPASS – uma belíssima ferramenta para controlar e fiscalizar a criação amadorista -, nada melhor que o fazê-lo, via sistema. Importante salientar é que vemos modificações sendo implantadas no sistema, sem o devido respaldo da Instrução Normativa vigente. Assim, quando houver suspeição de alguma irregularidade cometida se deveria bloquear o arquivo do criador e exigir dele explicações no sentido de liberar a respectiva movimentação.

 

13 Essa ação seria agir de imediato contra quem realmente estaria praticando alguma impropriedade. O que não tem sentido e soa como um processo de radicalização que consistiria em deixar agravar a situação de alguns para ao final dificultar as atividades de toda a classe, indiscriminadamente.

 

14. Na realidade, nossas atividades se circunscrevem há cerca de dez passeriformes canoros, sendo que a ênfase se dá com o azulão, bicudo, cardeal do sul, coleiro, curió, canário da terra, pintassilgo e trinca ferro. Eles são as espécies mais criadas e que concentram as nossas solicitações. Não temos relação com processos ligados a muitas espécies de aves para as quais o tráfico exerce forte pressão.

 

15. Por incrível que possa parecer para alguns críticos radicais, os pássaros canários da terra e sabiás laranjeiras estão aumentando a sua população em inúmeras regiões do Brasil, com todas as pressões desfavoráveis que foram vítimas. São aves que se adaptam muito bem em ambientes degradados. O que atesta que é possível o desenvolvimento da criação doméstica e a existência de incremento em populações silvestres de certas espécies

 

16. Embora esses mesmos setores mais radicais supõem e desejam a utopia de que os animais de origem silvestre devam estar e ficar somente em ambientes selvagens, na prática, isto é impossível de ser obtido. Sabe-se, todavia, na realidade, que o maior motivo da extinção setoriais de aves silvestres basea-se na exagerada degradação ambiental surgida através da ocupação humana crescente de áreas rurais, poluição das águas, barragens, queimadas e implantação de lavouras de soja e cana de açúcar.

 

17. Estranha-nos muito o fato de não saber direito a quem interessa a implementação das dificuldades adicionais que se quer adotar para a criação, quem são os responsáveis pela idéia de sistematicamente buscar de modo gradativo a inviabilização da criação/manutenção de pássaros nativos em domesticidade.

 

18. A questão dos dez meses, a nosso ver foi a medida mais restritiva que se criou para dificultar as ações dos criadores, não vemos o menor sentido em sua adoção e que poderá provocar um óbice intransponível que irá inviabilizar todo o processo da criação amadorista. Isso não diminui a importância de outros tópicos da minuta, que na nossa visão, vem a cercear o direito do cidadão a criar, na forma e quantidade, inclusive restringindo direitos assegurados aos que estão desde a edição da I.N. 05/01.

 

19. Ademais, o poder público brasileiro, não precisa ficar preocupado porque nós somos um exemplo positivo para o mundo. Não temos conhecimento de algum país que exerça a reprodução de aves nativas. Pelo contrário, sabemos que nossos vizinhos, na América do Sul, têm cota de capturas e depois de legalizar os indivíduos até exportam para a Europa e América do Norte, auferindo divisas com o que para nós seria crime ambiental.

 

20. Além disso, existem paises europeus que faturam bilhões de dólares com a exportação de pets e de apetrechos, fármacos e rações para o mundo inteiro, tendo impacto significativo sobre as contas públicas locais. Como exemplo, podemos citar a Bélgica, que tem 20% de seu P.I.B. representado apenas por este segmento. Podemos, também fazer isso, temos clima, gente ( ?) e bichos que interessam a muita gente do exterior.

 

21. Há, por trás de todo o processo de criação, inúmeros setores da sociedade: indústrias de fármacos, de gaiolas, de apetrechos e produtores rurais de sementes que movimentam milhões de reais, que geram empregos, que geram riquezas e que estarão sendo prejudicados com a diminuição de receitas na medida em que se inibe e de dificulta o processo de criação como está sendo proposto nas referidas minutas.

 

22. Isto posto, na expectativa de que o bom senso prevaleça, encaminhamos-lhe, em anexo, nossa proposta de IN e as críticas que fizemos nos tópicos da minuta recebida, ao tempo em que ficamos esperando notícias a respeito da data da reunião enfocada no expediente descrito à epígrafe.

 

23. Colocando-nos à disposição, aproveitamos a oportunidade para renovar nossos protestos de estima e consideração.

Muito atenciosamente

Aloísio Pacini Tostes

Presidente da COBRAP

Passarinhos e o seu melhor amigo, o passarinheiro

Cuidado com a vida deles

Esta abordagem tem a intenção de demonstrar, que os passarinheiros podem ser úteis na preservação de várias espécies , evitando que corram o risco de estarem extintas daqui a algumas décadas como poderá estar ocorrendo se nos basearmos nos seguintes itens:

1 – Os desmatamentos, como um todo, tomando como exemplo só restam aproximadamente 7% da mata atlântica . Plantios de soja, café, coco,eucalipto, algodão, etc… vem ocupando cada vez mais lugar nesse contexto e é interessante conotar que esses tipos de plantios não servem de alimento para pássaros granívoros ou frugívoros e que aliados a queimadas e pastos para atender a um rebanho bovino ,de aproximadamente 190.000.000 de cabeças ,perfazem uma área bastante considerável de degradação do meio ambiente .

2 – Vários brejos, próximos ao litoral, vem sendo aterrados e espécies que neles habitavam estão desaparecendo e dentre elas algumas não tanto apreciadas pela maioria dos passarinheiros como: ( coleiras do brejo, azulões , etc… ).

3 – O uso indiscriminado de agrotóxicos conforme o site www.funasa.gov.br, onde no Guia de Vigilância Epidemiológica é citado o caso de Macuxis, em Roraima, onde diversas pessoas foram intoxicadas, fontes de abastecimento de água foram contaminados e milhares de pássaros foram mortos. Tudo isso , supra citado, vêm acarretando prejuízos irreparáveis para o ecossistema.

4 – Observações Gerais: Aves exóticas e pássaros têm sido apreendidos e encaminhados para locais de “readaptação” onde muitos adoecem e morrem e os que porventura sobrevivem , provavelmente, têm sido soltos em áreas distintas de suas respectivas procedências geográficas e também não há avaliação estatística para se saber quantos realmente sobrevivem e se readaptam pois quase sempre são soltos em uma natureza que dificilmente os acolherá , porque não há muito o que comer, e advindo disto muitas espécies como canários , sanhaços e outras têm sobrevivido e estão se reproduzindo em cidades do interior porque nessas cidades essas espécies vêm encontrando alimentação oferecida pelos habitantes locais .

5 – A soltura de pássaros implica em outros cuidados, porque varias espécies são extremamente territorialistas e atacariam os libertados de cativeiro e também porque muitos, quando doentes, são tratados com medicamentos diversos e se curados e imunizados talvez possam , como portadores, transmitir doenças adquiridas em cativeiro para demais pássaros nativos. Como exemplo, a transmissão do vírus da gripe, do frango asiático, com origem ainda não bem determinada, pode ter sido desencadeada por aves aprisionadas, por pesquisadores , identificadas e ,possivelmente, tratadas de determinadas doenças e então depois libertadas. Porém , como já foi mencionado, graças a muitos criadores, varias espécies estarão salvas da extinção pois vem sendo reproduzidas em cativeiro e talvez , no futuro, possam estar tão disseminadas como os periquitos australianos , canários belgas, etc…

6 – As anilhas com o diâmetro interno único , para cada espécie, poderão causar no futuro danos, em pássaros que tiverem tendência de engrossamento das pernas porque, em mesmas espécies, os pássaros diferem entre si em tamanho, espessura de pernas, tarsos, etc…

7 – Os órgãos ambientais poderiam convocar, sem aplicação de penas, os possuidores de pássaros que estão na clandestinidade a legalizar as aves que porventura tenham em seu poder e que poderiam ser anilhadas com anilhas especiais. Com essa medida seria mais fácil dimensionar os pássaros nativos ,em cativeiro, com um controle maior sobre os traficantes que, certamente, não se cadastrariam.

8 – Estimular os possuidores de pássaros a fazer com que seus pássaros se reproduzam em cativeiro e conscientizar a todos, de um modo geral, a não adquirir pássaros clandestinos, conscientizar principalmente os proprietários de áreas rurais a preservar parte da mata nativa de suas respectivas propriedades e que também denunciem os caçadores pois somente com a conscientização a biodiversidade como um todo poderá ser preservada. Um exemplo de conscientização teve início na década de setenta,quando as baleias jubarte e os micos leões dourados, entre outros, começaram a ser preservados e talvez hoje estejam fora da lista dos animais em vias de extinção. Finalizando, conscientização será sempre a melhor maneira de se preservar a biodiversidade.

Notas para efeitos comparativos: Áreas aproximadas – Brasil 8.514.215 Km2 – Amazonas 1.578.820 Km2 – Plantio de Soja 220.000Km2 – Pastos para gado bovino (dados de 1995) 1.782.629 Km2 , ES 46.184 Km2. Fontes: Embrapa e IBGE

Sebastião Ricciardi