Momento Turbulento

Seriedade

Estamos passando dias complicados; muita confusão, de um lado os meios de comuniçáo, cada vez mais noticiando matérias oriundas de quase todas as regioes do Brasil, sobre o meio ambiente e os respectivos escandalos decorrentes da mostra de aves mortas e mal tratadas e a nefasta açao de traficantes. Dizem que sao milhoes de aves traficadas no mundo inteiro e que sao bilhoes de dólares movimentados. Demonstrando uma preocupante situaçao, embora se saiba que esses numeros sao projeçoes e estao superestimados em muito. De outro lado, o clamor publico e a necessária vigiläncia da sociedade organizada e do poder publico com as questoes do meio ambiente; notadamente o ministerio publico e o terceiro setor (ongs). É muita gente envolvida, uns por interesses escusos (traficantes, corruptos, sacripantas, etc…) outros por reais e autenticas razoes e no meio disso tudo estão os mantenedores, colecionadores, reprodutores, criadores, marchants, sociedades, federações. O grande problema, na realidade, é separar o joio do trigo, separar o que é tráfico, o que é legal, ou o que pode ser legalizado; essa é a questao. Isso tudo tem dado muito trabalho, sem contar o desgaste que vem causando, especialmente junto daqueles que agem com seriedade e que em muitos momentos estão sendo questionados na sua boa fé ou confundidos com aproveitadores. São muitos os problemas, a saber: o que fazer com as aves apreendidas e socorrë-las imediatamente em favor de sua integridade física; uma política pública tipo um plano de manejo sustentado de nossa aves; a demora na aprovação dos projetos de criadouros comerciais, notadamente daqueles que eram criadouros amadoristas; a marcação e o cadastro dos animais sem registro que não podem ser soltos na natureza, mas que precisam ser separados do tráfico; como fazer para que os criadores adotem o sistema Renaves para dar aparëncia as suas atividades; a efetiva estimulação, como está na Lei, por parte do Poder Público, e da implantação dos criadores ditos industriais. Tem-se ainda que responder aqueles conhecidos como radicais e que são contra a manutenção de aves em ambientes domésticos sob qualquer pretexto, mesmo que seja para reprodução; ressalte-se que não se pode questionar se é certo ou errado, sem levar em conta a questão legal, reproduzir aves em ambientes domésticos levantando a hipótese de que isso seria um tipo de crueldade, ou de atraso como alguns supoem. Se assim for, precisaríamos rever muitos outros valores e conceitos que uma sociedade pode ter. Basta dizer que o mercado de Pet é o terceiro que mais cresce no mundo, são 22% dos lares brasileiros que detém aves correspondendo a 9 milhões de pessoas. Os passos estão sendo dados incessantemente busca da verdade; aí é que se precisa de um pouco de racionalidade para poder tratar a questão com muita isenção, o que nem sempre acontece, são incompreensões e prepotëncias de toda sorte, ás vezes, servidores públicos de muito setores que são pagos para zelar pelos altos interesses da sociedade, confundem-se e passam a tratar os problemas com subjetivismo que não ajuda em nada no respectivo saneamento. As tentativas de solução são muitas, o IBAMA, por sua vez, para por fim a distribuição indiscriminada de anilhos publicou instruções normativas e chamou para si essa tarefa, vencendo agora no dia 31.12.02, o prazo para cadastramento dos passeriformes junto ao Órgão; esperamos que a atitude surta efeito e que os Clubes e as Federações que agem com seriedade possam atuar com o respeito de todos e exerçam suas atividades com tranquilidade; está para sair uma normativa nova e por certo irá aprimorar e atualizar os respectivos procedimentos. Já o ministério público está atuando, agora com mais ënfase procurando agir preventivamente, uma vez que punir depois o crime feito, ãs vezes não repara o mal causado ao ambiente. A atuação das Ongs, especialmente a Renctas , tem sido incessante e provocado inúmeros seminários de conscientização da sociedade, em especial a audiëncia pública junto à Câmara Federal, onde vários segmentos puderam expor suas atividades; a atuação das Ongs, desde que não haja radicalismo e sim o bom senso, é muito salutar e fundamental para que se tenha uma justa cobrança de procedimentos às autoridades é preciso, todavia que essa cobrança não fique apenas na denúncia/punição e para para efetivas açoes. Recentemente, a instituição na Cämara Federal de uma CPI sobre o Trãfico de Animais e Plantas Silvestres, provavelmente o evento mais importante nesses últimos anos, que visa buscar a transparëncia de toda esta celeuma; estamos depositando todas as esperanças em que a Comissão efetivamente encontre a verdade e possa indicar caminhos para uma nova e boa regulamentação que vise uma solução profícua e duradoura para todo o segmento que trabalha com a reprodução de aves. A verdade de tudo é que , mesmo com todos esses problemas, pelo menos no nosso segmento o de criadores de passeriformes, estamos dando um exemplo para o mundo, somos hoje , mais de duzentos reprodutores de pássaros, notadamente de curiós, bicudos e canários da terra, que estão livres da extinção, por isso, são milhares reproduzidos , cerca de 15.000 espécimens no total do ano. Importante dizer que todo esse trabalho iniciou-se há poucos anos, agora é que estamos tomando pé de toda a situaçáo, estamos ainda nos organizando, nos estruturando para o futuro. Não precisamos mais capturar animais na natureza para exercer a procriação deles, o estoque existente, em poder dos criadores, é mais do que sufuciente para assegurar as respectivas atividades. Doravante, com ajuda da Internet, do controle informatizado, teremos que mostrar o nosso trabalho, e com prazer, ou todos sucumbiremos. Acreditamos, na verdade, que daqui para a frente não haverá espaço para o engodo, para a mentira, ou se reproduz de forma efetiva com seriedade e com muita dedicação ou não se terá mais condições de se manter uma ave nativa em seu poder. Vamos, no entanto, investir no positivo, resguardando o que há na natureza, estimular a reprodução domestica dos que assim estão, para suprir a demanda e em conjunto com as autoridades, buscar sair desse momento turbulento que estamos, acreditanto que somos muito capazes de promover a preservação da avifauna nativa de nosso Brasil.

Escrito por Aloísio Pacini Tostes, em 2/9/2003

Manifesto de esperança

Legalidade transparente

Mesmo diante da bestialidade na política internacional (com o risco de uma guerra iminente), vejo em nosso cotidiano o melhor momento já vivido por todos nós.

Lembro-me de uma fase anterior onde tínhamos enorme dificuldade para dar a devida transparência e legalidade à nossa atividade, pois, por maior que fosse o nosso desejo, e por mais correta que fossem as nossas ações, tínhamos um entrave, na figura de maus dirigentes que insistiam que boicotássemos as regras definidas pela legislação, e, quantos de nós sentia-se desconfortável diante de tudo isto. Bons e maus passarinheiros eram permanentemente confundidos, como se jogássemos no mesmo time, compartilhássemos dos mesmos princípios e agíssemos com os propósitos mais nefastos. Desta forma a sociedade não poderia ver-nos de forma diferente.

Mesmo sabendo que a transição que vivenciamos nos últimos 2 anos tenha sido tumultuada, o que mais importa na minha opinião, é que estamos diante da nova Instrução Normativa (nº 01 de 24/01/03), que, uniformiza os critérios em todo o território, harmoniza a relação entre Amadores e Comerciais, e com a tutela e controle do IBAMA, poderemos ver-nos livres de Blocos de CTPs impressos no fundo do quintal, produção aleatória de anilhas e anilhamento irregular de pássaros. Ironicamente não soubemos encontrar alternativas de reorganização, sem que ocorresse a intervenção do IBAMA e submetendo-nos à tutela de um órgão público. Aguardamos que esta nova portaria torne-se lei, dando um caráter definitivo das regras que teremos a partir de agora.

Sabemos que ainda existem ajustes a serem feitos, no entanto, não deixo de ver tudo o que está ocorrendo sob uma nova perspectiva. A partir de agora novos Clubes surgirão, com uma nova forma organizativa, atuando sob um novo prisma que não seja o de “meros despachantes”, algo que era-nos imposto para permanecermos na atividade. Aliado a isto, os dirigentes que não mostrarem disposição de livrarem-se do velhos vícios, desaparecerão do nosso segmento, dada a dificuldade que encontrarão, e particularmente torço por isto.

Com regras claras e critérios uniformes, finalmente conseguiremos estabelecer a atividade do Criador Profissional de Passaros, um potencial de atividade econômica que esteve latente por tantos anos, com know how dominado por muitos, mas que por falta de uma legislação adequada, deixou de gerar empregos e riqueza para o nosso país. Acreditamos que num futuro não muito distante, teremos Criatórios com produção de pássaros em escala, abastecendo as Pet Shops, exportando para América do Norte, Europa e Ásia, estimulando os centros de pesquisas em desenvolver novos produtos, incrementando a atividade dos laboratórios e fábricas de acessórios, redundando em melhores produtos que beneficiarão principalmente a nossa atividade amadora.

Neste cenário de mudanças, temos a COBRAP – Confederação Brasileira dos Criadores de Pássaros Nativos, representando o marco da reconstrução do cenário ornitolófico, contribuindo para que nossa atividade caminhe sob uma nova ordem, integralizando toda a atividade do nosso segmento, assegurando o entendimento permanente com os órgãos públicos e representando-nos como o principal interlocutor nas distintas formas de divulgação da nossa atividade.

Diante de tudo isto, vale lembrar o slogan da COBRAP “Paz, União e Seriedade”, que acredito que deva prevalecer nas nossas mentes, como um objetivo permanente a ser buscado, deixando-nos cada vez mais a vontade para focar nossas atenções, na reprodução e manutenção dos nossos pássaros.

Escrito por Ivan de Sousa Neto, em 2/9/2003