Instrução Normativa

Uma zoonose ?

BOLETIM DO CRIADOURO CAMPO DAS CAVIÚNAS

Nº 5 AGOSTO DE 2003

REDATOR: Dr. JOSÉ CARLOS PEREIRA

RUA JOAQUIM DO PRADO, 49. CRUZEIRO/SP. TELEFAX 0xx12 31443590

Drjosecarlos2000@aol.com

AS INFECÇÕES PELO CAMPYLOBACTER

São bactérias com a forma de vírgula agrupadas no gênero Campylobacter que compreende 14 espécies, das quais, umas sete ou oito produzem doenças no homem. São móveis, têm grande capacidade de adesão às células, poder de invasão e produzem toxinas. As duas espécies mais encontradas no homem são o Campylobacter jejuni, com 50 serotipos, e o Campylobacter fetus. Estão entre as causas mais comuns de diarréia em todo o mundo, sendo em alguns lugares mais encontradas do que as Shigellas e as Salmonellas juntas. Predominam nos meses chuvosos nos países tropicais. As maiores vítimas são as crianças abaixo dos dois anos de idade. Constituem uma zoonose (transmitidas ao homem pelos animais). Os pássaros, tanto os silvestres como os domésticos, os hamsters, os cães, os gatos, as aves aquáticas, os perus, os frangos, os porcos, os carneiros, as cabras e o gado vacum são reservatórios comuns do Campylobacter. Nem totalmente aeróbios e não estritamente anaeróbios, vivem perfeitamente bem no meio gastrintestinal.

Entre as aves, o C. jejuni é a mais freqüente e a mais patogênica; o C. laridis, muito encontrado em gaivotas, tem patogenicidade ainda não bem definida enquanto o C. coli é considerado não patogênico. Além da forma em vírgula, o Campylobacter pode ser encontrado em aves na forma de “s” e na forma degenerativa cocóide.

O homem e outros animais se contaminam pela ingestão de produtos animais, como carne e o leite, pela água, pelo contato pessoal com outras pessoas ou animais, principalmente os jovens, portadores das bactérias. O feto pode ser contaminado durante o parto pela mãe portadora.

As gastrenterites constituem os quadros clínicos mais comuns das infecções pelos Campylobacter e são determinadas quase sempre pelo C. jejuni. Iniciam-se com febre, cefaléia, dores musculares, mal-estar e dor abdominal em cólicas em volta do umbigo que pode ser confundida com apendicite. A diarréia é inicialmente aquosa, talvez determinada por toxinas, podendo em dois a quatro dias evoluir para fezes com catarro e sangue como na Shigellose. As cólicas podem permanecer mesmo após ter cedido a diarréia. As infecções mais leves duram somente um a dois dias e podem ser confundidas com as diarréias por vírus. Em algumas pessoas a diarréia permanece por vários dias e pode voltar após algum tempo de normalidade.

Algumas vezes, principalmente em pessoas com imunidade comprometida, as bactérias, principalmente o C. fetus, podem atingir o sangue (bacteremia) sem produzir infecções localizadas, o que é raro na gastrenterite pelo C. jejuni. O C. fetus pode provocar bacteremia sem diarréia. A bacteremia manifesta-se por febre, calafrios, sudorese, confusão mental, dor abdominal, diarréia, icterícia e aumento do fígado. Quando há infecções localizadas fora do intestino os órgãos mais atingidos são as meninges, o pâncreas, o coração, os pulmões, as articulações, a vesícula biliar e o peritônio. A infecção da mulher grávida, mesmo que seja assintomática, pode causar aborto, natimortalidade, prematuridade ou infecções perinatais muito graves. Duas complicações interessantes são a síndrome de Guillain-Barré, polineuropatia que surge após algumas infecções, e a artrite reacional semelhante a que surge na Yersiniose.

Nas aves os sinais clínicos mais comuns são a diarréia com fezes volumosas, amareladas ou pálidas com aspecto chamado pelos autores anglo-saxões de “popcorn poohs”, letargia, falta de apetite e emaciação (emagrecimento). Esse quadro associa-se aos achados anatomopatológicos de hepatite subaguda ou crônica com infiltração perivascular de células inflamatórias e áreas de necrose num fígado aumentado de volume com coloração pálida ou esverdeada e áreas hemorrágicas. Na parede intestinal é notada inflamação catarral e/ou hemorrágica.. A mortalidade é muito alta, principalmente entre os filhotes; a morte súbita e brutal pode ser conseqüência da ruptura do fígado. Muitas infecções são inaparentes, mas passíveis de serem transmitidas a outras aves. Os quadros sintomáticos dependem, algumas vezes, de fatores que diminuem a imunidade da ave como a concomitância de infestações por coccídeos ou nematódeos e a desnutrição. Entrando num criadouro, o Campylobacter pode permanecer durante semanas determinando quadros sintomáticos, recuperações espontâneas e recaídas até a cessação, por motivos vários, do surto.

O Campylobacter pode ser cultivado em laboratório usando meios de cultura adequados, visualizado no microscópio com técnicas de coloração especiais e identificado por alguns testes sorológicos e pelo DNA. Em meio adequado as colônias desenvolvem-se em 72 a 96 horas a 37-42 ºC.

Há tratamento usando-se os antibióticos macrolídeos, como a eritromicina, a claritromicina e a azitromicina. No tratamento dos pássaros também são citadas as tetraciclinas e a estreptomicina (não deve ser usada em psitacídeos). Volto a afirmar: o tratamento somente deve ser feito seguindo orientação veterinária depois do diagnóstico clínico e/ou laboratorial. Não passe de pato a ganso achando que tem tudo para ser um veterinário, somente faltando o diploma. Cabe aos criadores os cuidados profiláticos.

O controle é relativamente fácil. O principal modo de transmissão é o fecal-oral: saída dos parasitas pelas fezes, contaminação do meio-ambiente e entrada pela boca. Desconhecer esse princípio básico é dar mole para o bandido.

Especificamente, alguns cuidados podem ser tomados pelos passarinheiros para evitar que o seu criatório (criadouro. Na verdade, ainda não achei uma boa e definitiva palavra para definir o local onde são criados pássaros) torne-se foco exportador e importador do Campylobacter:

– Lavar rigorosamente as mãos com água e sabão, sabão mesmo, esfregando as unhas com uma escovinha antes de manusear as frutas, as hortaliças e a água que serão fornecidos aos pássaros. As mãos devem ser lavadas, sempre com água e sabão, antes e depois de manusear pássaros ou os utensílios.

– Lavar rigorosamente, com água e sabão, frutas e as hortaliças que serão dadas aos pássaros e enxágua-las muito bem. Podem ser deixadas por alguns minutos em solução de água e vinagre ou de hipoclorito de sódio, não se esquecendo de enxaguar copiosamente antes de dá-las aos pássaros. Pela simplicidade creio que o lavar as mãos, as frutas e as hortaliças já será uma grande ajuda no controle desses parasitas.

– Oferecer aos pássaros somente água, no mínimo, filtrada. A água fervida seria mais seguro, desde que seja mantida no fogo pelos menos durante 20 minutos após levantar a fervura. Os mesmo cuidados devem ser tomados com a água para os banhos dos pássaros. Esfregar bem os bebedouros para remover o biofilme líquido que fica na superfície e que pode albergar muitas bactérias. O ideal seria ter jogos de dois bebedouros para intercalá-los diariamente, possibilitando a secagem completa de um dia para o outro do que não estiver sendo utilizado. É bom lembrar que as Enterobacteriáceas, entre elas o Campylobacter, adoram uma água, sendo mesmo conhecidas como bactérias dos meios líquidos e, para elas, qualquer filmezinho líquido é um piscinão de Ramos. Lavar, se possível de maneira individualizada, os utensílios também com água filtrada. Se for possível, pelo menos uma vez por mês, ferver os utensílios resistentes à fervura, principalmente as grades e as bandejas do fundo da gaiola. Se for organizada uma rotina, mesmo nos criatórios maiores as atividades profiláticas serão relativamente fáceis. Alguns criadores que dão sementes germinadas aos seus pássaros devem ter cuidado com a água usada para provocar a germinação. O mesmo cuidado deve-se ter com a água usada para umedecer as farinhadas.

– A manutenção higiênica do prédio onde está instalado o criatório deve ser diária, evitando o acúmulo de dejetos e restos alimentares. Ter um jogo de mangueira, pazinha de limpeza, baldes, botas, vassouras, rodos, cestos de lixo, etc. somente para dentro do criatório. Se existirem mais de um ambiente, um jogo para cada um. Verão que vale a pena o investimento. O uso de detergentes e outros produtos de limpeza bactericidas deve ser feito com orientação técnica. Aqui não cabem improvisações. Ainda advogo o uso de vassouras de fogo tendo, é lógico, cuidado para não colocar fogo no prédio e nos pássaros. Sempre usei esse procedimento no canil e é tiro e queda. Nunca houve problemas com parasitas externos e, de quebra, elimino alguns parasitas internos que teimam em viver algum tempo fora do organismo. É método de fácil execução, rápido e não tem ação residual como os produtos químicos. Com técnica adequada não danificará paredes, desde que não se fique com o fogo muito tempo num só lugar como estivesse assando um churrasquinho, e, creio, poderá ser usada nas gaiolas de arame vazias. Tendo-se o cuidado de tirar os pássaros do ambiente, isolando-se as partes combustíveis das instalações, evitando-se a presença de líquidos inflamáveis, etc., o método é seguro. Aconselho procurar informações com alguém que já tenha alguma experiência para não cometer erros de principiante.

– Tratar as fêmeas com Campylobacter é essencialíssimo pela possibilidade delas infectarem verticalmente os filhotes.

– Tratar os machos galadores infectados, pois, por ser comum usá-los com várias fêmeas (poligamia), poderão contaminar o plantel numa proporção geométrica. Não tenho qualquer dado sobre o assunto, mas seria esperada maior possibilidade de contaminação dos machos, devido às grandes aberturas do bico durante os cantos, pela poeira contaminada.

– Manter em observação e isolados todos os filhotes nascidos de mãe e/ou pai contaminados. Os gaiolões com muitos filhotes funcionariam como creches ampliando a disseminação da bactéria.

– Não caia naquela de dar antibióticos com finalidade profilática. São muito poucos os casos em que o uso profilático de antibióticos tem valor comprovado. E a infecção pelo Camnpylobacter não é um deles. Fazendo isso você estará criando cepas resistentes da bactéria, um problema para a sua própria família e para os seus pássaros. Cepas resistentes de uma bactéria que se propaga facilmente num canaril são pragas de sogra (só um xiste, porque a minha era ótima, não tenho queixas).

– Muito cuidado com as fezes das aves. O papel do fundo da gaiola deve ser trocado diariamente. O costume de colocar várias camadas de papel não é bom, pois, o filtrado da parte líquida fecal pode levar os parasitas para a folha de baixo (lembrar que estamos lidando com seres microscópicos). Deve ser usada uma folha de papel e a bandeja deve ser limpa diariamente e colocada ao sol (para isso, seria bom ter, pelo menos, duas bandejas por gaiola). Individualizar as bandejas para evitar usar bandeja usada em gaiola de pássaro contaminado em a gaiola de pássaro não contaminado, criando, assim, condições para disseminação da infecção pelo criatório. Se você usa areia na bandeja, tenha muito cuidado, pois, se não houver troca constante e higiene impecável, será um meio propício para manutenção dos parasitas.

– Muito cuidado com as gaiolas usadas para manter os machos ou levá-los aos torneios. Como ficam a maior parte do tempo fora do criatório, têm maiores possibilidades de ser depósitos de parasitas. São feitas de madeira, com muitos detalhes e têm muitas saliências e reentrâncias que facilitam a vida dos parasitas e dificultam higienizá-las. E, na maioria das vezes, não possuem grade separando a bandeja dos pássaros como acontece com as gaiolas de criação. Creio que, num futuro próximo, poderão ser substituídas por gaiolas feitas somente de arame.

– As vasilhas contendo sementes, farinhadas, minerais e água devem ser colocadas de modo a evitar que sejam atingidas pelos jatos evacuatórios dos pássaros. Inspecioná-las diariamente e, se estiverem sujas com excrementos, desprezar o conteúdo e higienizá-las.

– Muito cuidado com os poleiros. Devem ser colocados de maneira que não possam ser sujos pelas fezes, pois, pelo hábito das aves limparem o bico neles após alimentarem-se, a contaminação será fácil.

– Cuidado especial com pássaros trazidos de fora do canaril, mesmo que seja somente para uma galadinha. Fazer quarentena nem sempre é praticável. Se o galador vier de canaril que mantenha boas condições higiênicas tudo fica mais fácil. Seria ótimo os donos dos bons pássaros galadores manterem os pássaros em ótimas condições de higiene física, social e até mental, pois, eles podem representar um boa fonte de renda para abater nas despesas do criatório.

– Com as aves adquiridas para compor o plantel a quarentena é obrigatória, a não ser que venham de criatório que mantenha rígidas condições de controle sanitário do plantel. Creio que a quarentena de três semanas seja suficiente para a maioria das doenças infecciosas. Não trazer o pássaro em gaiolas do criatório de onde o adquiriu. Manter o pássaro entrante fora das instalações que albergam o plantel. O ideal seria uma pessoa para cuidar somente dele e que não tivesse acesso ao criatório. Se não, usar luvas ou lavar rigorosamente as mãos, com água e sabão, após o trato e cuidados com os utensílios da ave em quarentena. Todos os utensílios, produtos alimentares, vassouras, pazinhas, cestos de lixo, etc. devem ser mantidos separadamente dos usados para o plantel. Ponto de água para lavar os utensílios separado. Muito cuidado com os excrementos. A quarentena deve ser para valer ou nem vale a pena ser feita.

– Cuidado com os machos que vão a torneios ou a outros criatórios para coberturas. Seria interessante ter uma gaiola somente para torneios e outra para a manutenção do pássaro no criatório. Um apresentador de cães do nosso canil colocava nas guias dos cães que iam às exposições uma fitinha vermelha do Senhor do Bonfim; foi bom porque nenhum cão voltou contaminado das expos. Cuidado porque cavalo não desce escadas, como dizia o famoso colunista social carioca.

– Levar água filtrada e/ou fervida quando for a torneios, evitando dar ao pássaro água da torneira sem as condições higiênicas seguidas no criatório. Se esquecer, é preferível dar água de garrafa tipo natural. Nem para o banho deve ser usada água do local dos torneios.

– Cuidado com a água do banho dos pássaros. Deve ser, pelo menos, filtrada e, sempre que possível, fervida. Tirar a vasilha logo que o pássaro terminar o banho.

– Algumas vezes os parasitas podem ser trazidos para o criatório pelas patas de pássaros, como os pardais, ou das moscas. Telar as janelas, portas e as aberturas para a ventilação é medida heróica. Não deixar lixo ou restos de comida expostos é essencial porque eles atraem pássaros, moscas e predadores, inclusive ratos. Muitas plantas também são atrativos para os pássaros soltos visitarem o criadouro. É aconselhável evitar a presença de cães dentro do criadouro, pois eles podem ser o veículo para a entrada do Campylobacter no criadouro.

– E sol, amigos, pois, onde entra o sol não entra o médico, ou o veterinário, como dizia minha avó. Locais escuros, muito quentes e úmidos jogam para os bandidos. Lembrar que, em ambiente seco, o Campylobacter não resiste mais de uma semana.

As medidas profiláticas são econômicas e, tornadas rotinas, de fácil execução. Servem também para evitar muitas outras doenças que infernizam os criadores, como as determinadas por outras bactérias intestinais (Salmonella, Escherichia e Yersinia) e pelos protozoários intestinais.

Escrito por José Carlos Pereira, em 31/8/2003

Extrusados

Nutrição

O extrusado poderá ser a alimentação ideal do futuro. Mas por enquanto acredito que ainda faltam muitas pesquisas e experiências para se afirmar categoricamente é a a melhor ração para passeriformes.

Estamos numa fase de transição e não devemos apostar tudo numa novidade por questões econômicas, higiênicas e práticas.

Precisamos pensar primeiramente no bem estar dos passarinhos. A sujeira a gente limpa e a economia deve ser prioridade das criações de aves de produção e consumo, voltadas para este fim – aliás com extrema crueldade.

Não devemos ser inflexíveis e retrógrados, mas também não devemos nos atirar em afirmações teóricas, ainda carentes de comprovação. Nem podemos dar irrestrita aprovação aos métodos alienígenas ou utilizados em outras criações. Se é verdade que a criação doméstica é tão diferente da vida silvestre, a ponto de mudar as características criadas pela Natureza, também é verdade que a A América do Norte, a Europa e a Ásia são muito diferentes do Brasil, como diferentes são os canários de cor e os pássaros exóticos, dos nossos nativos. Há muitas influências externas, principalmente as climáticas, que tornam diferentes os organismos e suas necessidades, numa e noutra região do Globo.

Assim é com os humanos e com os animais não deve ser diferente. É preciso tempo e pesquisa. Pelo menos uma outra ração do tipo extrusada foi lançada há alguns anos como alimento único e completo e hoje já não tem o mesmo prestígio ou a mesma aceitação.

É difícil abraçar uma teoria quando ainda estamos engatinhando na compreensão geral dos nativos. Não é novidade que não temos veterinários nem nutricionistas especializados em passeriformes. Até hoje não se chegou a um entendimento comum, por exemplo, a respeito da quantidade necessária de proteínas, de vitaminas e outros aspectos da nutrição dos pássaros. Nem sobre doenças e medicamentos. Os grandes investimentos, inclusive do Governo ou com apoio dele, em relação as aves, estão voltados para a produção de carne e ovos, com reflexos na produção de peles e outros subprodutos, mas nem aí se chegou a conclusões definitivas. Verdadeiras fortunas são empregadas na criação industrial de aves, inclusive na parte nutricional, mas eu particularmente não tenho conhecimento da utilização de extrusados na criação industrial. É possível que o extrusado seja economicamente inviável, mas os seus adeptos afirmam que o aproveitamento e os resultados o tornam proporcionalmente mais baratos. É certo que as aves industriais têm vida bem mais curta, mas com tantos investimentos nessa área, e ainda se consideramos a finalidade, que é o consumo desses produtos pela população, é de se supor que ainda não se chegou a uma certeza quando ‘a formulação ideal das rações.

Recentemente foi lançada no mercado uma ração especial para produção de ovos sem colesterol ou com elementos de combate ao colesterol, mas não tardou em ter sua utilização contestada pela ciência.

Quando o mundo investe pesado em pesquisas e produção de transgênicos e clonagem, enquanto organizações do mundo todo combatem ferozmente esse avanço da ciência, o que dizer, diante disso, do extrusado para pássaros, uma área desconhecida e até desprezada no meio científico?

Alega-se também que os extrusados minimizam a possibilidade de contaminação, seja ela qual for.

É compreensível que isso ocorra em relação ‘as sementes, pelas condições em que estas são expostas no comércio varejista.

Mas o mesmo se alega em relação ‘as farinhadas embaladas. Já aqui ficam algumas dúvidas.

A matéria prima do extrusado é e mesma de outras farinhadas. Se a contaminação vem com a matéria prima, ambos estão sujeitos a contaminação.

Não podemos deixar de considerar que o processo de fabricação do extrusado, quente ou frio, elimina muitas bactérias e protozoários. Nesse aspecto, em relação ‘a sementes o extrusado nos parece mais seguros. No entanto, com relação as farinhadas, estas também estão sujeitas a um rigoroso controle de qualidade, tanto que estão sendo utilizadas com sucesso há muito tempo e não temos tido notícia de doenças causadas pelas farinhadas que conhecemos.

Mesmo assim, em ambos os casos exitem o perigo da existência de toxinas na matéria prima, que nenhum processo de fabricação pode eliminar. Essas toxinas podem ter efeito cumulativo, de modo que não evidencia sintomas imediatos que idenfiquem a ração como causa de algum mal, seja ela extrusada ou comum.

Aí se argumenta o controle de qualidade, tanto da matéria prima quanto das rações já fabricadas.

Mas quem nos garante, assumindo a responsabilidade, que os extrusados têm melhor controle de qualidade dos que as farinhadas da Lavizoo, Beppler e outras. Não sei é boato ou não, mas já houve comentários de que respeitáveis indústrias de ração animal e alimentação humana teriam colocado em alguma ocasião produtos contaminados no mercado.

Falando em alimentação humana, onde há preocupação maior, a extrusão só tem sido utilizada para dar forma a alguns produtos, especialmente biscoitos. O mais comum são as farinhas pré-cozidas.

De maior possibilidade é a contaminação depois do fabrico: antes da embalagem, na estocagem, na distribuição, venda ou consumo, não havendo a partir da fabricação muito mais segurança do que as sementes. Até pior, em caso de umidade. Portanto, o risco existe sempre e não pode haver descuido.

Muitos criadores – inclusive eu – há tempo vem indicando a farinhada CC-2030-Premium como uma das melhores do mercado. Entretanto a embalagem não contém informações obrigatórias ao consumidor, quanto ao fabricante etc. Confesso que eu não havia observado isso e só tomei conhecimento com a observação feita pelo Rodrigo. Mas já pedi informações ao meu fornecedor e não tiver resposta vou pedir informações ao Ministério da Agricultura. Afinal, alguém deve se responsabilizar pelo produto.

Um dos mais fortes argumentos a favor do extrusado é de que ele contém tudo o que o pássaro precisa. Será mesmo possível uma receita capaz de reunir ou substituir tudo o que existe na natureza? Outra é quanto ao balanceamento. Isso até pode ser possível, com muita pesquisa, experiência e comprovação.

Só que se afirma que não se deve administrar mais nada, sob pena de modificar o balanceamento da ração. Aqui precisa haver uma distinção bem clara. Se houver mistrura ao extrusado, pode ocorrer o desbalanceamento, mas se se forem administrados outros alimentos em separado é evidente que o balanceamento do extrusado não sofrerá alterações. Apenas se estará dando ao pássaro mais do que o necessário.

Mas também se alega que se der mais do que o necessário a saúde da ave será prejudicada. Disso também não tenho dúvidas.

Cabem, porém, algumas perguntas:

1. Por que o fabricante recomenda que se misture o extrusado nas sementes para que o pássaro se habitue a consumi-lo?

2. Se o período de completa adaptação for longo, não haverá da mesma forma prejuízo ‘a saúde do pássaro?

3. E quando tiver filhotes? Deve-se dar somente o extrusado? Ou o extrusado umidecido com água? Mais nada?

4. E se a fêmea não pegar? Vai deixando os filhotes e até o plantel todo de fêmeas morrerem até que se acostumem? Absurdo? Claro que é, mas se não pode dar mais nada, fazer o que? Isso, para um iniciante, é uma dúvida terrível.

5. Dizem, fazendo uma comparação, que os sabiás passaram de frutas, na natureza, para rações industrializadas, nas criações, com vantagens. No entanto, não é comum mas também não é muito raro a ocorrência de cegueira em sabiás e há criadores que afirmam que essa deficiência visual ocorre por falta de frutas, insetos, minhocas e outros alimentos naturais. Mesmo que não seja: em primeiro lugar, o sabiá é considerado frugívero – eu diria unívoro – e são, portanto, diferente dos granívoros. Em segundo lugar, a ração que era considerada completa, prática, econômica, com todas as vanatgens do extrusado, deixaram-se de sê-lo com a introdução do extrusado e este passou assumir agora todas as qualidades que antes eram da ração. Contraditório, não?

6. “O extrusado é completo e atende todas as exigências nutricionais, e nada mais pode ser acrescentado”. Sabemos, no entanto, que os organismos não são idênticos, nunca. Com gente ou com bicho. Todos os dias tem alguma pergunta: “meu pássaro come penas”… “minha fêmea bota ovo mole”… “os filhotes não empenam”… “meu pássaro não pára de mudar penas”… No mais das vezes, entre as possíveis causas, está sempre a carência de algum elemento, alguma vitamina etc. Posso confiar que o extrusado resolverá todos esses problemas? Fará com que todos os organismos se assemelhem em tudo? Pense novamente no iniciante…

Durante muito tempo a alimentação dos filhotes foi o maior problema da criação, até chegarmos no estágio atual, que já dura um bom tempo e está dando ótimos resultados.

A higiene, uma boa mistura de sementes, grit mineral e uma boa farinhada com ovo cozido acabaram com o segredo da criação. Há anos essa base alimentar vem sendo utilizada com sucesso sem apresentar efeitos colaterais ou maléficos, pelo menos visíveis ou evidentes. Os filhotes crescem bem e os pássaros vivem mais. Estão menos expostos e mais resistentes ‘as doenças. Costuma-se acrescentar polivitamínicos, aminoácidos, microelementos vários, frutas, verduras, larvas…, mas tudo isso é dispensável e até prejudicam, com exceção de frutas e verduras, quando em excesso e sem necessidade. O simples e básico não somente são suficientes, como são ideais para a criação, usando-se complementos somente quando necessário e aplicado caso-a-caso.

Sendo assim, aventurar-se ao extremo numa novidade, quando se tem facilmente alternativas já utilizadas com sucesso há muito tempo, não é muito prudente. Corre-se o risco de eliminar o tradicional do mercado e experimentar maus resultados futuros com a novidade, colocando-nos numa situação irreversível.

Por outro lado, estaremos criando o monopólio do extrusado e futuramente poderemos ficar ‘a mercê de uma possibilidade única, sujeitos aos interesses dos fabricantes, sem alternativas.

Por isso, acho ótimo e salutar que as opiniões divirjam e as preferências sejam múltiplas. Com isso sempre teremos muitas opções, inclusive de preços para as pessoas de menor poder aquisitivo.

O que estou vendo, não de todos, mas de alguns adeptos do extrusado, é uma tentativa de imposição. Enquanto aqueles que preferem só as sementes, farinhadas, complementos, enfim, critérios de cada um, dizem “eu prefiro isso”, sem veemência. Já os outros dizem que “os extrusados são infinitamente melhores, ideais, únicos em qualidade”, como imperativo da boa alimentação e boa criação. Não é bem assim. Não é assim que se muda décadas de experiência com nativos, séculos com exóticos. É preciso muita pesquisa e muitos experimentos, até a comprovação e o convencimento dos criadores. As pesquisas devem ser feitas pela fábricas, por seus laboratórios, mas a experiência e a comprovação hão de ser feitas pelos criadores. Se quisermos produtos confiáveis, sejam rações, medicamentos ou suplementos, temos que mostrar aos fabricantes que não aceitamos facilmente tudo o que eles colocam no mercado, apenas porque não devemos resistir ‘as novidades, a uma pretensa evolução ou progresso, ou porque eles dizem que é bom. A ciência leva séculos para descobrir um remédio, décadas para confirmar sua eficácia e anos para colocar no mercado, depois de muitos experimentos, primeiro em cobaias, depois a um número restrito de pacientes, mesmo em caso de urgência, de doenças fatais. Aí você vai num torneio e lá tem uma banquinha qualquer, com alimentos bom pra tudo e medicamentos milagrosos para qualquer coisa. Isso já basta.

Claro que não estou pondo em dúvida a idoneidade da indústria de extrusados. Eu mesmo faço uso deles, embora não como alimentação única. A fábrica de extrusados que conheço é uma grande empresa, tem um nome, uma marca a zelar, de reconhecidas capacidade e competência na produção de rações para diversas espécies de animais. Mas quem tem os pássaros sou eu, que convivo com eles dia-a-dia, que observo, que cuido, que experimento e concluo o qué é melhor e como fazê-lo. É uma criação adaptada para o lugar e com finalidade de produzir pássaros cada vez melhores em matéria de canto; não uma produção industrial que visa pouco trabalho, poucas despesas e muito lucro. Também não são lotes de aves usados como cobaia em laboratórios. Sem contar que as criações variam muito de uma pra outra, dependendo também das espécies e quantidade.

Cada pássaro tem sua particularidade e é preciso ainda muita pesquisa e muitos experimentos para se chegar a uma afirmação de que o extrusado é realmente melhor do que a alimentação tradicional para todas as espécies de aves. E isso leva anos, décadas até. Sabemos quantos anos um pássaro pode viver só comendo alpiste. Sabemos quanto uma ave pode viver comendo o alimento tradiconal. Como você bem colocou, as pesquisas para cães e gatos estão muito ‘a frente. Sabemos o tempo de vida e as condições de saúde de um cão ou um gato, antes e depois da ração industrializada. Agora tomemos por exemplo um papagaio, que segundo dizem, com a alimentação tradicional chega a durar 70 anos. Somente pela observação, necessitaríamos de 70 anos para comprovar os benefícios do extrusado para papagaios, se eles não morressem antes.

Evidente que isso seria inviável e a indústria tem meios de suprir parte desse tempo por meios científicos, mas isso não deve ser abreviado a um ou dois anos de experiência pelo criador. E todos sabem dos problemas que traz uma mudança brusca na dieta dos pássaros, mesmo que semelhantes. Isso é visível nos pássaros tranferidos a outros criadores. Mesmo trocando sementes por sementes, a composição de um criador é muitas vezes diferente do criadouro de origem, o pássaro sente a mudança e é necessário um tempo para adaptação. Se descuidar, o pássaro pode até adoecer e morrer pela mudança repentina da sua dieta alimentar.

Concluindo, eu reconheço, acho ótimo e sou favorável ‘a evolução, também com os extrusados, que inclusive uso, como eu já disse, mas eu creio que ainda é cedo para a gente se responsabilizar, afirmando categoricamente alguma coisa.

Esclareço apenas que entrei neste assunto porque muitos iniciantes me perguntam sobre isso. Eu não afirmo nada, porque não quero ser responsabilizado pelo insucesso de outrem, mas dou minha opinião dizendo que eu penso que é preciso uma adaptação gradual e lenta, sob monitoramento e muita observação, e ainda somente com alguns exemplares de cada espécie, e no final vai depender do convencimento de cada um.

Aí alguém afirma que o extrusado é melhor em tudo – embora nada pode ser melhor em tudo; a palatabilidade, por exemplo – e a pessoa volta a me questionar.

Podem questionar, que tenho o maior prazer em discutir qualquer assunto do qual eu tenha algum conhecimento, mas fica aqui minha opinião posta para todos, até hoje. Amanhã poderá ser outra. É a evolução.

Escrito por Valdemir Roberto Barros, em 2/9/2003