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A Estação de Renovação das Penas

Uma visão pessoal sobre este tema.

Como ocorre todo ano, está chegando a época da muda de penas.

Alguns amigos costumam olhar para esta estação com grande descaso. Já que os machos não estarão cantando, nem as fêmeas estarão reproduzindo, decidem adotar um procedimento desleixado.

É para estes amigos, desdenhadores da necessidade de maiores cuidados nesta fase que alertamos: o preço deste descaso será pago na temporada seguinte, com pássaros debilitados e performance prejudicada.

Deveríamos entender a muda de penas como a “estação da renovação”, pois é o momento de recuperarmos um pássaro, garantindo mais disposição e fogosidade futura.

Muda não é doença, quando ocorre na época correta (Outono/Inverno), embora debilite o organismo do pássaro. Deve ser encarada como doença, quando ocorre fora de época. A ocorrência desta hipótese, poderá ser devido a um manejo inadequado, e, ou, debilidades orgânicas. Substituições bruscas na dieta alimentar, também podem provocar a queda de penas.

O que diferencia a “muda fisiológica” da “muda patológica” é a sua ocorrência dentro da estação que empiricamente sabemos ser correta, fruto de longos anos de convivência com os pássaros.

Percebemos mais facilmente a chegada da muda nos machos, pois ele produz menos cantos, ou interrompe suas manifestações canoras. Já nas fêmeas, mesmo tratando-se do principal ativo de um criatério, só percebemos que estão trocando suas penas, quando elas são encontradas no fundo da gaiola.

Porque e quando os pássaros mudam de penas ?

As penas, são anexos de extrema importância à sobrevivência dos pássaros: são imprescindíveis para exercer o vôo; ajudam na regulação de temperatura do corpo; auxiliam como barreira de proteção à penetração de microorganismos; auxiliam as fêmeas na incubação dos ovos e nos machos, tem um papel importante nos cortejos de acasalamento.

A necessidade das penas serem renovadas anualmente, deve-se ao desgaste que elas sofrem com atritos nas grades da gaiola, comprometimento funcional pelo ataque de ectoparasitas (piolhos e ácaros) e pela perda de plasticidade. O processo de renovação das penas é lento, e a quantidade que estarão sendo renovadas a cada momento, está condicionada a condições ambientais e às condições orgânicas do pássaro.

A renovação se inicia através de mudanças hormonais no organismo do pássaro. Estas alterações hormonais ocorrem por estí­mulos que são induzidos, a partir da redução do período de luminosidade durante o dia e oscilações na temperatura. No entanto, não podemos desconsiderar o estresse causado pelo desgaste oriundo da intensa reprodução, ou mesmo, decorrente da intensa atuação durante a temporada de competições.

Vale destacar que pássaros com melhores condições orgânicas vivenciarão melhor esta fase, se comparado, com aqueles que iniciam-na desgastados. Muitos poderão não suportar este período e morrer.

Não nos ateremos à pequena muda que ocorre em pássaros novos (até 4 meses de idade), comumente chamada de muda de ninho, uma vez que ela não promove desgastes e muito menos inspira tanta preocupação, passando muitas vezes despercebida pelas poucas penas que são renovadas. Cabe ressaltar que o criador deve manter-se vigilante, com os machos e as fêmeas indistintamente, pois ambos terão funções importantes na próxima temporada.

É comum observamos na residência de alguns amigos, que quando um pássaro entra na muda, ele engaveta o pássaro (como se a necessidade de luminosidade deixasse de existir), tira a água de banho, reduz a alimentação a um mero alpiste ou fubá, ou, estabelece uma dieta com alto teor de gordura. Obviamente devemos nos acercar de cuidados: com as correntes de ventos, variações bruscas de temperaturas, bem como, evitar empobrecer a dieta.

Pincelando algumas informações da literatura, destacamos que:

– Para a formação das penas as células usam proteínas, aminoácidos, energia e vitaminas, assim como sais minerais.

– No processo de muda, a pele deve receber nutriente, em quantidades suficiente para formação de penas sadias. Esta pena sadia deve ao sair do folí­culo ir desabrochando suas bárbulas.

– O fígado é um órgão vital, para o metabolismo dos nutrientes e formação das penas na ave. O bom estado do fígado, reflete em um empenamento adequado. Casos de problemas de penas podem estar intimamente ligados ao estado de funcionamento deste órgão.

– Usamos muitos complexos vitamínicos com biotina (vitamina H), protetores hepáticos, suplementos de aminoácidos.

– Devemos fazer controle de parasitas intestinais, e bactérias que acometem o fígado.

Como vemos a época de pagarmos o “couvert” pelo canto dos nossos pássaros, e, indenizarmos nossas fêmeas pelos filhotes que foram gerados, é na “estação” de renovação das penas. Com estas medidas garantimos que o pássaro tenha uma bela plumagem, aproveitando para reabilitar alguma deficiência orgânica que possa estar presente no pássaro.

Num ambiente adequado para a ocorrência de boa muda, certamente os pássaros terão sossego, não recebendo estí­mulos desnecessários tais como, esfregar fêmea para forçar o macho cantar.

Alguns amigos preferem reunir num viveiro, grupos de fêmeas que lá permanecerão durante a muda, tentando reproduzir o cenário que observamos no ambiente natural. O viveiro certamente contribui para atenuar o estresse, nos momentos em que ocorre a aproximação do tratador. A desvantagem, é perceber que assumiram provisoriamente um comportamento mais arisco, quando as levamos de volta para gaiola individual, após o encerramento da muda.

No manejo com os CTs, durante o perí­odo de muda, costumo adotar a seguinte dieta:

Farinhada: um comedor de unha diariamente;

Complexo vitamí­nico: 3 vezes por semana na água do bebedouro.

Complexo de aminoácidos: todos os dias na água do bebedouro.

Não custa lembrar que o macho que faz uma boa muda, retorna na alta temporada com muita fogosidade para o canto, e, sem o risco de não conseguir fertilizar os ovos. Para as fêmeas, reduz o risco de não entrar no ciclo reprodutivo, e botando a quantidade de ovos que sua genética permite.

Ivan de Sousa Neto

1º Diretor de Canto de Canário da Terra – COBRAP

Escrito por Ivan de Sousa Neto/Campinas-SP, em 25/3/2005

A lida com canários da terra

Aspectos do Manejo

Eu não tenho experiência em roda de fibra, mas na criação de mutações ainda não vi nenhum canário “femear” com outro mutante. Até com as fêmeas é uma dificuldade fazer o cruzamento, porque nem macho mutante com fêmea mutante se reconhecem. Tem casos que a fêmea dá gala, mas o macho não quer. Então, temos que usar uma opção entre várias, como: 1) habituar desde novo o macho a galar qualquer fêmea mutante; 2) habituar desde nova a fêmea a aceitar qualquer macho mutante; 3) formar um casal e mantê-los acasalados; 4) pintar a fêmea mutante ou o macho mutante; 5) fazer o cruzamento bem cedo, ainda meio no escuro (às vezes dá certo). Estes são alguns dos artifí­cios que eu uso. Acredito que você tenha também que usar alguns “truques”.

Raramente, como exceção, eu vejo CT macho galar qualquer fêmea, até de CR, e de todos que vi, são os canários mais fracos (corridos).

Há até casos mais interessantes: o Fuji tem uma canária que, ao que tudo indica, não alimenta os filhotes mutantes. Eu tenho uma fêmea mutante que cuida bem de todos os filhotes até a saí­da do ninho. Quando saem, ela mata os filhotes mutantes e cuida somente daqueles de cor normal.

Acredito que isso faça parte do processo de seleção natural, já que os mutantes seriam uma anormalidade, o que faz com que nem os de cor normal, nem os próprios mutantes reconheçam os mutantes, não somente por sexo, mas também, na maioria das vezes, como da mesma espécie.

Concluo, portanto:

1) Os mutantes não interferem no rendimentos dos demais canários, na roda de fibra, salvo raríssimas exceções (em tudo há exceção, por isso que existem regras), e nas exceções deve ter até macho que “femeia” com outro (o tipo que o Augusto/Ibitinga procura – risos), então para um desses, tanto faz que o seu vizinho seja mutante ou não;

2) canário de roda, normalmente não é “femeado” ou mesmo que seja, é agressivo com qualquer fêmea que não seja a sua. Quando “femeia”, esse comportamento não dura muito, ainda mais com outros cantando, que deixam ele ainda mais bravo (até com sua fêmea, se for o caso);

3) Para quem faz treinamento no mato, nota-se que o canário fica disputando com o macho livre e não “femeando” com a fêmea livre, quando tem um casal por perto;

4) canário bom de roda, entre tantos, não vai “amolecer” por causa de alguns mutantes por perto, e mais ainda se os mutantes estiverem cantando.

Mas sempre tem algum fator a justificar o fraco desempenho: “o canário não está no seu dia”; “o vento”; “o frio”; “a chuva”; “a roda mal feita”; “a roda de fora”; “a roda de dentro”; “os transeuntes”; “a pomba que voa no recinto (ou sobre a estaca)”; “o avião que passa rasante (que quase matou o Faxina de medo do Guga assustar, em Ribeirão – o Faxina emudeceu e o Guga continou cantando, sequer cortou o canto, não foi Claudiney? … risos)” etc.

Se for considerar todos os fatores, os mutantes, se assim podem ser considerados, tornam-se insignificantes e precisaria criar um sistema e um regulamento para cada pássaro individualmente.

O que falta, em muitos casos, penso eu, é uma melhor preparação do pássaro competidor, para enfrentar toda e qualquer situação possí­vel.

Veja um exemplo, comum com os curiás, principalmente os pardos, na estaca de canto (que á o que mais tenho acompanhado): os curiozeiros treinam os pardinhos para passear de mão, de carro, encapado, vários lugares…, mas não os treinam a cantar sob arvoredos. Chega no torneio, se a estaca estiver sob uma árvore, o bichinho fica olhando pra cima, passa os 5 minutos e ele não canta. Se for muito bom, canta assim mesmo, mas a maioria estranha, e muito. Aí o dono põe no passarinho a culpa que é dele, que não treinou direito.

Se estou certo, não sei, mas tem leitura aqui pra passar o dia…

Valdemir Roberto Ribeiro de Barros

Escrito por Valdemir Roberto Ribeiro de Barros, em 26/8/2004