O enigma do aprendizado

Canto

Se o criador amigo observar bem, vai notar que:

Quando usamos o curio apenas para galar, a fêmea, nas madrugadas, cantam na beira do ninho fazendo o papel do pai, e os filhotes acabam assimilando o seu canto. Isto ocorre com a maioria das fêmeas mais fogosas, e de boa qualidade, produto da seleção natural que o próprio criador faz. Eu já adquiri filhotes de bons criatórios, com trinta dias de nascido, levei para casa, criei com carinho em ambiente propicio com equipamento de som profissional, e o filhote veio abrindo o arremate. No mato, o macho fica no galho próximo ao ninho, cantando para os seus filhotes.

Antigamente, se caçavam quase a totalidade dos filhotes, e alguns aprendiam. Por mais novo que seja o filhote caçado, tinha no mínimo dois a três meses de idade, três meses ouvindo o pai cantar e mesmo assim, com uma vitrola com uma mola retornando o braço que o sr. Ildo da Penha fabricava, alguns filhotes aprendiam. Outros provindos do nosso nordeste, quase nunca aprendiam a cantar.

Realmente os curiós de algumas regiões tem a tendência no sangue a aprender um determinado canto. O tipo de canto, totalmente diferente como o do praia grande, faz com que tenham uma certa dificuldade no aprendizado. Eu comprei uns curiós do finado Raimundo Reis da Bahia, filho do Mossoró, e não consegui encartar a contento o canto praia em seus filhotes. Na primeira vez que ouve o canto regional do nordeste, volta ao canto de seu pai. Basta deixar um dia ouvindo o curio pai cantar, que esquece todo o aprendizado de meses e as vezes, de anos. Mesmo a mistura destes com o curio praia, a tendência é prevalecer o sangue mais forte. A mistura do japonês ou negro com qualquer outra descendência, a tendência é nascerem filhos com traços típicos pois são raças tradicionalmente mais fortes, por serem milenares.

Sempre se falou em curio inteligente, cabeça mole e etc, aos filhotes que aprendem a cantar aquilo que apresentamos. O fruto da seleção genética tem contribuído para que cada vez saiam mais filhotes cantando o praia grande clássico. A linha soberano é uma delas. O índice de aprendizado é muito grande, mas dificilmente encontramos curiós desta linhagem, cantando correto por muito tempo. O próprio Junichi e Julio, grandes conhecedores da raça e canto, juizes de curio em sampa, afirmam que o curió é pássaro para 4 a 5 anos, porque depois vão perdendo notas. A persistência na genética de pais com canto praia é importante, para desfazer esta afirmativa, pois seus filhotes tem a tendência, cada vez mais, a não esquecer e gravar para sempre as notas. A grande dificuldade está no fato de muitos criam dado a facilidade de criar, farinhadas que se encontram em cada esquina e etc, mas a grande maioria não conhece com perfeição as notas que o curio deve dar, o timbre de voz desejado e etc, e como resultado, vemos poucos curiós aproveitaveis nos torneios. Os criadores de curiós com cantos regionais, com certeza levam uma vantagem imensa. Na época em que o curio Sorocaba e Piracicaba, eram valorizados, este problema não existia.

Mesmo no nordeste, Maranhão mais especificamente, já notei curió repetidor com canto regional muito semelhante ao nosso praia grande clássico, com uma nota muito próximo ao samaritá e os seus filhotes encartam o canto praia grande com facilidade. Isto eu vi solto no mato. Na Bahia, numa região se não me falha a memória, denominado Nazareth das Farinhas da Ladeira, uma cidade histórica pelos folclores, eu pessoalmente presenciei curiós com o canto muito semelhante ao praia grande.

Então, eu concluo que os curiós de sangue forte, que por milênios ouviram e entoaram a mesma melodia, e canto original ainda por cima, como o vitetel do nordeste, que tem o canto original e não artificial como o praia grande, pela própria facilidade das notas, tem tendência a se impor Outros, por um motivo ou outro, o filhote deve ter ouvido um determinado canto mais fácil de ser assimilado acaba partindo para o obvio.

Há que salientar que tudo na vida há exceções. Mesmo o ser humano tem tendência a falar errado, pela própria facilidade e dificuldade da língua portuguesa. Quantos podem se gabar de usar o português correto e clássico, sem gírias ou termos incorretos ou inapropriados? Eu tiro por mim, descendente de orientais, nascido no Brasil, que tenho uma dificuldade natural no aprendizado da lingua portuguesa, coisa que não acontece com a língua japonesa. Quando sou convidado a fazer um discurso em português, tenho que dar uma preparada, e pensada, mas quando em japonês, as palavras fluem naturalmente. Faço discursos sem a necessidade de preparar nada antecipadamente.

Embora o Isair afirme que os filhotes só aprendam a cantar após três dias de nascido, eu discordo. A primeira fêmea que eu tive em 1954, foi galada por um curio do vizinho próximo. Era um praia grande, caçado na região de Pedro de Barros que dava inclusive o Kim Kim, mas que tinha assimilado algumas notas de outro passaro. O vizinho vendeu o curio, quando a fêmea estava no último dia do choco, e o novo proprietário levou para local distante, desconhecido. Os filhotes vieram cantando exatamente o canto do pai, com o defeito e tudo, embora nunca tenha ouvido após o nascimento. Quantos e quantos criadores não possuem exemplos similares? A fêmea foi caçado na região de Parelheiros, na época era permitido, de canto origem santo amaro, conhecido pelos antigos de curio bico de machado, que em nada se assemelha ao praia grande. Era uma curiola de porte majestoso, bico enorme como o bicudo. Muitos falam que os pássaros aprendem no ovo. Eu conheço um senhor de nome Arlindo, na região de Parelheiros, que era caçador de curiós Santo Amaro. Quando a fêmea estava chocando, o mesmo caçou o pai, e os filhotes vieram com o mesmo canto do pai, embora na região não existisse mais curios.

Por enquanto a criação de curiós é um mistério. Não é uma ciência exata. Ao contrario do bicudo do norte, que, se desvirtua um pouco o canto, numa muda de penas, é possível fazer retornar ao canto original, com o curio o mesmo salvo raríssimas excessões isto não acontece, talvez por ter um canto quase que totalmente artificial. 0s criadores de bicudo levam uma grande vantagem neste aspecto.

Escrito por Katsuhito Wada, em 2/9/2003

 

A Importância do Canto Florianópolis

Canto Florianópolis

Jornal Curiódromo da SAC de Florianópolis em sua edição n. 5 – set/out 2002 – pelo Jornalista Ivonei José Fazzioni. Agradecimento ao Presidente Joselito Altair Soares.

TOSTES: “Preservar o canto Florianópolis é questão de consciência e visão de futuro”

Um dos maiores criadores de pássaros canoros do país, Aloísio Pacini Tostes, proferiu palestra na SAC, na qual elogiou a iniciativa dos criadores e aficcionados locais na preservação do canto Florianópolis. “Não podemos perder as características locais dos cantos de curió”, afirmou, salientando que o trabalho desenvolvido em Santa Catarina no cultivo de um dos mais belos cantos regionais é uma demonstração “de consciência, visão de futuro e evolução”.

Tostes ressaltou a beleza do canto Florianópolis. “Há alteada lindíssima e rara. É uma das mais belas notas do Brasil”, afirmou, ao apresentar o sonograma de diversos cantos de curiós de todo o país e realizar uma análise detalhada de cada um. Retendo-se na análise do canto Florianópolis, Tostes demonstrou o trecho que considera mais bonito no canto. “É uma nota que está num tom baixo e sobe duas vezes, dando toda a beleza a essa alteada”, afirma.

Cuidados especiais – Proprietário de criadouro em Bonfim Paulista na região de Ribeirão Preto que detém 700 pássaros entre adultos e filhotes de curiós, bicudos e canários da terra, Aloísio falou também a respeito dos cuidados que recomenda aos criadores. “É preciso dar condições saudáveis à criação dos pássaros, evitando situações de stress, barulho excessivo e umidade”. Ele aconselhou também cuidados para que o próprio criador não se sobrecarregue nos cuidados, racionalizando o manejo, em busca da menor relação custo-benefício. “É fundamental a escolha de matrizes de boa qualidade”. Ele também se disse adepto da utilização de alimentos industrializados, que permite uma dieta mais balanceada. Aos criadores que preferem oferecer alimentos in natura aos pássaros, Tostes lembra das dificuldades em garantir a qualidade e o correto balanceamento da alimentação. “Quem pode garantir qual a origem, a qualidade, existência de agrotóxicos, a quantidade correta de cada alimento?” Por isso, disse que prefere alimentar sua criação com alimentos como ovo em pó esterilizado. Por outro lado, salientou ainda que alimentos em in natura levam os pássaros a fazer muito mais sujeira, exigindo mais limpeza. É o motivo que o leva a fornecer farinha de minhoca e não a própria minhoca. “Dou uma alimentação com bastante proteínas sem que haja muita sujeira no criadouro”. Para ele, a criação de pássaros não pode se tornar um peso para o aficcionado.

Mesmo assim, sugere cuidados especiais que evitem a contaminação dos pássaros com doenças. “A comida úmida pode produzir fungos que deixam os pássaros doentes”. Por isso, recomenda, não se deve colocar muita comida no final de tarde, para que ela não fique úmida até a manhã seguinte.

Tostes aconselha ainda muitos cuidados com as mudanças bruscas de temperatura, condição que se agrava no Sul do Brasil e, em particular em Santa Catarina. “A temperatura pode estar em 32 graus e, em poucas horas, cair para 12 ou 13 graus; essa mudança abrupta reduz a resistência das aves, constituindo-se na maior causa de morte de filhotes no país”, afirmou:

Escrito por Ivonei J. Fazzioni, em 2/9/2003