Criação do Tico-Tico

Eles são pássaros maravilhosos no canto, e sua criação requer muita atenção aos detalhes que eu diria serem simples !!

Na natureza tem hábitos rasteiros, inclusive para a confecção dos ninhos. Nas gaiolas, eu dou preferência a colocá-los na parte inferior das voadeiras.

Bem, para começar bem é necessário que você adquira um bom casal de um criador idôneo, seja ele amadorista ou comercial, porém com o devido registro de nascimento do pássaro em cativeiro. Adquira somente pássaros de boa procedência !

Prepare a gaiola ( eu uso a G3 da Esteves ), colocando várias opções de ninhos. Eu coloco ninhos de canários e de bicudos para que a fêmea escolha o que melhor lhe convier. Além disso, disponibilize-os em grande quantidade e em locais diferentes. Somente assim consegui dar opções a fêmea que antes gostava de botar os ovinhos no fundo da gaiola ! Se ela fizer isso coloque um ovo de plastico em um dos ninhos que certamente ela irá botar o próximo ovo neste ninho ! Aqui em casa funcionou assim !

O macho eu somente soltei no momento em que a fêmea preparou o ninho e pediu gala !

Bem, escolhido o ninho, ( ah, não esqueça de colocar bastante material para a confecção do ninho ), ela fará a primeira postura. Retire o ovo e guarde em um local seco com a parte mais fina para baixo. No lugar deste, coloque um ovo de plástico de canários !

No dia seguinte repita o procedimento com a postura dos demais ovos, que pode variar de 2 a 3 ovinhos.

Quando perceber que ela iniciou o choco, devolva a ela seus ovos e a deixe chocar ! Neste momento você poderá ou não separar o macho ! Eu já criei com o macho junto e também separando o mesmo ! Tudo vai depender de você reparar se o macho deixa a fêmea chocar tranquilamente ! Em caso de machos muito fogosos, ele poderá quebrar os ovos para galar novamente ! Nesse caso, basta colocar a grade de separação e deixa-la tratar sozinha dos ninhegos.

Bem, quanto a alimentação, este é um item importantíssimo ! Quando os pássaros na natureza percebem que a disponibilidade de comida e água será pequena, os mesmos não criam ! Isto é instinto de proteção !

Neste caso, ofereça uma grande fartura de comida, devidamente equilibrada ! Aqui no meu criadouro meu veterinário prepara a mistura balanceada que vai alpiste, painço branco, amarelo, verde e preto, cânhamo, perilla, linhaça e arroz cateto. Além desta mistura, oferecemos separado uma papa de frutas cristalizadas além da farinhada com ovos.

Não esqueça que a larvas de tenébrios são fundamentais ! Água ´limpa e filtrada trocada diariamente também !!!

Com isso, a certeza de cria e sucesso na proliferação de lindos filhotes será certo !

Não esqueça de anilhá-los entre o 4 e 5 dia de vida, com anéis invioláveis conseguidos através do IBAMA. Para isso cadastre-se no site http://www.ibama.gov.br/sispass , pague a taxa de anuidade e siga as orientações.

Muitos outros ciradores tem técnicas parecidas e algumas coisas diferenciadas, que varia de região e conhecimentos, mas via de regra, o básico é isso !

Pelo menos no nosso criadouro está funcionando bem !

Eduardo de Barros Oliveira – Duda de Santo André SP

 

Em busca do canto perdido

Criadores de curió de Florianópolis

Criar curiós é paixão antiga para os manezinhos, como são conhecidos os florianopolitanos da gema, nascidos na ilha de Santa Catarina. Dizem até que, para reconhecer um deles, basta conferir se o sujeito tem o dedo indicador em forma de gancho, de tanto segurar na alça da gaiola para passear com o passarinho. A história é verdadeira apenas em parte. Qualquer passarinheiro de verdade e manezinho legítimo sabe que gaiola não se carrega pela alça com o dedo, mas pela base, com a mão espalmada. Sair com o curió faz parte do treinamento básico para os acirrados torneios de canto que volta e meia movimentam Florianópolis. ‘Curió é igual criança: fica faceiro quando sai para dar uma volta. Aí ele canta melhor, com mais alegria’, diz o criador Aldo Machado. ‘E o passarinho também precisa se acostumar com o mundo para não estranhar quando tiver de sair de casa para competir.’

CURIÓDROMO Torneios de canto de curió existem em todo o Brasil, do monte Caburaí (RR) ao Arroio Chuí (RS). Mas só em Florianópolis existe curiódromo, uma arena especialmente construída para abrigar esse tipo de competição em suas diversas modalidades. Além disso, os criadores de Santa Catarina estão conseguindo resgatar o canto nativo dos curiós que, até décadas atrás, ainda viviam em estado selvagem na faixa de Mata Atlântica que ia do município de Palhoça a Camboriú. Chamado de canto Florianópolis, ou canto Catarina, é tido como um dos mais belos sons que um curió pode emitir. E que por pouco não se perdeu. ‘O canto Florianópolis é mavioso, melodioso, agradável ao ouvido’, diz o ornitólogo Aloísio Pacini Tostes, um dos maiores especialistas em pássaros no país e presidente da Cobrap – Confederação Brasileira dos Criadores de Pássaros Nativos.

Segundo o criador Machado, curió é que nem criança. Fica faceiro quando sai para dar uma volta, e aí canta melhor

Para os entendidos, o canto Florianópolis tem duas características que o tornam tão especial. Uma é o que os criadores chamam de alteada de canto, um assovio em que o curió repete duas notas que mais ou menos se parecem com um ‘tiui-tiui’, algo único entre os cantos brasileiros. A outra característica é o arremate, apelidado de pandeirinho pelos aficionados, que pode ser traduzido como três assovios bem rápidos e curtos com os quais o passarinho encerra o canto, um ‘qui-qui-qui’ de deixar maravilhados os juízes das competições, pois nem todo curió consegue acertar essa parte do canto. ‘De tão difícil de o passarinho aprender, o pandeirinho é opcional, segundo o regulamento. É a cereja do bolo’, explica Dirço Amaral, dono do criadouro Biguaçu, feliz da vida com seus curiós Regente e Guri, capazes de executar o canto Florianópolis à perfeição, com ‘qui-qui-qui’ e tudo.

No Brasil chegaram a ser catalogados mais de 100 tipos de cantos regionais, como o Florianópolis, o Paranaguá, o Paracambi, o Vivi Tetéu e o Vovô Viu. Quando os curiós viviam em estado selvagem – situação que hoje praticamente só existe em algumas regiões do Norte e Nordeste – o canto se mantinha geração após geração. Mas cantos como o Florianópolis começaram a correr risco de extinção quando ficou mais fácil encontrar curió em gaiola do que na mata. Para formar bons competidores, os criadores punham os filhotes a ouvir cantos gravados em fitas cassete ou em CDs, para que os curiozinhos ouvissem direitinho como teriam de cantar. Acontece que, mais organizados, os criadores paulistas saíram na frente e impuseram ao país o chamado canto Praia Grande, originário do litoral de São Paulo, que logo se tornou padrão nacional. ‘Na verdade, o canto Praia se tornou uma grande indústria, que por pouco não engoliu os diversos cantos regionais’, diz Jorge Guerreiro Heusi, dono do Sítio do Curió, um dos criadouros especializados no canto nativo.

Publicado da Revista Globo Rural

Escrito por Gladinston Silvestrini, em 6/7/2004