Tributo a quem Merece

Criadouro Picinini

Lemos uma matéria muito interessante no último informativo SERCA relacionada ao respeito que todos os passarinheiros devem ter com aqueles criadores que praticam a reprodução doméstica. Não era sem tempo. É preciso a todo o momento relembrar o que ali está escrito: “a sociedade só aceita e permite que mantenhamos pássaros nativos em nossas gaiolas porque sabe que estamos praticando a reprodução deles”. Se alguém tem dúvida, gostaríamos de saber; será que há outro motivo?. Podem ter a certeza que não. Todo tipo de passarinheiro deve homenagear a todo momento esses abnegados. Já que estamos falando disso, vamos tocar no passado; falar de nossa história. No início dos anos 80 não tínhamos qualquer regulamentação que nos resguardasse, não havia qualquer orientação, não podíamos transacionar nossos filhotes, estávamos todos na irregularidade. Nossos torneios estavam ameaçados e quem passou pela experiência sabe dos transtornos que tínhamos para viajar aos eventos com nossos pássaros. A todo momento surpreendidos nas estradas; que dificuldade. Para provar que não éramos caçadores e nem depredadores; que problema. A documentação que detíamos não convencia ninguém. Foi um grande constrangimento para todos. Daí, iniciamos um trabalho de contatos com os técnicos do IBDF, hoje IBAMA, para convencê-los que tínhamos uma proposta muito interessante a fazer, “realizar um trabalho sério de preservação” e através de gestões internas de convencimento passar para os passarinheiros que precisávamos, doravante, cumprir o que estávamos prometendo. Foi preciso uma mudança de mentalidade. No começo, muito difícil, como provar que tínhamos honestidade de propósitos, como provar, ao poder público, que muitos de nós já praticávamos com sucesso a reprodução. A solução foi levar os respectivos técnicos aos locais onde a reprodução estava acontecendo. Foi o que fizemos, as nossas custas. Levamos alguns deles à Cuiabá, ao Rio de Janeiro e a outros locais onde se praticava a reprodução de bicudos e curiós. Todavia, a decisiva, a que mais convenceu a todos foi uma filmagem que fizemos no criadouro de Marcílio Picinini em 1986. Pagamos muito caro a profissionais de Juiz de Fora (MG) para fazer, sob nossa supervisão, um fita profissional “UMATIC” para depois de editá-la em VHS. Levamos uma cópia e passamos em vários departamentos do IBAMA em Brasília. Quem mais poderia ter dúvida, a preservação do curió estava assegurada. O CRIADOURO PICININI estava provando isso, a todos. Foi a nossa grande cartada de convencimento. Essa foi a grande razão, nada mais tinha tanto peso. Sabíamos disso, estávamos tão eufóricos com a repercussão das imagens da fita que fizemos, na condição de presidente da atual FENAP uma carta a Marcílio, com o seguinte teor: “Brasília, 12Mar87 – Maristela e Marcílio – Matias Barbosa – Minas Gerais – Prezados companheiros: Em nome da diretoria da Federação e de todos os criadores de curió do Brasil, vimos até a presença dos senhores para felicitá-los pelo grande exemplo de dedicação e de amor à natureza e aos pássaros. Dizemos-lhe que o que aí existe em termos de procriação de pássaros não se encontra mais em lugar nenhum de nosso País. Senti-mo-nos, então, na obrigação de registrar a satisfação de ter presenciado tão agradável visual para nossa entidade, cuja preocupação maior é a preservação de nossas aves. Cumpre registrar que, além do repovoamento que este tipo de criatório propicia e da inteligente seleção das matrizes, há ainda o aspecto do exemplo e da comprovação da plena viabilidade da criação de curió, em ambiente doméstico. Asseguramos-lhe que o estágio de desenvolvimento que alcançaram tanto na forma de alimentação como na lição de simplicidade no manejos dos curiós é realmente o mais fantástico de tudo. Assim, com todo o merecimento, enviamos os nossos parabéns sobretudo pela ação patriótica de preservação de nossa avifauna, esperando que cada vez mais possamos ver os pássaros campeões nascidos aí na pequenina Matias Barbosa na casa de Maristela e Marcílio. Aproveitamos a oportunidade para convidá-los para nossa reunião anual da Federação que se dará no dia 02MAI87, onde lhes prestaremos justa homenagem na presença de mais de cinqüenta presidentes de clubes.“ .

Depois de aparadas mais algumas arestas eis que; em 1988 foi publicada a Portaria 131, a nossa redenção. A Portaria do Marcilio, aquela que assegurava a nossa tranqüilidade, aquela que estabelecia que poderíamos continuar mantendo nossos pássaros canoros domesticamente. Precisa-se dizer alguma coisa mais para esclarecer o acontecido. Alguém poderá dizer; esse pessoal está ganhando muito dinheiro com a criação. Tentando passar uma imagem pejorativa colocando a atividade como uma questão puramente comercial. Que absurdo? Ganhar dinheiro, gerar riquezas com essa prática, com a produção de animais, talvez seja a forma das mais singela e gratificante de se manter com um tipo de atividade lucrativa. Palmas para todos aqueles que saem do amadorismo, da poesia, do pequeno, do restrito, da sonegação de informação, do circulo fechado e partem para a transparência, para o profissionalismo, para a comunicação, para a divulgação, para o escancaramento e para a troca sistemática de informação. Esses merecem nosso reconhecimento, esses estão contribuindo, esses estão realmente praticando um trabalho importante de preservação. Acusar aqueles que estão desse lado e que efetivamente trabalham nesse sentido, como os responsáveis por algum tipo de restrição imposta pelo poder público aos passarinheiros é até cômico e de muita maldade. As verdadeiras razões todo mundo sabe quais são: derrame de anilhas falsas distribuídas recentemente com data anterior a 90 e conseqüente tentativa de legalização das respectivas aves. Só não entendemos porque o IBAMA até hoje não descobriu quem é o responsável por isso. Nenhum passarinheiro gostou e aprovou o encurtamento da data para final de 1997 sobre o descrito no parágrafo 3O do artigo 7O da Portaria 097. O que tinha sido combinado era para o final de 1999, todos nós fomos, igualmente, pegos de surpresa. Daí, se aquelas acusações continuarem, se as pressões continuarem, podem ter a certeza, a grande maioria dos criadores acabarão sendo obrigados a tomar algum tipo de atitude. Uma delas seria transformar o seu criadouro em criatório comercial, Portaria 132/88. Devemos lembrar que a Lei 5.197, de Proteção ã Fauna diz “o poder público estimulará a instalação de criatórios com objetivos comerciais”, isto é o IBAMA, irá facilitar todo tipo de ações de pessoas que visem montar o seu criadouro comercial. Precisamos olhar para dentro nós, precisamos fazer muitas reflexões, urgente. Qual será a nossa saída? Nossa estrutura orgânica está correta? Vamos aguardar os acontecimentos. De uma coisa, porém, temos a certeza: aquilo que o Criatório Picinini fez e está fazendo está perfeitamente dentro do que prometemos ao poder público em 88 e dentro do que a sociedade espera e quer de nós. Salve, Salve, milhões de vezes, Maristela e Marcílio e filhos.

Escrito por Aloísio Pacini Tostes, em 2/9/2003

Evitando os antibióticos

Prevenção

O uso indiscriminado de antibióticos na cria de pássaros e principalmente na época de cria é algo quase que alarmante. Muitos os criadores os utilizam de forma sistemática e rotineira, com o objetivo de “bloquear” a entrada de germes patogênicos que possa causar baixas principalmente nos filhotes. Outros, quando aparece alguma mortandade, recorrem imediatamente a um antibiótico para tentar erradicar o mal. Recorre-se portanto ao último recurso, sem o auxílio de algum profissional da área, sem antes Ter se tentado exaustivamente outros métodos preventivos de significativa importância.

A intenção é das melhores. Evitar a mortandade , proteger a saúde dos plantéis e, desta forma aumentar a produção. A grande pergunta quando chegamos a este ponto, e: será que quando lançamos mão do último recurso (o uso de antibióticos) já fizemos efetivamente tudo que estava a nosso alcance para evitar que a doença se instalasse ? Será que o simples fornecimento de antibióticos via oral poderá definitivamente “varrer” o germe instalado ? Desejo antes de mais nada, esclarecer que estas reflexões não tem o menor intuito de invadir o campo veterinário, mas simplesmente analisar do ponto de vista do nosso manejo qual seria o melhor caminho para que nós criadores pudéssemos atingir um nível mais elevado de sanidade e produtividade.

A nossa proposta consiste em utilizar todos o meios possíveis ao nosso alcance para prevenir a entrada de germes patogênicos na criação deixar o uso de antibióticos como sendo o último recursos a ser utilizado dentro do possível, com a ajuda de um médico veterinário especializado que possa nos orientará sobre a forma do princípio ativo mais adequado para cada situação. As infectações podem vir por bactérias, fungos, vírus, ou parasitas. Todas elas se transmitem das mais diversas formas e cabe a nós bloquearmos a entrada destes seres aos nossos plantéis.

Medidas preventivas – existem inúmeros aliados na prevenção de doenças infecto-contagiosas para tentarmos evitar “surpresas desagradáveis” . Alguns extremamente simples, outros de alta tecnologia. Vejamos algumas delas que consideramos interessantes:

1. Renovação do ar – O simples fato de renovarmos o ar de nosso canaril, será de por si só, um grande aliado. Onde existe uma superpopulação de indivíduos, também existirá uma superpopulação de microorganismos por eles gerados. Se deixarmos ar confinado, esses microorganismos aumentarão a sua concentração de forma perigosa e preocupante. A renovação do ar é uma forma simples de “varremos” o ar contaminado do interior das instalações permitindo a entrada do ar puro isento de microorganismos indesejáveis.

2. Entrada do sol – O sol é um germicida eficaz e reconhecido, além de ser fundamental fonte de energia favorecimento da absorção da vitamina D, etc.

3. Higiene – De fundamental importância, este tema é extremamente complexo e de larga abrangência. A eliminação dos germes de forma direta, eliminando sujeiras, materiais orgânicos, etc. Esta prática pode ser feita com inúmeros produtos desinfetantes existentes na praça, mas deve se tomar extremo cuidado no sentido de que muitos deles apresentam toxicidade para as aves. Existe um produto novo e verdadeiramente revolucionário de fabricação inglesa chamado Vircon que elimina vírus, bactérias, fungos e esporas, permite a fumigação diretas nos animais, filhotes, ovos , etc. que ajuda sensivelmente neste sentido.

4. Vestuário – O nosso vestuário, mãos cabelos, etc., são verdadeiros portadores de microorganismos. Resulta para nós criadores, muito difícil a realização de uma assepsia completa antes de entrar no canaril. De todas formas resulta fundamenta a utilização de pedilúvio para desinfeção da sola dos sapatos, e a desinfeção das mãos antes da entrada no criatório.

5. Vacinação – Existe uma doença especificamente transmitida por vírus (canari pox) chamada popularmente de bouba que pode ser prevenida vacinando todos os animais anualmente. Considerando que é contra indicada a sua aplicação em filhotes com menos de 60 dias, geralmente é aplicada quando os últimos chegam a essa idade.

6. Quarentena – Quando ingressamos reprodutores trazidos de fora, além de novas características genéticas, podemos estar trazendo novos germes que possam afetar nossos plantéis, de forma que resulta recomendável uma fumigação, e colocá-los numa instalação separada que nos permita observar seu estado de saúde por aproximadamente 30 dias e tomar as devidas medidas caso verifiquemos alguma anormalidade na saúde deles. Esta quarentena também pode ser utilizada para isolar exemplares do nosso plantel com problemas de saúde.

Estas são apenas algumas das medidas que poderão evitar dores de cabeça, despesas desnecessárias, uso incorreto de medicamentos, e finalmente, a morte dos nossos pássaros que tanto nos desanima. O uso de antibióticos, antimicóticos, etc. nunca está descartado, mas sempre sendo o último recurso e com o acompanhamento de pessoas profissionalmente capacitadas para indicar o produto certo, dosagem, etc. Boa sorte !!!

Publicado na Revista Pássaros – Ano 4 – n. 17 / 1999

Escrito por Álvaro Blasina, em 2/9/2003