É possivel alimentar pássaros só com ração

Um alerta importante

Em anexo uma matéria por mim assinada na edição 128 do Atualidades Ornitológicas.

Acho que lanço mais dúvidas do que certezas……rs Mas acrescento um comentário dado por um publicitário baiano – ao Jô Soares:

“- Veja, Jô, que estamos chegando ao final do século ( O programa foi em 1998) e uma das previsões é a de que seriam desenvolvidas cápsulas com todos os ingredientes nutritivos necessários para a alimentação humana. Estamos chegando ao ano 2001 e nunca se consumiu tanto alimento “in natura”, desde vegetais até carnes, passando pelos cereais e frutas…….”

www.fujipass.com.br

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Rogério Fujiura

O tema alimentação, nutrição, quer seja para os humanos e todos os tipos de vida animal sempre despertou discussões acaloradas, baseadas hora em empirismo, ora em pesquisas científicas, mas ao final prevalece a não prevalência, ou seja, as verdades são várias e é impossível se estabelecer qual a suprema.

Ironia ou não, se formos fazer uma pesquisa qualitativa para uma só espécie de ave , restringindo a pesquisa ainda a uma determinada fase – por exemplo, muda de penas- com uma amostra aleatória de criadores, veremos que a eleita será a que o criador mais simpatiza, sem levar em consideração o principal interessado, que é a ave. Todos os comerciantes e fabricantes de alimento animal sabem que o primeiro e principal fator de decisão se baseia no gosto pessoal do criador. O criador degusta, cheira, toca e de antemão toma a decisão.

Temos ainda o fator influência, somado á busca incessante de novidades, que faz com que o criador venha a mudar – em que pese que a sua ave vai muito bem obrigado- a alimentação que vem funcionando…e bem !!!

O objetivo aqui não é elucidar e apontar o caminho correto para a escolha a ser feita. Mesmo porque não sou zootecnista, nutricionista, em suma, técnico em nada, mas como a grande maioria, auto didata. E venhamos e convenhamos nada mais difícil de lidar do que com esta classe. Afinal, a custa de muitos erros e acertos o cidadão chega a um manejo, a uma formulação (?) da sua composição de sementes, farinhadas, rações, peletizadas ou extrusadas e por aí afora, para chegar alguém e apontar outros caminhos…..Mas como todo passarinheiro ou avicultor tem comportamentos que vias de regra fogem ao comportamento dito normal e mediano, ele consegue conciliar a teimosia do auto didata com a fácil influencia por parte de: – Fulano ta fazendo assim, assim vou fazer.

Tanto que as maiores consultas em uma visita a criadores é: o que voce dá para os seus alados? De que marca? E lá vai ele de volta a seu criatório querendo mudar tudo. O pior: tudo o que está dando certo.

Com o advento das rações extrusadas, a tônica dos questionamentos passou a ser: É possível alimentar somente com ração? Opa!!! Essa pergunta não me é estranha….Vou ao site do A.O. e logo na primeira consulta aparece o título abaixo:

ATUALIDADES ORNITOLÓGICAS N.1 -NOVEMBRO/DEZEMBRO DE 1984

Capa: Ovo e vôo -; O campeonato brasileiro de ornitologia de 84; Nova constituição da ABOA ; Aves silvestres e a nova portaria do IBDF; O periquito ondulado e suas mutações –

Pág.2: É possível alimentar pássaros somente com ração?; A semente de colza ; Rações mais apetitosas; Pombo correio

Pág.4: Rápidas

Atentem que a edição é de NOVEMBRO/DEZEMBRO DE 1984, e para os que não adquiriram ainda o AO em formato de CD que reúne as edições antigas, transcrevo a matéria abaixo:

“É possível alimentar pássaros somente com ração?

Prof. Giorgio de Baseggio – Itália

Na Itália (e na Europa) só as espécies de pássaros insetívoros são alimentados só exclusivamente com ração (também alguns criadores acrescentam fatias de frutas, verduras etc., para completar a ração); poucos são os criadores de canários e de pássaros granívoros que alimentam exclusivamente com ração, também penso que canários de cor e raças de canários mais robustos (por exemplo, Border) possam, por longos períodos, adaptarem-se a uma ração sem sementes (a nível industrial), com complementação de “grit” (areia) que facilita a utilização da ração de grânulos peletizados.

Concluindo, atualmente acho que: uma alimentação exclusiva de grânulos peletizados, balanceada, tipo RAFF (N. do T. produto comercializado na Europa), pode ser boa para os canários de cor e de raças resistentes e por longo período (com intervalos de curtos períodos com uso de mistura de sementes), complementada sempre de “grit” silício. Entretanto, para raças de canários de mais valor e delicados não creio que se possa administrar por longo tempo esta ração de: mistura de sementes, ração de grânulos peletizados com 22% de proteínas (durante a criação de filhotes) ou com 18% de proteínas (normalmente), ou com 20% de proteínas digerível (durante a muda) na ração (os grânulos peletizados têm a vantagem de resistir depois de preparado, sendo as vitaminas e gorduras “protegidas” das alterações atmosféricas: luz, umidade, oxigênio do ar) + grit + verduras + osso de Siba + carvão vegetal, podem dar uma alimentação completa aos canários (por consegüinte abolir a ração normal ou industrial). A tarefa é, pois, habituar os canários aos “grânulos peletizados”.

Mais uma “canja”,desta mesma edição:

“Rações mais apetitosas

Mário di Natale – Itália

A apeticibilidade é sempre relativa – Atenção: a pouca apeticibilidade das farinhas vegetais por parte dos canários é puramente relativa. Nós damos de cara com uma espécie de animal que, por séculos, também no estado silvestre, se alimentava de sementes. Administrar um alimento farináceo, diferente da semente comum, por ser de melhor valor nutritivo, no passado, é de pouco agrado para o instinto natural da parte do canário. Se este é, porém, habituado criteriosamente a um novo regime alimentar, sempre de acordo às suas exigências nutritivas e às suas características fisiológicas, continuará a viver sem sofrer nenhum trauma e melhorará suas condições de vida se a inovação oferecer melhores valores nutritivos à alimentação.”

21 anos. Somada às rações peletizadas e às farinhadas, afora as tradicionais sementes, vieram se somar as extruzadas.

A pergunta do articulista italiano ainda é atual.

Nos humanos a dieta das proteínas se alternam com a dos carboidratos que se alternam com a, com a, com a, com a da moda atual.

O mais incauto diz que a cor é prejudicial pois é utilizado um corante artificial. Ts, ts, esse é o aspecto menos preocupante, pois são utilizados corantes alimentícios, de propriedades inertes, a não ser obviamente quanto á coloração. E desprezar a importância das cores e das variedades é ir contra a primavera, época em que a natureza se encarrega de “aprontar” todo o reino alado para a reprodução, com sua profusão de cores e sabores, além da fartura que tranqüiliza os papais e mamães.

Em uma conversa recente com uma “rodinha” de criadores, conseguimos, ufa!, chegar a um consenso: Temos que respeitar a individualidade, o dispêndio de energia na reprodução ou competição ou a menor mobilidade dos destinados apenas a canto .

Galinha caipira ou frango de granja? Aos primeiros, além da variedade, não raro verduras e legumes frescos são ofertados. Aos segundos? Ração e…. não vou indagar da preferêcnia do ponto de vista gastronômico, mas soltando os dois juntos: – Qual apresenta a maior vivacidade, maior resistência e longevidade? Ei, se esqueçam da panela..

Conversando com um criador de bicudos, este se queixava de que uma de suas fêmeas não comia larva (tenebria molitor). Com certeza não era a mim a primeira vez que se dirigia com esta dúvida. Deve ter ouvido “dicas” do tipo: Tire tudo, deixe só as larvas. Perguntei a ele se esta fêmea já tinha lhe dado filhotes. Respondeu-me positivamente. Perguntei se os filhotes estavam bem. – São as melhores ninhadas, disse ele. Aí não resisti: E por que quer mudar o que está dando certo?

É possível alimentar pássaros somente com ração?

É preciso mudar o que está dando certo?

Vamos montar uma pirâmide alimentar para os penosos? Cá, bem cá entre nós: A alegria deles quando servidos de um alimento fresquinho é contagiante, não é mesmo?

Escrito por Rogério Fujiura, em 18/3/2006

Saber Criar nós Sabemos. Agora,

É muita pressão

Vejam abaixo artigo publicado na Revista AO n. 129 que saiu no início mar/2006

Aloísio Pacini Tostes – Ribeirão Preto SP

Dezenas de milhares de passeriformes nativos estão sendo produzidos por todo o Brasil em criadouros registrados. É motivo de orgulho para nós que estamos envolvidos em todo o contexto. Provamos que estamos aptos e que correspondemos a confiança depositada pelas autoridades públicas. Os criadouros ai estão e existe fartura de filhotes, cada vez de qualidade melhor. Bicudos e curiós, na realidade podem ser espécies em extinção, exclusivamente na natureza por que não se consegue preservar seus habitats, uma atribuição indelegável do governo, pois a população dessas aves aumenta a cada ano nos criadouros domésticos. Nesse importante mister, o IBAMA poderá seguramente contar conosco para os re-povoamentos, basta ocorrerem os investimentos oficiais indispensáveis. Agora, como tem sido complicado e penoso buscar energia para continuar trabalhando com tranqüilidade para avançarmos no sentido de melhorar os procedimentos e otimizar a produtividade. Não deveria ser assim, pois aqui no Brasil, estamos dando exemplo para o mundo produzindo espécies nativas, em larga escala, para atender a demanda, que é grande, sem que haja necessidade de retirada na natureza. Ao contrário de muitos outros países que estabelecem cotas para captura, depois as legalizam para a venda, inclusive para exportação auferindo lucros com a depredação. No tocante à regulamentação brasileira, temos a Lei 5.197 que diz, em seu item 6B, que o Poder Público deverá estimular a implantação de criadouros. Lógico, o fundamento da legislação é que, a atividade deverá gerar vidas, empregos e riquezas, utilizando de forma sustentada um recurso natural que no fim trará uma efetiva preservação das espécies envolvidas. Podemos assegurar que é isso que está acontecendo e aumentando de forma gradativa, e melhor, para muitos pássaros, não estamos mais precisando de animais silvestres para montar plantel matrizeiro, utilizamos apenas pássaros domésticos. Não há interesse porque há uma crescente seleção genética na busca da perfeição e indivíduos que não sabe a origem não servem para a reprodução. O que temos sentido, então, é que o espírito da Lei não está sendo seguido, as imposições são muitas e as incompreensões são maiores ainda. Não temos visto, nem sentido, ações de incentivo, pelo contrário, o que tem ocorrido é o desestímulo crescente. Será que alguém supõe que a Lei só vale para quem produzir animais para o abate, para serem consumidos ou comidos, ora o nosso segmento produz aves para serem preservadas, admiradas e amadas por aqueles que assim desejarem e legitimamente produzidas em ambientes domésticos. De um lado e de outro, a mídia por exemplo, só divulga trafico, porque não analisa todos os ângulos da notícia, se preocupa, apenas, em causar impacto na opinião pública, para poder vender seus anúncios. Falar em morte, bandidos, traficantes, infelizmente dá audiência é isto que importa para eles. Quando estivemos como convidados na Câmara Federal, saímos de lá decepcionados, queríamos falar sobre a atividade, explicar como fazer e o lado positivo da criação e da efetiva preservação das espécies envolvidas, mas o assunto que valia era o tráfico, falar disso nunca foi nossa praia, nem sabemos como, é assunto de polícia, da falta de educação de nosso povo, da miséria e da consciência das pessoas. Aí, vem mais essa, a Gripe das Aves, é de doer tanto alarmismo espalhando o pânico, e pior a gente tem que acreditar que um gato comeu um cisne lá na Alemanha e morreu contaminado pelo vírus, vamos agora eliminar os gatos, é preciso. Na Europa não entra mais aves, óbvio que só as legais com origem comprovada, nem com quarentena, o tráfico continua deitando e rolando. Já vai acontecer por aqui, na América, uma andorinha morta em um vendaval será acusada de estar contaminada com o vírus e de ter estado em contato com um cisne negro lá no norte, e assim por diante. Não pode isso, não pode aquilo, tem que apresentar relatório disso e daquilo, são muitas as exigências em cima dos criadores que só querem criar os passarinhos com tranqüilidade necessária. Porque criar e saber criar, nós sabemos e muito bem, agora suportar toda essa pressão está se tornando insuportável. lagopas@terra.com.br

Escrito por Aloísio Pacini Tostes, em 11/3/2006