Melro

Considerações sobre os Pintagóis

Pintagol Azul – Como obtê-lo?

O artigo abaixo tem por finalidade dar algumas informações técnicas sobre acasalamentos entre Pintassilgos e Canárias para obtenção de Pintagóis cinzas. A tradição entre os passarinheiros que se dedicam à hibridação é que deve-se utilizar Canárias Brancas para obtenção destes desejados e belos pássaros. O comportamento dos fatores Branco Recessivo(BR), Branco Dominante(BR DO), Albino(AL) e Albino Dominantes(AL DO) serão demonstrados nas linhas que se seguem. Serão dadas informações adicionais com relação ao fator enzima que está relacionado à pigmentação melânica.

 

Branco Recessivo (BR)

A cor BR é um fator recessivo autossomal (não ligado ao sexo) e como todo fator recessivo necessita para obter-se individuos puros que cruzemos pelo menos dois portadores de tal fator. Nesse caso, não nascem pintagóis cinzas(técnicamente azuis) somente pelo fato de ser cruzado uma canária BR porque esse fator não faz parte do patrimônio genético dos pintassilgos. Uma possibilidade de nascerem é introduzirmos esse fator no patrimonio genético do pintassilgo ou que naturalmente, por mutação, apareça um fator análogo à esse nos pintassilgos. Outra possibilidade é utilizarmos os filhotes F1 do cruzamento pintassilgo x canária branca. Pois, os filhotes F1 serão portadores de recessivo. Esse tipo de cruzamento não é utilizado pelos criadores pois, muitos alegam que os F1, em muitos cruzamentos são estéreis ou que a taxa de fertilidade é baixa e portando não valeria a pena. O comportamento genético do BR é demonstrado na tabela abaixo:

 

Macho

Fêmea

Prole

 

BR

BR

100% BR

 

PORTADOR

BR

50% BR e 50% PORTADORES

 

BR

PORTADORA

50% BR e 50% PORTADORES

 

PORTADOR

PORTADORA

25% BR , 50% PORTADORES e 25% NÃO PORTADORES

Branco Dominante (BR DO)

O fator Branco Dominante(BR DO), como o próprio nome diz, é um fator que domina o lipocromo(cor de fundo amarela ou vermelha) mas, não elimina totalmente restando na gordura do corpo e na plumagem, preferencialmente, apenas incrustrações de lipocromo nas remiges do pássaro. O comportamento é demonstrado na tabela abaixo, tomando por base o cruzamento com pássaros de cor de fundo amarela.

 

Macho

Fêmea

Prole

 

BR DO

AMARELA

50% BR DO e 50% AMARELOS

 

AMARELO

BR DO

IDEM

Portanto, num cruzamento entre uma canária BR DO e um pintassilgo, teremos 50% de pintagóis fundo amarelo e 50% Azuis Dominantes. Para obter-se pintagois azuis dominantes pode-se usar qualquer canária de fundo BR DO, como seguem abaixo alguns exemplos:

Azul Dominante(AZ DO)

Canela Prateado Dominante(CN PR DO)

Agata Prateado Dominante(AG PR DO)

Isabelino Prateado Dominante(IS PR DO)

 

Além logicamente das tradicionais canárias brancas dominantes. A vantagem da utilização de canárias de cor escura é que tendemos à aumentar a aceitabilidade por parte dos pintassilgos. Também aumenta essa aceitabilidade utilizarmos canárias de médio para pequeno porte.

 

Albino(AL)

O comportamento dos albinos(AL) é análogo ao BR e dos Albinos Dominantes é análogo aos BR DO, no que diz respeito à cor de fundo branca e branca dominante. Porém, o dito albinismo nos canários não é realmente albinismo. Pois, o albinismo é também um fator autossomal recessivo e portanto, como já dito, necessitaríamos de pelo menos dois portadores para obtenção de um indivíduo albino real. A cor vermelha dos olhos dos canários é dada por um fator sexo-ligado, chamado acetinado ou satinee. Esse fator originalmente apareceu nos canários de linha escura e depois, por cruzamento e seleção transferido para a linha clara, gerando os Albinos(Brancos de olhos vermelhos), Lutinos(amarelos de olhos vermelhos) e Rubinos(vermelhos de olhos vermelhos). O que criou-se foi uma fenocópia dos canários albinos reais. Se utilizarmos canárias albinas dominantes AL DO, obteremos o mesmo resultado do BR DO porém, os machos F1 seriam portadores do fator acetinado. Se for possível utilizarmos os machos F1 com canárias albinas poderíamos obter machos e fêmeas de olhos vermelhos. Abaixo o comportamento do fator acetinado(AC) nos albinos:

 

Macho

Fêmea

Prole

 

AC

AC

100% AC

 

PORTADOR

AC

50% AC Machos e Fêmeas, 25% Fêmeas normais e 25% machos portadores

 

PORTADOR

NORMAL

25% Fêmeas AC, 25% Fêmeas Normais, 25% machos portadores e 25% machos não portadores

 

NORMAL

AC

50% Fêmeas Normais e 50% Machos Portadores

Fator Enzima (E)

Existe também um outro fator envolvido quando pensamos em canários de linha clara(BR e BR DO ou AL e AL DO ou Amarelo ou vermelho). Esse fator é chamado de fator enzima(E) e é responsável pela depósito de pigmentos melânicos na plumagem da ave e demais tecidos. Isso explica o depósito de pigmentos melânicos nos pés, unhas, patas e bicos de mauitas aves. O fator enzima original, em homozigose, propicia esse depósito de pigmento melânico na plumagem e demais tecidos. O seu alelo mutado(e) quando em homozigoze faz com que o pigmento melânico não seja depositado na plumagem e demais tecidos mas, não afeta o lipocromo(cor de fundo amarela ou vermelha). Quando acontece a heterozigose desses genes, ou seja, um indivíduo E/e, o resultado é um pássaro pintado. Isso explica o aparecimento de pintagóis pintados em nossas gaiolas. Segue na tabela abaixo o comportamento do fator enzima.

Fator

Prole

 

E/E

100% Melânicos

 

e/e

100% Não Melânicos

 

E/e

100% Pintados

 

Conclusão

Levando-se em consideração que quando utilizamos Canárias albinas(AL ou AL DO) temos pelo menos três fatores envolvidos portanto, o leque de possibilidades aumenta. Aumentando consideravelmente as possibilidades de novas cores para os híbridos obtidos. Para obtermos Pintagóis de plumagem exclusivamente escura devemos usar também preferencialmente canárias de linha escura, como no exemplos dados acima. Acredito que deveríamos, impulsionar o hibridismo em nosso país, pensando na variedade de raças e cores que poderíamos desenvolver à exemplo do ocorrido com os canários. Poderíamos transferir fatores de um a outro e assim criarmos pássaros sensacionais.

 

Glossário:

BR – Branco

BR DO – Branco Dominante

AL – Albino

AL DO – Albino Dominante

AC – Acetinado ou satinee

Homozigose – par de genes alelos iguais

Heterozigose – par de genes alelos diferentes

Pigmento Melânico – pigmento negro ou marrom que colore a plumagem e outros tecidos do corpo

Fator enzima – fator responsável pelo depósito do pigmento melânico

Híbrido – produto do cruzamento de indivíduos de espécies diferentes

 

05/maio/2003.

J.Bernardino.

Consultor Técnico COBRAP – www.cobrap.org.br

Membro do grupo – Sítio dos Carduleis – carduelis@grupos.com.br

 

Necessária Transação Legal

Procedimentos legais

Nosso comprometimento é, deve ser e tem que ser, com a preservação. A sociedade permite que nós exerçamos nossas atividades de realizações de torneio e outras, porque entende que estamos efetivamente reproduzindo as aves em ambientes domésticos. A ação dos efetivos criadores é que tem facilitado sobremaneira esse entendimento. Isto porque eles é que tem suprido a demanda do mercado com seus filhotes nascidos domesticamente. Tudo é importante, a ação das autoridades, dos clubes, das federações e dos sócios, cada um fazendo a sua parte. Mas o trabalho exercido nos criadouros é a base de tudo, sem isso, nada existiria. Teríamos forçosamente que parar com o nosso hoby. Será que alguém tem dúvida disso? Nossa responsabilidade, então, é grande. Temos a obrigação de assegurar aos nossos descendentes a oportunidade de conhecer, de ouvir e de possuir um pássaro, bem como manter a biodiversidade na natureza. Nós passarinheiros não podemos renunciar a isto, não podemos delegar essa tarefa a ninguém, a missão é nossa. Precisamos, sim, da ajuda constante dos técnicos do IBAMA, dos políticos, dos outros preservacionistas e da sociedade em geral. Os técnicos nos apoiando e os políticos produzindo legislação cada vez mais adequada e atualizada, e os preservacionistas vigilantes quanto às agressões à natureza. Cada um respeitando o trabalho do outro e todos fazendo sua parte, sem nenhum radicalismo ou sensacionalismo. Qual é o objetivo de tudo isto, e o que é que queremos, não é evitar a extinção das espécies? No ritmo de destruição ambiental como a atual, como estará a Terra daqui a duzentos anos ou daqui a mil anos… Quantos bilhões de pessoas seremos e que espaço teremos em nosso planeta… Numa visão exclusivamente real, vale a pergunta: como estarão, na oportunidade, o meio-ambiente, e os animais, principalmente aqueles que não estiverem sendo cuidados? Solução: “Parques Nacionais e Criação Doméstica”. Precisamos adotar cada vez mais isto. Será que existe outra saída? Nunca é demais falar nisso. Todo aquele que reproduz, pequeno ou grande deve merecer os maiores elogios e respeito. Por isso é que a atividade exercida por esse criador deve ser muito facilitada. O que ele precisar em termos de legislação, de informações, de apoio, de incentivo e de reconhecimento, lhe deve ser oferecido. Isto está acontecendo? Talvez, em parte. Muita coisa precisa ser colocada, ainda, em prática, para que tudo isso seja efetivamente ofertado, a quem merece. Ai, a responsibilidade já é da própria sociedade como um todo, ela é que tem a obrigação de apoiar as pessoas que se dispõem a exercer o trabalho de reprodução de qualquer tipo de animal. Assim, os que tem a função, de representar os interesses de todos, precisam, a todo tempo, não descurar disso. Achamos, por exemplo, que já era hora do poder público, do Brasil, prestar homenagem, dais mais importantes, a Marcílio Picinini o mestre de todos nós, que além de estar reproduzindo milhares de filhotes por ano, passa, ainda, todas as informações aos outros interessados que o procuram, ensinando a sua correta tecnologia. Ele provou que se pode procriar bicudo e curió, com qualidade, assim como se cria canário-do-reino adotando as formas mais avançadas de manejo. Hoje são centenas de criadouros espalhados pelo Brasil, em número sempre crescente. Um exemplo para qualquer País. Isto é de fácil constatação. Ficamos sabendo que há no exterior movimentos para homenagear Marcílio. Vamos deixar isto acontecer? Será uma vergonha. De outro lado temos a função da imprensa, que também é muito importante. Será que ela está tendo também a visão de futuro? Seu papel de bem informar e de passar para a opinião pública mensagens positivas e esclarecedoras. E a ação de alguns organismos internacionais que exigem dos países, às vezes, atitudes não muito bem transparentes quanto às questões do meio-ambiente.

Será que eles tem nos ajudado sempre? O que nos interessa, sobretudo, é: o que está se fazendo, no Brasil, a favor da criação e de tratar igualmente o criador da ema, da arara, da capivara, do macaco, do jacaré, da tartaruga, dos peixes, das aves e em especial dos pássaros canoros. Cada povo que cuide de seus bichos. Nós brasileiros devemos cuidar dos nossos, em primeiro lugar. Se algum País quiser nos ajudar, sem nenhum compromisso nosso no sentido de cumprir exigências descabidas, ótimo. Contudo, não adianta só reproduzir, é preciso transferir, transacionar, abastecer o mercado e poder suprir todas as necessidades da demanda, inclusive do exterior, se vier. É preciso exercer repovoamento, quando for o caso e quando necessário, buscando os exemplares na criação doméstica. É preciso, ter facilidade para comercializar legalmente, para transportar, para remeter e tudo o mais. Logicamente, com respeito às normas e as limitações permitidas na lei, sem exageros de interpretações radicais. Como é que um criador de São Paulo pode remeter um filhote de curió para outro passarinheiro em Porto Alegre? Tem que haver um meio racional, não restritivo. Não há outra forma melhor, para combater a caça predatória e tráfico ilegal do que a comercialização de filhotes domésticos e registrados que tem muito mais qualidade. Mas é preciso que isto esteja claro e que os procedimentos estejam definidos por quem de direito. Não podemos deixar de dizer, como sempre dissemos, que somos visceralmente contra todo tipo de predação à natureza. Não estamos querendo nenhuma facilidade para transacionar aves “de origem desconhecida” . Não queremos é burocracia. Para que? Para dificultar a vida do criador. Transferir de dono uma ave é muito simples. Já imaginou se toda a vez ele tiver que ir até a sede de seu clube, às vezes em outra cidade, pegar a assinatura do presidente no CTP, ir até o escritório do poder público, às vezes em outra cidade, pegar outro certificado, pagar as despesas no Banco, ir até o veterinário para o necessário atestado sanitário. E tudo o mais, é muita dificuldade. O pior é que mesmo fazendo isto o criador ainda encontra o obstáculo da desinformação dos responsáveis por cada uma das funções. É de doer. É inviável e desestimulante Melhor dar um “jeitinho” ou criar exótico, tipo periquito ondulado, canário-do-reino, entre outros. Para eles tudo é facilitado. Não dá para entender. Porquê? Somos ou não somos brasileiros, vamos ou não proteger os nossos animais, como prioridade. Proteger numa visão ampla, quer dizer: coibir a caça predatória, punir os comerciantes ilegais, responsibilizar os que agridem de todas as formas o meio-ambiente. Quer dizer, também, apoiar, incentivar, facilitar as ações e homenagear todos aqueles que lutam, que dão o melhor de si e que dedicam a sua vida à nobre causa de reproduzir aves domesticamente. Esse tipo de preservacionista precisa, também, urgentemente desse tipo de reconhecimento.

Escrito por Aloísio Pacini Tostes, em 2/9/2003