Ácaros de Traquéia

Prevenção e Profilaxia

J.Bernardino

Consultor Técnico COBRAP – www.cobrap.org.br

Membro do Grupo – Sítio dos Carduelis – carduelis@grupos.com.br

Colaboração : Dr. Daniel Mendoza – Med. Veterinário – Argentina

Os Acáros de Traquéia(S.Tracheacolum) são pequenos parasitas, especialmente das vias respiratórias superiores, que podem ser vistos até mesmo à olho nu ou com auxílio de uma lupa. Irritam a mucosa das àreas que atacam tais como: traquéia, pulmões, sacos aéreos, chegando mesmo à atingir os ossos pneumáticos. Eles ao atacarem essas àreas nas quais se instalam, produzem lesões pois, alimentam-se de sangue(HEMATÓFAGOS), causando patologias por si só e abrindo caminho para infecções por bactérias, vírus, fungos e mycoplasmas oportunistas. Quando da incidência desse problema deve-se melhorar o sistema de ventilação pois, com uma melhor ventilação, melhoramos a aeração e circulação de ar eliminando partículas em suspensão no ar do criadouro. Os ácaros em um criadouro podem ser trazidos por aves novas introduzidas¹ e que não tenham sido submetidas à quarentena em ambiente separado do criadouro ou por correntes de ar mal distribuídas ou podem existir naturalmente no ambiente, onde alimentam-se de detritos e de maneira oportunista, podem infectar as aves. Um excesso de população também pode levar à problemas de má qualidade do ar pois, aumenta a quantidade de partículas em suspensão no ar do criadouro. Uma forma de tratamento é o uso da Ivermectina(Ivomec® ) e outro método é o uso de inseticida aerosol à base de piretrinas, tipo SPB® . O inseticida deve ser desse tipo pois, é menos tóxico. O método é simples, coloca-se a(s) ave(s) em uma gaiola, cobre-se a gaiola e aplica-se um ou dois jatos do inseticida dentro da gaiola para que a(s) ave(s) inalem o produto durante uns cinco minutos. Esse método mostra-se eficiente, especialmente como tratamento de emergência em aves já parasitadas por ácaros.

Os principais sintomas são :

Dificuldade respiratória.

Tosse e a ave emite sons como gemidos, dando a impressão que está engasgada.

A ave perde a voz.

A ave abre muito o bico e limpa-o constantemente no puleiro.

Em casos de infestação extrema pode ocorrer a morte da ave por asfixia mecânica.

As formas de se evitar esse tipo de “inimigo” da saúde nossas aves são:

Um bom manejo higiênico do criadouro.

Quarentena de novas aves.

Aplicação de produto preventivo como por exemplo, a Ivermectina, que combate não só o ácaro de traquéia mas, também outros endo e ectoparasitas.

Boa ventilação e renovação do ar mas, sem correntes de ar passando diretamente pelas gaiolas pois, essas correntes podem carrear àcaros e outros agentes infectantes.

Isolamento de aves infestadas do ambiente do criadouro aliás, para qualquer patologia deve-se retirar o indivíduo do criadouro.

Eliminação das aves mortas, de preferência incinerando-as.

É posível que a água de bebida seja uma fonte de infestação portanto, temos que ter cuidado com a higiene dos bebedouros.

Minha experiência com Acáros de Traquéia

Vou descrever a experiência mais recente acontecida no Criadouro de Canários de um amigo. Algumas aves começaram à tossir e agirem como se estivessem engasgadas. Passados alguns dias 06 aves morreram. Ele ligou relatando-me o fato e como não podia, naquele momento, ir até o seu criadouro, o aconselhei á levar 02 aves que apresentavam os mesmos sintomas à um veterinário, nosso conhecido, que tem especialidade em aves. O diagnóstico² foi, acáros de traquéia. O tratamento recomendado foi o uso do SBP®, como descrito acima. Agora estamos fazendo também uma nova aplicação da Ivermectina³, fazendo a aplicação, repousando 15 dias e repetindo a aplicação. Os grandes vilões nesse caso foram encontrados:

1 – Excesso de aves no criatório.

2 – Má ventilação.

Esse problemas são facilmente resolvidos com a diminuição da população de aves no criadouro (ou aumnto do criadouro em si para comportar a população requerida) e com uma melhoria da circulação do ar.

Conclusão

Devemos ter cuidado com o manejo e sanidade de nossos plantéis e criadouros pois, descuidos e falta de atenção para detalhes como: a correta ventilação, higiene, quarentena ,etc; podem ser o diferencial entre o fracasso e o sucesso na criação. Devemos sempre procurar orientação profissional pois, teremos maior precisão no diagnóstico e no tratamento, conseguindo assim, melhores resultados e eliminando os agentes causadores das anormalidades e patologias.

Notas :

1 – Além dos passeriformes também afetam outras espécies como pinzones, agapornis e outros psitacídeos. Não é recomendável ter várias espécies em um mesmo ambiente se pretendemos realizar uma quarentena rigorosa.

2 – Seria interessante também realizar um diagnóstico diferencial para o Syngamus trachea(verme vermelho de traquéia), para ter-se precisão no tratamento. Se bem que o tipo de tratamento é o mesmo para ambos os parasitas, apesar da menor gravidade com relação ao S.trachea por tratar-se de um nematóide.

3 – Com relação à dosagem específica da Ivermectina, existem estudos que dizem que não devemos ultrapassar 0.1ml/kg. Existem relatos de que o uso em dosagens incorretas pode causar cegueira em bois, cães, e tem sido observada em aves pequenas. Mas, o que temos observado na prática em anos de criação de canários é que não houve um único caso desses em vários plantéis de

Escrito por Joé Bernardino, em 2/9/2003

Pássaro beija flôr

Um belo relato

Caçador de Bicudos

Escrito por: Mário Prata em 29/3/2003]

O caçador de bicudos

O que mais me impressionou foi como aquela rede ficou grande. Aberta, devia ter uns 10 metros por 30. Dobrada, como eu costumava ver, era um pacote bem pequeno. Era uma rede de caçar passarinhos. Tinha chegado pelo correio, importada, cara. Me lembro da sua alegria a nos mostrar a rede. Era preta. Os bicudos que se cuidassem.

Ave passeriforme fringilídea (Oryzoborus crassirostris), largamente distribuída no País. O macho é preto, com um espelho branco na asa; a fêmea, parda, com a parte inferior pardo-avermelhada e o pescoço mais claro. Alimenta-se de sementes de capim, e é muito apreciada como ave de gaiola.

Resumindo, o bicudo é um passarinho. Nem bonito nem com canto tão agradável. Mas ele ia até o fim do mundo caçar bicudos. Daí, para as reuniões com outros bicudeiros de todo o País, para concurso e campeonatos de cantos, era um tiro.

Ele esticava a rede entre as árvores, lá no Mato Grosso. Ele, o passarinheiro (contratado no local, sabedor dos ninhos e caminhos) e eu. Psiu!, me dizia. E, agachado atrás dos arbustos, começava a assoviar imitando um bicudo.

Além de médico, rotariano e meu pai, era um caçador de bicudos. O resto não importava. Os bicudos!!!

Meu pai levava, nas caçadas, o que hoje eu chamaria de flat de passarinho. Era uma gaiola vertical, com vários apartamentozinhos. Um para cada bicudo caçado. Na rede, depois de meia hora estavam vários pássaros que não a enxergavam (aí é que estava o segredo) e se entrelaçavam por ali. Era quase invisível. Meu pai ia lá com o passarinheiro, tirava os que não eram bicudos e soltava. Tinha vez que não encontravam nenhum bicudo. Mas ele ficava ali até o sol se pôr porque, segundo ele, era a melhor hora para se caçar. Recuávamos e ele voltava a assoviar atrás da moita. Ele levava a coisa a sério. Passava, às vezes, uma semana na função para trazer um, dois bicudos.

Na nossa casa tinha uns 15 engaiolados. Me lembro do nome de alguns: Melodia, Porém, Todavia, Contudo, Aluízio, Xibiu, Desemboque e Nogórdio. O Nogórdio, um dia, eu perguntei a ele o que era, porque os outros nomes eram até poéticos, senão gramaticais. E ele me mandou olhar no pai dos burros, o dicionário. E, até hoje, eu não havia procurado. Mas, escrevendo estas memórias do velho e bom Bertin, fui cabisbaixo e ignorante ao pai dos burros. E lá, está explicado:

Nó górdio: segundo a lenda, nó que prendia ao timão o jugo da carreta do rei Górdios, depositada no templo de Zeus, em Górdios, capital de Frígia, sobre o qual existia a profecia de quem o desatasse tomaria para si a Ásia; pela tradição, o conquistador Alexandre de Macedônia cortou tal nó com sua espada e invadiu a Ásia. Houaiss, Editora Objetiva.

No começo (desde que me entendia por gente), meu pai tinha de tudo quanto era passarinho. Canário, canário-da-terra, periquito australiano (os que eu mais gostava) e até uma pentelha de uma araponga. Com o tempo foi canalizando tudo para os bicudos. Agora ele só tinha bicudos. Uns pretos, outros marrons. E ele se gabava – em casa e nos campeonatos de bicudos e curiós – de ser um dos três criadores do Brasil a conseguir fazer com que eles se procriassem no cativeiro. A palavra cativeiro era ele mesmo quem usava.

Meu pai era um homem generoso, bom e honestíssimo. Desde pequeno eu não entendia por que ele prendia dentro de pequenas gaiolas aqueles bichinhos que viviam felizes lá no Mato Grosso. No fundo, achava aquilo uma pequena maldade. Tinha vontade de soltar todos. Uma vez ameacei, adolescentemente, e ele me disse: se soltar eles morrem. Não sabem mais viver em liberdade.

O problema chato, para mim, era tratar dos bicudos. Sim, quando eu ficava de castigo – e isso era quase todo dia -, uma das condenações era tratar dos passarinhos. E não era uma tarefa fácil. Houve épocas que eram mais de 20. Por isso mesmo que era um castigo. Primeiro, tinha que tirar a parte de baixo da gaiola, com um jornal dobrado em cima de uma madeira que deslizava para fora. Ali ficava a casca do alpiste comido e os ressecados cocôs. Tinha que lavar a madeirinha (\\\”muito bem lavado!\\\”), recortar um jornal (A Gazeta Esportiva) e recolocar lá dentro. Agora trocar a água. Tinha cocô ali, também. Agora pegava a caixinha onde ficava o alpiste e tinha que assoprar. Horas assoprando até não ter mais nenhuma palhinha sem a semente, que era o que interessava. E complementar a alimentação do bicudo. E tudo isso enfiando a mão dentro da gaiola – pelo menos seis vezes – ficando sujeito a eventuais bicadas. E, depois disso tudo, varrer o chão da varanda.

A partir de 2000 ele começou a fazer hemodiálise, já bem velho. Mas, morando sozinho com a minha mãe, ainda cuidava dos últimos 12 bicudos, a quem chamava pelo nome, com quem conversava. Conhecia – é claro – o canto de cada um deles. Tinha seus troféus.

Mas foi aí que o fato se deu. O médico disse que ele poderia pegar uma infecção por causa dos bicudos e seria fatal. Ele tinha que se desfazer daquilo, daquele pedaço da sua vida. Ainda tentou contratar um tratador de bicudos. Mas o médico insistiu. Não pode mais ter bicudo aqui!

Vendeu os bicudos por 8 mil reais. Eu sabia que aquele dinheiro era para sustentar os últimos meses de vida dele. Sem os bicudos a sua vida não teria mais sentido.

Ficava sentado na varanda dos fundos, fazendo palavras cruzadas e olhando para uma parede branca com 12 solitários pregos. Xibiu, Porém, Todavia, Desemboque, Aloízio, ia dizendo.

E ia morrendo. Morrendo feito um passarinho.

Escrito por Mário Prata, em 1/9/2003